‘Minha vida não acabou’: como está Isadora 7 anos após atentado no Colégio Goyases
Estudante ficou paraplégica ao ser atingida pelo filho de dois policiais militares que levou uma arma para a escola

São mais de 7 anos do atentado no Colégio Goyases, em Goiânia. Isadora de Morais foi uma das vítimas do fatídico dia 20 de outubro de 2017 e ficou paraplégica ao ser atingida pelo filho de dois policiais militares que levou uma arma para a escola. À época, outros dois estudantes de 13 anos morreram. Ao Mais Goiás, a hoje aluna de Publicidade e Propaganda, com 21 anos, revela dias de altos e baixos, mas diz que nunca deixou de estudar e sempre contou com o apoio de amigos e família, além de viver como qualquer jovem, passeando e se divertindo. “Minha vida não acabou.”
“Parar de estudar nunca passou pela minha cabeça, mas fiquei com muito medo de voltar. O ambiente escolar até hoje me traz trauma. Às vezes imagino a mesma situação que vivi há quase oito anos, mas meus amigos fazem com que fique mais leve, sem tanta pressão. Os professores também ajudam”, revela. “Pode amenizar, mas acredito que nunca vai passar. Às vezes me vejo no chão, pedindo socorro.”
Isadora diz que em determinados momentos, ao ficar quieta na cadeira, chegam lembranças. “Quando fui atingida, ainda fiquei na sala de aula até o socorro chegar. Dizem que foi rápido, mas para mim foi uma eternidade.” Ela admite que chegou a questionar “por que aconteceu comigo”, mas que vê o dia 20 de outubro como renascimento.
“A adaptação foi muito difícil, pois minha vida deu um giro. Não imaginava que iria para a escola andando e voltaria sem andar, em uma cadeira de rodas. Foi muito rápido. Mas encarei com uma nova oportunidade de viver.” Isadora ainda mantém amigos daquela época (que moram no mesmo bairro) e, como todo jovem, passeia, vai a barzinhos e se diverte. “Pedir uma batata e fofocar”, brinca.
Ela também mantém contato com as outras vítimas e até com os pais dos jovens que faleceram. A jovem ajuizou uma ação contra a escola, mas o processo ainda corre na Justiça.
Adaptação
Hoje, Isadora está adaptada ao uso da cadeira de rodas. “No começo, não aceitava ajuda, chegava a me machucar. Mas fui conversando com pessoas que ficaram deficientes, inclusive vítimas de outras tragédias”, cita uma garota que passou pela mesma situação na tragédia de Realengo, no Rio de Janeiro, em 2011.
“Minha vida não acabou. Vou para onde quero, saio muito, apesar da acessibilidade em Goiânia ainda ser péssima. Mas dou um jeito de passear. Me despertou muita vontade de viver.”
No quinto período de Publicidade e Propaganda, Isadora diz que fará jornalismo após terminar o curso. Nesse momento, ela trabalha em uma agência de marketing e faz aulas para tirar a carteira nacional de habilitação. Recentemente, ela foi convidada a participar de um fórum de acessibilidade e afirma que pretende ter uma produtora de vídeo.

Tiroteio
O tiroteio aconteceu em 20 de outubro de 2017, no Colégio Goyases. O adolescente que cometeu o atentado foi solto após três anos de internação em medida socioeducativa.
Entre as vítimas, os estudantes João Vitor Gomes e João Pedro Calembo, ambos de 13 anos, morreram no local. Além de Isadora, à época com 14 anos, também foram baleados e sobreviveram: Hyago Marques, 13, Lara Fleury Borges, 14, e Marcela Macedo, 13.
Conforme a investigação, o autor sacou uma pistola .40 da mochila na manhã daquele dia e atirou contra a sala. Ele atingiu seis colegas. A coordenadora do colégio o convenceu a travar a arma, quando ele ia recarregá-la.
Filho de um casal de policiais, ele foi apreendido após os tiros. O adolescente alegou que sofria bullying de um colega e se inspirou em casos como os massacres de Columbine, nos Estados Unidos, e de Realengo, no Rio de Janeiro.