Médico tenta convencer pacientes a votar em Bolsonaro distribuindo canetas do candidato, em Rio Verde
Gustavo Baiocchi expôs dados de paciente em um grupo de WhatsApp
Nesta sexta-feira (28), um paciente de 83 anos teve dados pessoais, foto de rosto e estado de saúde expostos por um médico bolsonarista em um grupo de WhatsApp. O caso aconteceu em Rio Verde. O cardiologista Gustavo Baiocchi também publicou no grupo, composto por 214 médicos, uma foto de uma caneta que distribui a seus pacientes, com a frase “Jair Bolsonaro presidente 2022“.
“São agraciados com essa caneta. Sigo tentando até as últimas horas virar votos! Posto aqui apenas pra que se inflamem a fazer algo parecido pra depois não olhar pra trás e ficar aquela sensação que poderia ter feito algo”, escreveu.
Ainda no grupo, Baiocchi comemorou com os colegas que convenceu o homem, no consultório, a votar no atual presidente. Segundo o cardiologista, antes da consulta, o idoso teria dito que não votaria no segundo turno.
Baiocchi compartilhou um vídeo em que que exibe a tela de computador com foto, nome completo, filiação, data de nascimento, CPF, RG, endereço e profissão do paciente.
“Esse cidadão aqui falou que não iria votar, não. Eu falei para ele: ‘Ó, nunca pedi favor nenhum para ninguém, mas para o senhor eu queria pedir. Vota’. Ele falou que vai votar”, disse.
O médico pediu aos colegas que não tenham vergonha e disse jamais ter imaginado que postaria política em chats.
“Mas não quero que meus filhos leiam cartilhas comunas. Não quero que compartilhem banheiros com sexo oposto. Não quero que enxerguem que a desonestidade valha a pena. Prezemos a moral e os bons costumes”, escreveu.
Uma sobrinha do idoso disse que, às 13h19 de sexta, o médico enviou no WhatsApp um pedido de autorização para “divulgar o caso”, mas ela só viu a mensagem às 16h29. No entanto, Baiocchi expôs os dados do paciente antes, às 8h22.
O Mais Goiás entrou em contato com o cardiologista, mas até a publicação desta reportagem não obteve retorno. A Folha de São Paulo ligou para o médico e enviou um pedido de resposta no WhatsApp, mas também não recebeu resposta.
Violação de lei e código de ética
Representante da Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OAB-GO), Nycolle Soares disse que Gustavo Baiocchi violou a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o Código de Ética Médica.
Nycolle, que é presidente do Instituto Goiano de Direito Digital (IGDD) e integrante da Comissão de Direito da Saúde da OAB-GO, afirmou que o caso é grave.
“O compartilhamento dessas informações pode ocorrer de forma ilimitada, sem controle. Os dados podem ser usados por criminosos para cometer fraudes”, disse.
A divulgação no grupo do WhatsApp, segundo a OAB-GO, também viola o Código de Ética Médica.
Além disso, segundo a advogada, mesmo que a sobrinha do paciente tenha permitido o médico, a LGPD prevê que, em caso de dados sensíveis, deve haver termo específico que autorize a divulgação deles, incluindo quadro de saúde e manifestação política, por exemplo. “A divulgação disso em grupos de WhatsApp é até surreal”, afirmou.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) disse que desconhece as ações do médico, mas que vai apurar a conduta.
*Com informações da Folha de São Paulo