Chocolate amargo

MEC diz repudiar violência após discussão de Weintraub com manifestantes

Vaiado pela maior parte dos que estavam jantando nos restaurantes com mesas na calçada, o ministro acabou atraindo mais manifestantes além dos ativistas do Engajamundo

O Ministério da Educação divulgou nota, nesta terça-feira (23), após o bate-boca entre o ministro Abraham Weintraub e manifestantes na noite de segunda-feira, em Alter do Chão, no Pará, onde passa férias com a família.

De acordo com a nota, o MEC “repudia os lamentáveis atos de violência sofridos pela pessoa do ministro da Educação, Abraham Weintraub, e seus familiares. O ministro, que está de férias, jantava com a esposa e seus três filhos (9, 12 e 13 anos de idade) na cidade de Alter do Chão, no Pará, quando foi hostilizado por manifestantes que o constrangeram em praça pública.”

O ministro foi abordado por ativistas do Engajamundo, uma rede de jovens organizados pelo Brasil. O grupo entregou a ele uma kafta, referência irônica ao episódio no qual ele errou a pronúncia do sobrenome do celebrado escritor Franz Kafka, chamando-o pelo nome da iguaria árabe.

O cartaz que uma manifestante segurava fazia referência também a outras polêmicas envolvendo Weintraub, como o anúncio de corte de verbas de três universidades por “balbúrdia” e a tentativa do ministro de explicar com chocolates o contingenciamento estendido a todas as federais.

Weintraub reagiu. Pegou o microfone de músicos que faziam uma apresentação no local e disse que estava de férias com a família. Depois, disparou críticas contra o PT, Lula e até Che Guevara. A um dos manifestantes, indígena, o ministro disse “não é porque você está com um cocar que você é mais brasileiro do que eu, seu babaca”.

Diz o comunicado do MEC: “O grupo, que se identificou como representante da comunidade indígena, alegou que não havia sido recebido pelo ministério. No entanto, no dia 5 de junho representantes de lideranças indígenas e quilombolas foram recebidos na sede do MEC, em Brasília.”

A pasta afirma que abriu mais de 4.000 bolsas de estudo para indígenas e quilombolas matriculados em cursos de graduação em instituições e universidades federais, entre outras iniciativas.

“Entretanto, o ministério reitera que não há justificativa plausível para um ataque desta natureza a um brasileiro e seus familiares”, finaliza o comunicado do MEC.

Vaiado pela maior parte dos que estavam jantando nos restaurantes com mesas na calçada, o ministro acabou atraindo mais manifestantes além dos ativistas do Engajamundo. Alguns chegaram perto e bateram boca com ele e a sua mulher, que saiu da mesa para defendê-lo, aos gritos.

Após a discussão, o ministro foi convencido pela família a sair e deixa o local sob gritos de “fazendo balbúrdia” e “fascista”.

BALBÚRDIA E CHOCOLATE

Em abril, o ministro causou polêmica ao afirmar que o MEC cortaria verbas de três universidades federais com base em princípios ideológicos.

O bloqueio de 30% seria praticado para a UnB, Ufba e UFF. O ministro indicou, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, que se tratava de uma retaliação a atividades políticas ocorridas dentro dessas unidades, o que ele havia chamado de “balbúrdia”, e ao que considerou como fraco rendimento acadêmico.

“A universidade deve estar com sobra de dinheiro para fazer bagunça e evento ridículo”, disse ele, dando como exemplo de bagunça a presença de sem-terra e “gente pelada” dentro do campus. “A lição de casa precisa estar feita: publicação científica, avaliações em dia, estar bem no ranking”, completou.

Apesar de alegar que essas federais teriam fracos resultados acadêmicos, essa afirmação não é confirmada pelos indicadores.

As três federais ficaram entre as 20 melhores universidades do país na última edição do RUF (Ranking Universitário Folha). Segundo a plataforma de produção acadêmica Web of Science, as três estão entre as 11 instituições brasileiras que mais ampliaram o número de artigos de 2008 a 2017.

Após uma onda de críticas, o governo Jair Bolsonaro (PSL) resolveu estender o bloqueio de 30% dos recursos a todas as universidades federais.

No início de maio, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) fez uma transmissão ao vivo pelas redes sociais. O presidente convidou o ministro para explicar os cortes das universidades federais.

“Deu uma certa polêmica aí, mas ele vai explicar”, disse Bolsonaro.  Sentado ao lado do presidente, Weintraub usou quatro caixas de chocolates para fazer uma analogia ao corte de verba. No total, elas somavam cem bombons.

Para sustentar a argumentação de que o governo não está fazendo corte, mas contingenciando os recursos, ele reservou parte dos chocolates e disse que eles devem ser guardados para serem comidos depois.

“A gente não está falando pra pessoa que a gente vai cortar. Não está cortado. Deixa pra comer depois de setembro. É só isso que a gente está pedindo. Isso é segurar um pouco. Agora eu me pergunto, senhor presidente, o senhor já passou por uma situação dessa? Um imprevisto, uma dificuldade na vida, e falou assim: segura um pouco. Se alguém falasse assim, três chocolatinhos e meio, 3,5% dos 100, 3,5% segura, porque o salário está integralmente preservado e pago no dia. A gente tem todo auxílio aos alunos pago, e agora ficam espalhando que a gente está fechando tudo”, disse.

Ao ver que Weintraub abria o quarto chocolate para produzir o meio ponto percentual de sua analogia, Bolsonaro esticou a mão e comeu a porção que ficava de fora da conta.

“Tá bom o chocolate?”, perguntou o ministro ao presidente ao terminar sua explanação. “Tá excelente”, respondeu Bolsonaro, “vou até confiscar alguns de você, tá ok?”.

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