EPILEPSIA E AUTISMO

Médico poderá cultivar maconha em casa para tratar filho de 12 anos

Aos cinco anos, Benício começou a fazer uso do óleo extraído da planta. Depois disso, as convulsões passaram a ocorrer em média duas vezes ao mês

Benício chegou a sofrer até 60 convulsões por mês. Hoje, são apenas duas, e ele consegue frequentar a escola. Esse é um dos benefícios que o garoto de 12 anos conquistou quando começou a fazer uso do óleo extraído da maconha para tratar a epilepsia refratária e o autismo severo. Agora, o pai dele conseguiu na Justiça o direito de cultivar a Cannabis em casa para fins medicinais.

O adolescente mora em Belo Horizonte e é filho de Leandro Cruz Ramires da Silva, mastologista, cirurgião oncológico e presidente da Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal (Ama+me). Fundada em 2014 para dar suporte a famílias que se beneficiam do produto para tratar doenças variadas, a entidade possui mais de 700 associados em vários estados.

Com a decisão judicial em caráter liminar do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, as polícias militar e civil em Minas Gerais serão comunicadas a respeito da plantação que Leandro terá em casa e que não poderá sofrer nenhum tipo de sanção.

Devido à sua condição, o menino ainda tem dificuldades para se comunicar e interagir, mas o quadro já foi muito pior. O pai se lembra dos vários anos em que Benício fazia uso de uma grande quantidade de medicamentos. Era necessário tomar 23 comprimidos por dia para atacar a epilepsia refratária, cujo controle com remédios é mais difícil.

“Foi muito ruim para vida dele. Esses medicamentos têm uma carga muito grande de efeitos colaterais”, conta o pai.

O garoto teve alterações de enzimas e problemas na dentição e na gengiva. Foi 14 vezes para o CTI (Centro de Terapia Intensiva), dos cinco meses aos cinco anos de idade. E a alta carga de medicamentos não impediu que tivesse até 60 convulsões por mês.

A capacidade de aprendizado ficou extremamente comprometida. “Mesmo que não convulsionasse, ele estava tão dopado que não conseguia aprender”, diz Leandro.

O início do tratamento aos 5 anos

Aos cinco anos, Benício começou a fazer uso do óleo extraído da planta. Depois disso, as convulsões passaram a ocorrer em média duas vezes ao mês.

“As convulsões antigamente não iam embora. Ele não tinha a menor condição de frequentar escola, e hoje ele frequenta”, lembra Leandro. Desde a década de 1980, ainda estudante de medicina, ele já ouvia falar dos benefícios da Cannabis para diversos males.

Medicamento custa R$ 2.500 na farmácia

O cultivo ainda será iniciado e deve levar no mínimo seis meses para a planta crescer e só então passar a ser utilizada. Os gastos com o tratamento do filho devem reduzir bastante, já que nas farmácias o medicamento sai por, no mínimo, R$ 2.500 o frasco. Como a criança toma 3 ml por dia do óleo, não dura mais do que um mês, conta o médico.

O pai de Benício diz que, por estudar o assunto há anos e fazer parte da Associação de Pacientes de Cannabis Medicinal, tem conhecimento de como plantar e cultivar em casa, mas terá apoio de profissionais especializados, como biólogos.

“O que a gente quer é desenvolver uma padronização, e outros habeas corpus podem ir no mesmo caminho. Estamos tentando produzir isso para o Brasil, de modo que seja justo. Essa decisão foi mais uma ferramenta para tentar democratizar para todo mundo que precisa.”

A vitória na Justiça permitindo cultivar a planta em casa é parcial para a Ama+me, que aguarda julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade 5708, ajuizada em conjunto com o PPS (Partido Popular Socialista) para não tornar mais crimes os atos de plantar, cultivar, colher, guardar, transportar, prescrever, ministrar e adquirir a cannabis para fins medicinais e de bem-estar terapêutico. A relatora é a ministra Rosa Weber.