Médica relata trauma após abuso da polícia no Hetrin: ‘Não estou dormindo direito’
"Quando vou trabalhar sinto medo, medo de passar por algo parecido novamente"
Com Inglid Martins
A médica que denunciou suposto abuso de autoridade sofrido no Hospital Estadual de Trindade (Hetrin) por policiais civis, na última segunda-feira (18), relatou ao Mais Goiás que está traumatizada. “Fiquei e ainda estou muito ansiosa. Não estou dormindo direito após o ocorrido e, quando vou trabalhar, sinto medo, medo de passar por algo parecido novamente”, disse a profissional, que pediu para não ser identificada.
Ainda conforme a profissional, ela nunca tinha vivido algo parecido. Ela diz, todavia, que já tinha ouvido relatos de colegas sobre como os policiais tratam os médicos, “geralmente com imposição e falta de respeito”. A médica confessou, também, que se sentiu “envergonhada e humilhada” e que irá acionar a Justiça contra o Estado. Ela chegou a ser presa. “Ser levada na frente dos pacientes e colegas de trabalho foi um constrangimento enorme.”
Segundo ela, o hospital estava cheio, com cerca de 40 pacientes esperando atendimento. Além disso, “tinham 30 reavaliações para fazer e a sala vermelha estava cheia”. “Nós éramos 3 médicos, cada um responsável por uma coisa. Eu estava responsável pelos novos atendimentos e por todas as reavaliações. Então, ao me levarem, atrasaram o andamento do plantão, atrasaram atendimentos e deixaram muitas pessoas desassistidas”, relatou ao Mais Goiás.
Questionada sobre como se sentiu ao ser acusada de desacato, ela disse que, naquele momento, ficou muito abalada e não conseguiu pensar direito. “Sabia que não havia desacatado ninguém, então estava com a consciência tranquila.”
Caso no Hetrin
A médica foi presa no Hetrin durante seu plantão, na segunda-feira. Depois da prisão, a profissional denunciou o caso como abuso de autoridade. Segundo ela, a situação ocorreu por questionar a postura de policiais civis que, acompanhados de um detento, exigiram atendimento prioritário para a realização de um exame de corpo de delito no hospital.
Conforme o Cremego, o conselho “vai apurar em caráter de urgência se houve falha na conduta ética da profissional, mas desde já repudia e lamenta como os policiais agiram, desrespeitando e coagindo a médica em seu trabalho, desrespeitando o paciente cujo atendimento estava sendo finalizado quando entraram no consultório e efetuando uma prisão arbitrária”.
Disse, ainda, esperar que o governador e médico Ronaldo Caiado (União Brasil), “que tanto preza pela segurança pública em Goiás, e que as autoridades policiais e de segurança também apurem o fato de forma rígida”. Já a Polícia Civil declarou, em nota, que o caso será investigado pela Corregedoria.
Depoimento
Segundo o depoimento da médica, os agentes entraram no consultório sem serem chamados, interrompendo o atendimento de outro paciente. Ao pedir que aguardassem a vez, um dos policiais teria reagido de forma agressiva, gritando com a mão no coldre da arma.
A profissional afirmou que concluiu o exame solicitado por volta das 20h40, mas, cerca de 20 minutos depois, os policiais retornaram ao consultório. Na ocasião, começaram a filmá-la e deram voz de prisão em flagrante por desacato, alegando que ela deveria acompanhá-los imediatamente. Conforme seu relato, o hospital estava cheio, com aproximadamente 40 pacientes esperando atendimento, além de casos graves na sala de emergência. Mesmo assim, os agentes insistiram em levá-la, deixando a unidade sem médico disponível.
Em nota, o Hetrin lamentou o ocorrido, informou que colabora com as investigações e destacou seu compromisso com o atendimento à população e o apoio aos profissionais da saúde. Já a defesa da médica anunciou que medidas legais serão tomadas contra o Estado, buscando reparação por danos morais e defendendo a inocência de sua cliente.
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