MG fecha cerco a quem não tomou 2ª dose da vacina contra Covid
No estado, quase 600 mil estão atrasados no esquema de imunização
Prefeituras das principais cidades de Minas Gerais têm armado um cerco contra quem não tomou a segunda dose da vacina de Covid-19 e, para atrair jovens para a primeira dose do imunizante, os municípios usam até show de rock — sem aglomeração — dentro de um “viradão” .
Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde, quase 600 mil pessoas que vivem em Minas Gerais ainda não tiveram o registro da segunda dose lançado no sistema do Ministério da Saúde (veja como está a imunização no Brasil como um todo e nos estados).
Dos 586.168 que ainda não constam como vacinados com a segunda dose, 172.435 precisam receber a CoronaVac e 413.733 estão fora do calendário recomendado para o imunizante da AstraZeneca.
Para mitigar o problema, a secretaria afirma recomendar que as equipes de saúde das prefeituras façam uma busca ativa dos faltosos, “especialmente pela atenção primária, por meio dos agentes comunitários de saúde, que realizam um contato direto com cada pessoa vacinada”, informa a pasta, em nota.
A falta de registro da segunda dose para tantos mineiros pode ocorrer por dois motivos. A pessoa não compareceu ao posto de saúde para tomar a segunda dose ou o lançamento do procedimento no sistema do governo federal ainda não foi feito pelas prefeituras, que são as responsáveis pelo registro.
Com aproximadamente 3 mil pessoas atrasadas para tomar a segunda dose, a Prefeitura de Contagem, na Grande Belo Horizonte, adotou o formato do “viradão” para acelerar a imunização na cidade, que está iniciando a vacinação no público acima de 18 anos.
A estratégia prioriza o público mais jovem. Das 15h da última sexta-feira (27) até as 16h do sábado (28), a gestão municipal organizou no estacionamento de um shopping a aplicação de vacinas em meio a apresentações culturais.
“Somando os postos de saúde, que abriram na manhã de sexta-feira, contabilizamos 32 horas de vacinação ininterruptas”, conta o secretário municipal de saúde, Fabrício Simões, que se apresentou durante o “viradão” com sua banda de rock’n roll.
“Mas foi tudo sem aglomeração. As pessoas só podiam acompanhar o show enquanto esperavam na fila para serem vacinadas”, afirma.
Durante o “viradão”, 31.879 pessoas foram imunizadas, a maioria, jovens, conforme o secretário. Durante o evento, houve ainda uma programação de teatro e apresentações de dança.
Em Belo Horizonte, que começou na terça-feira a vacinação para maiores de 20 anos, a estratégia, ao menos por enquanto, é montar um cerco aos mais velhos que ainda não tomaram a segunda dose da vacina.
Na capital mineira, 37 mil ainda não foram aos pontos de vacinação completar o ciclo. Do total, 25 mil teriam que receber a CoronaVac e 12 mil a AstraZeneca. Ainda não há levantamento dos que deixaram de receber a segunda dose da Pfizer.
Os motivos alegados para o não comparecimento são vários, explica o diretor de Promoção à Saúde e Vigilância Epidemiológica da prefeitura, Paulo Roberto Lopes, com base em informações coletadas por funcionários do sistema público de saúde da cidade.
“Envolve receio sobre efeitos colaterais, há quem acredite que com uma dose está imunizado, esquecimento e fake news dizendo que tem chip na vacina”, afirma o representante da prefeitura.
Para diminuir o número de “fujões” da segunda dose da vacina, a prefeitura faz uma marcação cerrada entre quem vai aos serviços de saúde para outros procedimentos. A “caça” também ocorre por meio do programa Saúde da Família, que cobre 80% do território da cidade.
Ao chegar, por exemplo, para uma consulta em um posto de saúde, o paciente tem verificado o seu prontuário de vacinação. Caso não esteja registrada a segunda dose contra a Covid-19, ele é aconselhado a tomar o imunizante e, se concordar, é encaminhado então a uma sala específica para isso.
Se no posto em que se encontra não há o imunizante, o paciente é orientado a ir a outro local que tenha a vacina. Em relação ao programa Saúde da Família, que envia profissionais para atendimento domiciliar, o procedimento é semelhante. É feita consulta ao prontuário de vacinas dos inscritos. Se falta a segunda dose, o profissional faz o alerta ao morador.
Nos dois casos, porém, as estratégias valem para a população que frequenta os postos de saúde para consultas e outros atendimentos e que integra o programa de saúde comunitária. Segundo Lopes, em relação às camadas mais ricas na cidade, a tentativa de conscientização para a segunda dose ocorre via imprensa e também com a utilização de agentes da equipe de zoonoses, que circulam por toda a cidade.
O contato muitas vezes é feito pelo interfone das casas e apartamentos. “Há uma tentativa de sensibilização em todos os pontos de contato com o cidadão”, diz Lopes.
Caminho semelhante ao da capital segue a prefeitura de Betim, cidade, assim como Contagem, localizada na região metropolitana de Belo Horizonte. No município, 6.730 pessoas ainda não compareceram aos postos de vacinação para a segunda dose.
A prefeitura orientou os postos a telefonarem para quem está com o ciclo contra Covid-19 atrasado. Agentes comunitários de saúde também foram incluídos na procura. Eles visitam as casas de quem ainda não recebeu a segunda dose, numa tentativa de conscientização das pessoas.
O município começou a vacinar nesta terça-feira (31) a população acima de 19 anos. Para atrair os mais jovens, a prefeitura informa ter criado uma propaganda específica nas redes sociais assim que a campanha de vacinação atingiu a faixa etária dos 30 anos.