Durante a pandemia

Medo do coronavírus aumenta, mas isolamento total diminui, mostra Datafolha

Proporção de pessoas que relatam ter muito medo é maior especialmente entre mulheres, os mais pobres, e moradores da região Nordeste

Imperial College mostra que cada cem pessoas infectadas podem contaminar 111 saudáveis

Os brasileiros têm cada vez mais medo de serem infectados pelo novo coronavírus, aponta pesquisa Datafolha. Ao mesmo tempo, no entanto, diminuiu a parcela dos que se dizem completamente isolados, sem sair de casa por motivo algum.

A última pesquisa Datafolha mostra que a parcela da população que disse ter muito medo do vírus chegou a 47% em junho, maior índice desde que a pergunta passou a ser feita, em março, quando 36% disseram temer muito a doença.

O medo aumentou junto com a explosão de mortes pela doença no país —em 20 de março, quando a pergunta foi feita pela primeira fez, o Brasil registrava 4 mortes pela Covid-19. Na noite deste segunda-feira (29), eram 58 mil vítimas no país.

A proporção de pessoas que relatam ter muito medo é maior especialmente entre mulheres (53%, contra 41% dos homens), mais pobres (51%, contra 36% entre os mais ricos) e moradores da região Nordeste (52%).

Apesar do medo crescente, diminuiu a proporção de pessoas que relataram sair de casa somente quando é inevitável. Esse índice foi de 18% no começo de abril, chegou a 21% no mesmo mês, mas caiu para 12%.

Parte dessa queda no isolamento total se dá num momento em que governadores e prefeitos começaram a relaxar o isolamento, como é o caso da cidade de São Paulo, autorizando a retomada do comércio, por exemplo.

A pesquisa Datafolha mostra, no entanto, que os mais pobres se isolam mais que os mais ricos. Entre os entrevistados com renda familiar de até dois salários mínimos, 14% relataram estar em isolamento total. Essa proporção cai conforme a renda aumenta, e chega a 8% entre os que têm renda mensal de mais de 10 salários.

O isolamento é considerada a medida mais efetiva para frear o avanço da Covid-19, uma vez que o coronavírus é transmitido quando se entra em contato com secreções contaminadas, como saliva, espirro ou catarro, seja diretamente (quando se conversa com alguém infectado, por exemplo), seja pelo toque em superfícies contaminadas, seguido do contato com boca, olhos ou nariz.

O infectologista Jamal Suleiman, do Instituto Emílio Ribas, explica que existe uma relação direta entre baixo índice de isolamento e aumento de contaminações. “Enquanto a população não tem imunidade e o vírus circula, você vai ter um maior número de doentes”, afirma.

“Existem barreiras físicas que minimizam o impacto do baixo isolamento, como a máscara, por exemplo. E a forma como as pessoas lidam com ela melhorou, mas ainda há muitas falhas. Vejo muita gente com a máscara na orelha, no pescoço. Até brinco e pergunto se a pessoa está com caxumba [infecção que provoca inchaço na região da garganta]”, diz.

“O confinamento é uma situação muito estressante, e a gente não criou muitas alternativas para isso. E quem precisa sair de casa para trabalhar, pega um transporte público cheio. Eu vejo isso no hospital, não tem jeito: quem começou a sair de casa começou a se contaminar”, conclui.

A pesquisa também mostra que a maior parte da população acredita que os políticos agem mal ao relaxar a quarentena.

A proporção de pessoas que afirma que só sai de casa quando é inevitável está empatada, na margem de erro, na pesquisa mais recente, em relação ao começo de abril, e representa a maior parte dos entrevistados: 51%. Um terço dos entrevistados disseram que têm tomado cuidado, mas que ainda saem de casa para trabalhar ou fazer outras atividades. Apenas 3% relataram que levam sua rotina normalmente, sem qualquer alteração.

Com as exigências de distanciamento social, as entrevistas feitas para a pesquisa Datafolha ocorreram por telefone, com 2.016 brasileiros de 16 anos ou mais nos dias 23 e 24 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, com um nível de 95% de confiança.