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Mortalidade relacionada ao calor aumenta 68%, segundo relatório

A crise climática avança no mundo e aprofunda os efeitos negativos nas fundações humanas de bem-estar e…

crise climática avança no mundo e aprofunda os efeitos negativos nas fundações humanas de bem-estar e saúde. A mortalidade de pessoas com mais de 65 anos relacionada ao calor aumentou em 68% entre os períodos de 2000-2004 e 2017-2021, situação agravada pela pandemia de Covid-19.

Temperaturas muito elevadas podem contribuir com ataques cardíacos, AVCs (Acidentes Vasculares Cerebrais) e doenças cardiovasculares em geral.

O relatório anual Lancet Countdown, publicado nesta quarta-feira (26) pela revista The Lancet, aponta que todos os continentes vivenciaram extremos climáticos.

Segundo o documento, houve um crescimento de cerca de 29% das áreas no mundo afetadas por secas extremas, por pelo menos um mês no ano, na comparação entre 2012–2021 e 1951–1960.

Aumentou também a exposição dos mais vulneráveis (idosos e crianças pequenas) às ondas de calor.

Um dos pontos a ser levado em conta quando se fala de aumento global da temperatura é a maior disponibilidade de áreas propícias para doenças infecciosas e os maiores riscos de epidemias.

Segundo os autores, as áreas costeiras estão se tornando cada vez mais adequadas para transmissão de patógenos de vibrio.

Além disso, nas regiões mais altas das Américas, o número de meses propícios para transmissão de malária subiu 31,3% comparando o período de 1951-60 e 2012-21.

Nas áreas mais elevadas da África, o avanço foi de 13,8%. Isso sem contar a dengue, que teve um aumento de probabilidade de transmissão de 12%, no mesmo período citado acima.

O relatório da Lancet também aponta para as estimativas de prejuízos econômicos associados à crise climática. Cerca de 470 bilhões de potenciais horas de trabalho foram perdidas no mundo em 2021 devido à exposição ao calor.

Os danos diretos provocados por eventos extremos em 2021 são estimados em torno de US$ 253 bilhões, um prejuízo especialmente mais grave em países com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), locais normalmente em que seguros sobre os bens são mais raros.

Outro ponto abordado pelo relatório é a ameaça que a crise climática gera para a segurança alimentar. Segundo as dezenas de autores que produziram o documento, em relação ao período de 1981-2010, mais de 98 milhões de pessoas teriam sido atingidas por insegurança alimentar moderada ou severa em 2020 em decorrência do calor extremo.

Com a maior fragilidade da saúde em decorrência da crise climática, logicamente os serviços de saúde acabam mais requisitados. Porém, os autores apontam que somente 48 entre 95 países analisados afirmam ter avaliado as suas necessidades de adaptação à crise climática nessa área.

O relatório lembra que 2022 marca o 30º aniversário da assinatura da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, momento em que os países se comprometeram a prevenir os efeitos negativos da mudança climática sobre a saúde humana. “Contudo, houve pouca ação significativa desde então”, escrevem os autores, citando a elevada dependência mundial de combustíveis fósseis para produção de energia.

Ao mesmo tempo, a situação para acesso a energia em países de baixo IDH continua problemática —a quantidade de pessoas sem acesso à energia elétrica cresceu em 2020, devido a pressões socioeconômicas da Covid.

Segundo os autores, estima-se que cerca de 59% dos serviços de saúde em países de renda média e baixa não têm acesso à energia estável para prover cuidados básicos para a população.

“Simultaneamente, empresas de óleo e gás registram lucros recordes, com suas estratégias de produção continuamente prejudicando as vidas e o bem-estar das pessoas”, dizem os autores do relatório.

Com as crises que se sobrepõem no mundo —a guerra na Ucrânia, por exemplo, agravando problemas sociais e energéticos—, o relatório afirma que os esforços para redução das emissões de gases-estufa podem ser deixados de lado.

Até mesmo a chance de usar a crise sanitária global para uma recuperação mais verde não se concretizou, dizem os autores. Segundo eles, menos de um terço dos mais de US$ 3,11 trilhões destinados à recuperação econômica da pandemia provavelmente se traduzirá em redução de emissões ou de poluição do ar, ou seja, possivelmente o dinheiro para recuperação estará atrelado ao aumento de emissões.

O documento afirma que a crise atual precisa ter uma resposta centrada na saúde, que levaria a oportunidades pautadas em um futuro mais resiliente com menor participação de carbono.

“Os indicadores mostram que os países e as empresas continuam a fazer escolhas que ameaçam a saúde e a sobrevivência das pessoas em todo o mundo”, afirma o relatório. “Na atual conjuntura crítica, uma resposta imediata e centrado na saúde ainda pode assegurar um futuro em que as populações do mundo poderão não só sobreviver, como prosperar.”