MORREU ENQUANTO DORMIA

Médico de 95 anos que seria o 1° vacinado em cidade da BA morre horas antes

Segundo familiares, o médico morreu em casa, enquanto dormia. A causa do óbito não foi divulgada

Um médico de 95 anos morreu na madrugada de hoje, dia do início da campanha de vacinação contra a covid-19 na cidade de Mutuípe, na Bahia. Divaldo Brandão, também conhecido como Dr. Divaldo, seria o primeiro morador do município a receber a imunização na etapa que contemplará apenas profissionais de saúde.

Segundo familiares, o médico morreu em casa, enquanto dormia. A causa do óbito não foi divulgada.

O corpo de Dr. Divaldo foi velado pela manhã na Câmara de Vereadores do município e sepultado por volta das 17h em um cemitério de Salvador. Com a morte do médico, uma técnica de enfermagem foi a primeira pessoa a ser vacinada contra o novo coronavírus na cidade.

Em nota de pesar, a Prefeitura de Mutuípe lamentou a morte de Brandão, o primeiro médico do município desde 1952. Naquele ano, ele comandou no posto de saúde uma campanha de vacinação contra um surto de febre tifoide na região.

“É com pesar que a Prefeitura Municipal de Mutuípe comunica o falecimento do servidor Divaldo Brandão (20/01/21). A passagem de Drº Divaldo, um verdadeiro líder, um exemplo ativo na construção de Mutuípe, um homem que se dedicou por muitos anos a salvar vidas, deixa um legado de alegrias com seu sorriso sempre contagiante. Um profissional de excelência. Aos familiares e amigos os nossos profundos sentimentos e o desejo de que seus bons exemplos estejam sempre vivos em nossa memória”, diz o comunicado.

Em uma rede social, Silvia Brandão, filha do médico, relatou que foi procurada ontem pela administração municipal, a quem agradeceu pela iniciativa de homenageá-lo.

“Queriam saber se eu consentiria que ele fosse o primeiro a ser vacinado contra a covid-19 no município. Bastante emblemático este fato. Considerei muito merecida a homenagem, inclusive como incentivo e exemplo para todos que o conhecem e respeitam”, escreveu.

“Sentimo-nos muito honrados, seus filhos, netos, bisnetos e tataranetos e agradecidos pela homenagem que hoje prestariam ao meu velho.”

“Pau para toda obra”

Nascido em Salvador, Divaldo Brandão formou-se em medicina em 1951, na UFBA (Universidade Federal da Bahia). Um ano depois, mudou-se para Mutuípe, onde atuou como clínico geral. “Certa vez me contou que queria ser Pediatra. Terminou sendo ‘interiorologista’, generalista, um ‘pau para toda obra’, escreveu ela.

Entre as dificuldades enfrentadas no início da empreitada, Silvia diz que o pai precisava atravessar a baía de Todos-os-Santos para se deslocar até o interior.

“Pegava-se um navio de Salvador a São Roque do Paraguaçu e depois um trem para chegar a Mutuípe. Muitas horas de viagem. Branda nunca havia morado no interior. Era rapaz da cidade grande, namorador e festeiro. Por isso, os colegas e parentes apostavam que ele não iria demorar a voltar. Ledo engano. Mutuípe conquistou o coração do médico”, detalha ela, que compartilhou um informativo anunciando a chegada do jovem médico na cidade.

Ainda de acordo com a filha, para atender aos pacientes na zona rural, Dr. Brandão utilizou por muitos anos o “lombo de cavalo” como meio de transporte. “Enfrentou momentos de extrema angústia e dificuldade. Partos difíceis, crianças desnutridas, traumas, ferimentos profundos, doenças tropicais com doentes graves acometidos por tifo, esquistossomose, doença de chagas, varíola e tantas outras tormentas”, conta.

Silvia diz lamentar que a idade avançada o impedisse de exercer a sua “missão”. “Meu velho partiu para os braços do Criador. Vai em direção à Luz porque é o lugar onde ele merece estar”, publicou.

Ao todo, Mutuípe soma dez mortes decorrentes da covid-19 e 776 casos da doença confirmados.