Moro acena a Bolsonaro na tentativa de atrair eleitorado anti-PT no Paraná
Aspirante ao Senado, ex-ministro tenta conquistar voto bolsonarista no estado
Em propagandas eleitorais nas redes sociais, o ex-ministro Sergio Moro (União) vem apostando no antipetismo e tentando se aproximar do bolsonarismo, mesmo após ter desembarcado do governo federal em abril de 2020. O ex-juiz tenta uma cadeira no Senado pelo Paraná, estado em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) obteve 68,43% dos votos nas eleições de 2018, um dos melhores resultados nos estados. Na Região Sul — que inclui ainda Santa Catarina e o Rio Grande do Sul —, de acordo com pesquisa Quaest/Genial da última semana, Bolsonaro tem 46% das intenções de voto, contra 34% do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em um post nesta quinta- feira, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública afirmou que “jamais estaria ao lado do PT e do Lula”, ao relembrar sua atuação como juiz federal durante a Operação Lava Jato. A propaganda denominada “papo reto com Moro”, em que ele responde sobre um eventual apoio ao petista, pode ser interpretada como uma sinalização de adesão a Bolsonaro em um possível segundo turno entre os dois favoritos na disputa pela Presidência.
— Jamais. Isso é impossível. Eu decretei a prisão do Lula, eu desmontei o esquema de corrupção do PT junto com as empreiteiras, como a Odebrecht (…) Jamais estarei ao lado do PT e do Lula, você pode escrever na pedra — responde.
Moro comandou a pasta de Justiça e Segurança Pública durante o governo Bolsonaro entre janeiro de 2019 e abril de 2020. Ele pediu exoneração após alegar que o presidente teria interferido na escolha do comando da Polícia Federal. No post desta quinta, o ex-juiz faz, logo após citar Lula, uma menção diretamente ao presidente:
— Em relação ao Bolsonaro, uma coisa eu posso te dizer: nós temos o mesmo adversário.
Durante sua atuação como juiz federal em Curitiba, Moro decretou a prisão de Lula em 2018, sob a acusação de corrupção e lavagem de dinheiro na compra de um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo. A suposta associação com empreiteiras que fecharam obras com o governo federal e com governos estaduais foi descoberta a partir de desdobramentos da Operação Lava Jato, e julgadas pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) pelo ex-juiz. A peça sinaliza ainda o uso de sua atuação nas investigações como bandeira de campanha.
Moro concorre para o Senado contra o ex-correligionário Alvaro Dias (Podemos), que tenta a reeleição, e contra o candidato bolsonarista ao pleito, o deputado federal Paulo Martins (PL). O parlamentar também conta com o apoio do governador Ratinho Júnior (PSD), que tenta a recondução ao cargo com o apoio de Bolsonaro.
Racha entre Moro e Deltan, que são aliados
O clima entre Moro e Dias, já em período de propaganda eleitoral, escalou na quinta-feira, quando o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol (Podemos), que tenta uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo Paraná, defendeu que o país precisa de mais pessoas como Alvaro Dias. O ex-procurador teceu elogios ao senador como alguém que se dedicou com “coragem e de modo incansável” no combate à corrupção e em defesa da Operação Lava Jato.
— Precisamos de mais pessoas como Alvaro Dias na política, que defendam o fim do foro privilegiado, a prisão em segunda instância e as reformas política, tributária e do Judiciário — afirma na peça publicitária, que termina com o jingle e o número de campanha de Dias.
A publicação, feita no perfil oficial do senador nas redes sociais na última quarta-feira, representa mais um capítulo nas rusgas entre atores que participaram na Lava Jato.