O relógio marcava 17h17, pelo horário de Brasília. Após uma pausa de meros segundos (que pareceram horas), a voz de Neil Armstrong ecoou no centro de controle: “Houston, Base Tranquilidade aqui. O Eagle pousou.” Àquela altura, olhando pelas janelas do módulo lunar, pela primeira vez dois humanos contemplavam uma paisagem surreal: eles se encontravam na superfície da Lua.
O Brasil recebeu ao vivo os sinais, via satélite, graças à recém-inaugurada antena parabólica de 30 metros da Estação Tanguá (RJ), pertencente à Embratel. O pequeno passo de Armstrong viria horas depois do pouso, às 23h56 (de Brasília).
Para o caminhante, horários perdiam o significado. A Lua não respeita nossos fusos. Por lá, era apenas o que parecia o princípio de uma manhã “eterna”, uma vez que nascente e poente naquele mundo alienígena são separados pelo equivalente a 14 dias terrestres.
A data histórica foi escolhida por razões puramente astronômicas: a Apollo 11 precisaria chegar na hora certa na Lua para que o Sol, no sítio escolhido de pouso, no Mar da Tranquilidade, estivesse entre 5 e 14 graus acima do horizonte. Por meio dessa iluminação oblíqua, Armstrong e Aldrin teriam melhores condições de ver os acidentes geográficos para conduzir uma alunissagem segura.
Além disso, evitava-se pegar o “meio-dia” lunar, em que a incidência solar é tal que a superfície fica extremamente quente, podendo chegar a 130°C.
Apesar de todos os cuidados, o procedimento de descida foi tudo, menos tranquilo. O Eagle, com Armstrong e Aldrin a bordo, se desacoplou do módulo de comando e serviço Columbia às 15h11, deixando o astronauta Michael Collins como a mais solitária das criaturas —orbitando a Lua sozinho a cerca de 110 km de altitude, enquanto seus colegas tentariam cumprir o desafio de visitar a superfície lunar.
O Eagle disparou seu motor para frear e, com isso, acentuar sua descida até a Lua com a ajuda da gravidade lunar. Até aí, tudo exatamente como executado na missão de ensaio, a Apollo 10, conduzida em maio daquele ano.
A etapa final da descida, contudo, seria cheia de novidades —e ranger de dentes. Após novas manobras e o uso do motor de descida para um pouso controlado, Armstrong e Aldrin notaram que o terreno sob a nave estava passando mais rápido do que deveria —eles pousariam além do local de pouso planejado.
Para ajudar, o limitado sistema de computador da nave estava sobrecarregado por dados e disparando constantes alertas de falha.
Em meio à frenética descida, o controle da missão informou que tudo bem com os alarmes, tudo estava verde para o pouso.
Armstrong teve de controlar a descida final para evitar terreno pedregoso e consumiu 40 segundos a mais de combustível do que o previsto —o tanque tinha uma reserva de apenas mais 25 segundos quando Armstrong desligou o motor e colocou o Eagle no chão.
Começava então um período de atividades de pouco mais de 21 horas em solo lunar —mas, claro, de todo esse tempo, a maior parte gasta dentro do módulo mesmo. No cronograma, estava programado um descanso após a alunissagem, mas os astronautas preferiram seguir direto para o trabalho de preparação para a primeira caminhada lunar.
Aldrin enviou uma frase semimisteriosa ao público: “Eu gostaria de aproveitar essa oportunidade para pedir a todas as pessoas ouvindo, quem quer que sejam e onde quer que estejam, que façam uma pausa por um momento e contemplem os eventos das últimas poucas horas e agradeçam a seu próprio modo.”
Em seguida, ele desligou o rádio e abriu um kit com hóstia e vinho que havia trazido com ele e realizou a primeira comunhão na superfície lunar. Longe dos olhos do público, é verdade, desencorajado pela Nasa, que ainda estava enfrentando um processo judicial pelo fato de os astronautas da Apollo 8 terem lido trechos do livro do Gênesis na véspera de Natal de 1968, enquanto pela primeira vez orbitavam a Lua.
Com tudo pronto, trajes devidamente vestidos e cabine despressurizada, Neil Armstrong abriu a escotilha do Eagle às 23h39 e foi cuidadosamente descendo degrau por degrau da escada que levava à superfície. Às 23h56 (de Brasília), colocou sua bota esquerda sobre o solo lunar. “Um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade.”
Sua primeira atividade seria observar o estado do módulo lunar e recolher uma chamada amostra de contingência —essencialmente qualquer coisa para levar da Lua caso fosse preciso fazer uma partida rápida de emergência. Não foi o caso. Ele observou, na verdade, que era mais fácil se movimentar na Lua, com gravidade de um sexto, do que nos treinamentos feitos na Terra.
Cerca de 20 minutos depois, Aldrin se juntava a ele no solo. Os dois colheriam mais amostras (um total de 21,5 kg), instalariam um pacote de experimentos em solo (um sismógrafo, um coletor de vento solar, depois trazido de volta, e um retrorrefletor para rebater raios laser emitidos da Terra e permitir a medição precisa da distância até a Lua).
Eles também deixariam na Lua medalhas comemorativas em homenagem àqueles que deram suas vidas pela conquista da Lua — não só o trio da missão Apollo 1 (Gus Grissom, Roger Chaffee e Ed White), morto num teste da cápsula antes do voo, mas também Vladimir Komarov, cosmonauta soviético morto em 1967 no voo malfadado da nave Soiuz 1, e Iuri Gagárin, que morreu num acidente de avião em 1968.
A corrida era entre americanos e soviéticos, mas, uma vez vencida por alguém, a vitória era de toda a humanidade. Também foram levadas mensagens de boa-fé de 73 líderes mundiais e um broche com um ramo de oliveira, um símbolo de paz.
Aldrin foi o primeiro a retornar ao módulo lunar, seguido por Armstrong cerca de 40 minutos depois. No total, as atividades extraveiculares duraram pouco mais de duas horas e meia.
De volta ao módulo lunar, um período de descanso de sete horas, antes da decolagem. O primeiro cochilo na Lua, seguido pelo momento mais tenso do dia 21 de julho —a partida. Afinal, numa missão de “levar um homem à Lua e trazê-lo de volta em segurança”, alunissar é apenas metade do trabalho.
Havia tensão para a manobra jamais tentada. O presidente americano Richard Nixon já tinha até um discurso preparado por um assessor para o caso de haver fracasso na decolagem da Lua: “Esses bravos homens, Neil Armstrong e Edwin Aldrin, sabem que não há esperança em sua recuperação. Mas eles também sabem que há esperança para a humanidade em seu sacrifício.”
Felizmente não foi preciso ler diante do mundo a funesta mensagem. A decolagem se deu no dia 21 de julho, seguida pela acoplagem do estágio de ascensão com o Columbia, que àquela altura já havia dado 25 voltas ao redor da Lua.
Com amostras e astronautas transferidos ao módulo de comando, o módulo de ascensão é descartado, para cair no solo lunar, e o motor do módulo de serviço é acionado para colocar a nave no rumo de volta para a Terra, o que viria a acontecer no dia 24 de julho, colocando fim à maior aventura já empreendida por seres humanos. (Por Salvador Nogueira/FolhaPress)