Menino morre de raiva após ser mordido por morcego no Rio de Janeiro
A raiva humana, doença considerada controlada nas cidades brasileiras, voltou a ser registrada no estado…
A raiva humana, doença considerada controlada nas cidades brasileiras, voltou a ser registrada no estado do Rio de Janeiro, que não tinha casos desde 2006. A vítima foi um adolescente de 14 anos, que morreu em 30 de março, após ser mordido por um morcego hematófago em Japuíba, em Angra dos Reis. O óbito, porém, só veio a público na segunda-feira, quando a Secretaria estadual de Saúde (SES) enviou um ofício de alerta às prefeituras. No documento, o órgão pedia que elas informassem a população sobre medidas de prevenção da doença.
Os principais cuidados a serem seguidos são manter em dia a vacinação de animais domésticos; evitar qualquer contato com animais silvestres, em especial morcegos; e prestar atendimentos de profilaxia imediatos, em caso de mordida ou ferimento, meios pelos quais o vírus é transmitido.
A raiva é extremamente rara, mas não pode ser negligenciada, pois provoca encefalomielite e mata 99,9% das vítimas após a manifestação dos sintomas. A vacina e o soro, no entanto, podem bloquear o vírus. O adolescente de Angra dos Reis não tomou a vacina antirrábica.
Morador de uma comunidade rural, o jovem foi infectado em janeiro ao tentar matar um morcego que encontrou caído no chão de um curral. O morcego reagiu e o mordeu. O menino começou a apresentar sintomas em 22 de fevereiro. No dia 7 de março, segundo a Secretaria estadual de Saúde, ele foi internado.
Falta de vaga
O caso, porém, aconteceu num momento em que a pandemia de Covid-19 emergia no Rio e não havia vaga no hospital de referência para a doença, o Instituto Estadual de Infectologia São Sebastião.
— Pedimos ajuda ao Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ), que o internou na UTI. Mas, infelizmente, ele faleceu. Depois que os sintomas surgem é quase impossível salvar um paciente. É uma doença extremamente grave — explica o infectologista Rafael Galliez, professor de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da UFRJ e um dos poucos especialistas do Brasil com experiência no atendimento de pacientes com raiva.
Há apenas cinco casos de pessoas que sobreviveram à raiva no mundo, duas delas no Brasil. Todas tiveram sequelas graves. A Secretaria de Saúde diz que, após a confirmação do caso, em 20 de março, informou os municípios fluminenses. Mas só em 10 de junho houve uma reunião com representantes das 92 secretarias municipais do estado para alertar sobre os protocolos de segurança e a necessidade de manter as equipes de vigilância locais capacitadas.
Desabastecimento
O órgão ressalta que “há indicativo no Ministério da Saúde que haverá envio de vacina antirrábica animal para realização da campanha até novembro”. Segundo o alerta da SES, há “desabastecimento do estoque de vacina e soro antirrábicos para humanos no país”.
O documento “Alerta Raiva 001/2020 – Medidas de Prevenção da Raiva Humana Dirigidas à População do Estado do Rio de Janeiro” diz que “o vírus da raiva continua presente no estado, causando a raiva em número significativo de bovinos e equinos, que são infectados por morcegos hematófagos. O morcego, no momento, vem sendo fator de grande preocupação, já que ações antropogênicas levaram a alterações no ecossistema, e à urbanização desta espécie, inclusive”.
Galliez destaca que morcegos-vampiros podem formar colônias mistas com os que se alimentam de frutas nas cidades e que qualquer contato com eles deve ser comunicado aos serviços de vigilância sanitária.