CHINA

Moradores de Wuhan, onde a pandemia surgiu, já abandonam as máscaras

Com forte calor na cidade, cidadãos deixam de usar item de proteção; em Pequim, exposição mostra 'luta heroica' da China contra a Covid-19

Morador de Wuhan, na China ( Foto: NOEL CELIS / AFP)

Localizada no coração da China, a cidade foi a primeira do planeta a entrar em quarentena. Mas, seis meses depois, os moradores de Wuhan estão desfrutando do retorno à vida normal. Estão aproveitando tanto, que muitos nem hesitam mais em deixar as máscaras de lado.

Jovens dançando em uma festa techno, barracas de comida lotadas e engarrafamentos em todos os lugares: a paisagem de Wuhan não tem mais nada a ver com a atmosfera de cidade fantasma vista desde 23 de janeiro.

Milhares de moradores de Wuhan fazem fila todas as manhãs em frente a trailers que vendem café-da-manhã. Uma cena que contrasta com a da multidão aglomerada nos hospitais da cidade durante o inverno chinês.

Enquanto o uso de máscara é obrigatório em Berlim e Paris, em Wuhan o objeto símbolo da pandemia deu lugar, assim como os ternos e os óculos de proteção, a guarda-sóis e óculos de sol. Nos últimos dias, a temperatura chegou a bater 34ºC.

Os turistas voltaram e foram fotografados sorrindo em frente à Torre do Grou Amarelo, um dos monumentos de Wuhan, com seus artesanatos em vermelho e laranja.

No entanto, a volta à normalidade ainda não é total, e as atividades econômicas continuam sendo afetadas.

— No primeiro semestre do ano, reativamos apenas alguns projetos que estavam planejados antes da epidemia — disse Hu Zeyu, funcionário de uma imobiliária. — O volume de negócios caiu fortemente.

— No primeiro semestre do ano, reativamos apenas alguns projetos que estavam planejados antes da epidemia — disse Hu Zeyu, funcionário de uma imobiliária. — O volume de negócios caiu fortemente.

Realismo socialista

Com enfermeiras e soldados com os punhos erguidos diante de uma bandeira vermelha que relembra os grandes momentos do maoísmo, uma exposição em Pequim exalta a luta chinesa contra a pandemia. Desde o início da epidemia em Wuhan no final de 2019, o Partido Comunista Chinês quis se tornar um exemplo com sua estratégia de combate à Covid-19, que estaria praticamente erradicada no país, de acordo com dados oficiais.

No Museu Nacional da China, que domina a imensa Praça da Paz Celestial, uma exposição chamada “A união é a força” reúne mais de 200 obras, entre pinturas, esculturas ou caligrafias, no mais puro estilo do realismo socialista.

Apesar do governo ter se escondido em um primeiro momento, com o próprio presidente Xi Jinping tendo “desaparecido”, a exposição é focada na ação do regime contra a pandemia.

Entre as grandes telas em exposição, há um quadro intitulado “Resposta à sua carta ao secretário-geral”, que mostra uma enfermeira lendo para seus colegas uma carta de Xi Jinping, secretário-geral do PCC.

No centro da sala, uma escultura apresenta diversos soldados desembarcando de um avião para socorrer os habitantes. Os uniformes lembram uma cena da Longa Marcha, um dos marcos da lenda maoísta da década de 1930.

“Embora não estejam na linha de frente na batalha contra a Covid-19, os artistas não medem esforços para expor os atos heroicos daqueles que estão”, disse o jornal China Daily.

Uma outra pintura mostra uma enfermeira de máscara abotoando o uniforme de trabalho de um colega. Em outra imagem, está em foco o médico mais famoso do país, Zhong Nanshan, com uma lágrima caindo em sua máscara. A legenda o apresenta apenas como “membro do partido”.

No entanto, um herói não foi lembrado na exposição: Li Wenliang, médico de Wuhan que alertou, no final de dezembro de 2019, sobre o surgimento de um novo coronavírus e que acabou sendo interrogado pela polícia, acusado de espalhar boatos.

A morte do médico de 34 anos, vítima da Covid-19, em 7 de fevereiro, gerou um protesto atípico, porém breve, nas redes sociais contra o regime.

Inaugurada em 1º de agosto, a exposição, que ficará aberta por dois meses, não poderá receber  estrangeiros. Os ingressos devem ser reservados com antecedência e um documento de identidade chinês é necessário para entrar.

Em Wuhan, o Museu da Revolução também está com uma exposição sobre a Covid-19. Foram expostos objetos que representam a luta contra a pandemia. Os visitantes podem ver roupas utilizadas por funcionários da saúde durante o surto com dedicatórias.