MESMO QUE RUINS

Mourão: dados sobre devastação da Amazônia não serão ‘escamoteados’

Segundo vice-presidente, governo vai pedir ao Congresso abertura de crédito extraordinário para ações de combate às queimadas e ao desmatamento

Pressionado a explicar o alto índice de desmatamento e os focos de incêndio na Amazônia, o vice-presidente Hamilton Mourão garantiu que o governo não vai “escamotear” os dados e apresentá-los mesmo que sejam “ruins”. A afirmação foi feita na tarde desta terça-feira durante videoconferência com senadores que questionaram sobre a exoneração da pesquisadora Lubia Vinhas, responsável pelo trabalho de monitoramento da devastação florestal no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

— Se os dados forem ruins, nós vamos mostrar os dados, porque a mentira não pode prosperar. A mentira é péssima, a mentira quebra aquilo que é o principal entre pessoas, entre governo e seus governados, que é a confiança. Se nós não estamos atingindo os objetivos, a gente redireciona as ações e busca a melhor forma de cumprir a tarefa que nos foi dada. Então, pode ficar claro aqui que dados não serão escamoteados — disse o vice-presidente que também preside o Conselho da Amazônia.

Ainda segundo Mourão, Lubia foi exonerada para ocupar uma outra função com o mesmo nível de responsabilidade que tinha anteriormente.

Sobre o combate às queimadas e ao desmatamento, Mourão disse que o governo precisa de mais recursos para as ações da Operação Verde Brasil. O vice-presidente afirmou que o ministro Paulo Guedes deve solicitar ao Congresso a abertura de crédito extraordinário para manter o trabalho dos militares na Amazônia.

— O ministro Paulo Guedes deverá enviar um projeto de lei ao Congresso solicitando crédito extraordinário para que essa operação consiga permanecer – e ela necessita permanecer, presidente Davi – até o final do ano para que nós consigamos lograr os objetivos de reduzir as queimadas.

Embora reconheça que as ações de combate ao desmatamento começaram com atraso neste ano, Mourão garantiu que será possível reverter a situação no segundo semestre.

— Temos plena certeza de que vamos reduzir esse ilícito ao longo deste segundo semestre para que, no ano que vem, na nossa terceira fase, nós comecemos em janeiro, que é quando está havendo o corte raso, de modo que aí tenhamos um resultado realmente expressivo de redução do desmatamento, avançando para o segundo semestre.

As taxas de desmatamento cresceram na Amazônia. Em junho, mais um recorde foi quebrado na série histórica do mês, com 1.034,4 km² devastados, área pouco menor do que a cidade do Rio de Janeiro. O índice é 10,6% maior do que o registrado no mesmo período em 2019. Entre agosto de 2019 e o mês passado, o desmatamento na Amazônia atingiu uma área de 7.566 km², bem mais do que os 6.844 km² registrados entre agosto de 2018 e julho de 2019.

O índice de queimadas na região também aumentou e teve o pior junho registrado desde 2007. Números consolidados do Inpe indicam que 2.248 focos de incêndio foram registrados por satélites de 1º a 30 de junho, um aumento de 19,5% em relação ao mesmo período, em 2019. Na ocasião, foram 1.880 focos.