Trânsito

Medidas de trânsito para combater indústria da multa são alvo de críticas

A deputada federal paranaense Christiane Yared (PR) criticou o projeto de lei que altera normas do Código de Trânsito Brasileiro, enviado ao Congresso pelo presidente

Medidas de trânsito defendidas por Jair Bolsonaro foram alvo de críticas de participantes do 3º seminário Segurança no Trânsito, Mobilidade e Inovação, realizado em São Paulo nesta quarta-feira (26).

A deputada federal paranaense Christiane Yared (PR) criticou o projeto de lei que altera normas do Código de Trânsito Brasileiro, enviado ao Congresso pelo presidente. Ela considera a proposta uma “maneira fácil de prestar conta de uma promessa de campanha” de Bolsonaro.​

Yared, cujo partido é da base aliada do governo, avalia que a proposta não será aprovada pelo Congresso: “Tenho certeza que não passa, porque lá nós temos um número de parlamentares sensíveis a essa questão”.

Em 2009, seu filho de 26 anos foi morto pelo então deputado estadual Luiz Fernando Carli Filho, que dirigia embriagado a aproximadamente 170 km/h e atingiu o carro em que o filho da deputada estava com um amigo. Ela defende que, além de fiscalização e punição aos infratores, é preciso ampliar a educação para o trânsito no país.

“Essa luta não escapa a ninguém. Ou nós vamos aprender a conviver em sociedade, ensinar nossos filhos com educação para o trânsito, fiscalizar e punir aqueles que precisam ser punidos ou vamos ter uma colheita de sangue.”

Yared também se opôs à retirada de radares de rodovias federais, anunciada pelo presidente e suspensa pela Justiça Federal -ela considera que os radares são fundamentais no combate às infrações de trânsito.

Ivan Whately, diretor do Departamento de Engenharia de Mobilidade e Logística do Instituto de Engenharia, concorda. O técnico afirmou que as estradas são projetadas em função da velocidade máxima das vias, e que é fundamental ter mecanismos de fiscalização para garantir a segurança no trânsito.

“Não coloco em discussão se precisa ter ou não radar. Os radares têm que funcionar, isso é indiscutível. Não tem outra forma moderna de controlar a velocidade.”

Diumar Bueno, presidente da CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos), colocou em dúvida a eficiência e o custo da operação de radares e lombadas eletrônicas em estradas federais. Sem citar estudos, afirmou que os “pardais” não são a forma mais efetiva de diminuição de acidentes e mortes em estradas.

Levantamento da Folha de S.Paulo indica que, nos trechos de rodovias federais que receberam radares de velocidade, houve redução média de mortes de 21,7% e de 15% nos índices de acidentes.

Bueno criticou as variações de velocidades máximas em trechos curtos de estradas federais e a localização de parte dos radares -para o dirigente dos caminhoneiros, há muitos radares escondidos que funcionam como armadilhas, contribuindo para o que chamou de “satanização dos motoristas”.

Como possíveis alternativas para o controle de velocidade nas estradas, ele defendeu a instalação de tacógrafos em caminhões e a substituição de lombadas eletrônicas por lombadas tradicionais, instaladas no pavimento das estradas.

Apesar das críticas, o presidente da CNTA não defendeu a proposta de retirada de radares de Bolsonaro. “Não se trata de nós entrarmos no radicalismo de tirar todos os radares. Acho que precisa fazer uma varredura de avaliação dos pontos existentes, se realmente estão bem posicionados e se vão trazer resultados.”

Ivan Whately reconheceu que medidas adicionais, como o uso de tacógrafo, pode colaborar para a melhoria da segurança, mas lembrou que os sistemas eletrônicos são mais sofisticados. “O radar é indispensável”, afirmou.