HOMOFOBIA E RACISMO

MP denuncia pregadora que disse para fiéis pararem de ‘postar coisas de gente preta, de gay’

Kakau Cordeiro disse que foi "infeliz nas palavras" e que responderá a denúncia, mesmo não concordando

MP denuncia pregadora que disse em culto para fiéis pararem de 'postar coisas de gente preta, de gay’ (Foto: reprodução)

O Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou a pregadora que foi criticada ao pedir para as pessoas pararem de “postar coisa de gente preta, de gay” durante um culto em Nova Friburgo. Karla Cordeiro dos Santos Tedim, mais conhecida como Kakau Cordeiro, foi denunciada por induzir e incitar preconceito, discriminação contra as pessoas de cor preta e aquelas à comunidade LGBTQIA+.

O discurso de Kakau ocorreu no dia 31 de julho e chegou a ser colocada no canal oficial do grupo jovem da Igreja Sara Nossa Terra, onde ocorrida o culto. Entretanto, o vídeo foi removido devido à repercussão negativa. A mulher disse que foi “infeliz nas palavras”.

“É um absurdo pessoas cristãs levantando bandeiras políticas, bandeiras de pessoas pretas, bandeiras de LGBTQIA+, sei lá quantos símbolos tem isso aí. É uma vergonha, desculpa falar, mas chega de mentiras, eu não vou viver mais de mentiras. É uma vergonha. A nossa bandeira é Jeová Nissi. É Jesus Cristo. Ele é a nossa bandeira”, disse Kakau durante o culto.

Polícia Civil abriu um inquérito para analisar o discurso da mulher, que é membro da Igreja Sara Nossa Terra. Para o delegado Henrique Pessoa, há um “teor claramente racista e homofóbico, o que configura transgressão típica na forma do artigo 20 da Lei 7716/87”.

“De tal modo que a pena é de 3 a 5 anos com circunstâncias qualificadoras por ter sido feita em mídias sociais e através da imprensa. De tal modo que já foi instaurado inquérito policial pelo crime de intolerância racial e homofóbica, de acordo com a recente previsão do STF”, disse o delegado.

Denúncia contra pregadora

A Promotoria de Justiça afirmou que deixou de propor acordo de não persecução penal – instituto de caráter pré-processual, negociável entre o acusado e representante do Ministério Público, e sujeito à homologação judicial – por entender que a denunciada “praticou crime violador da dignidade da pessoa humana, princípio fundamental da Constituição da República”.

De acordo com a denúncia, “a pretexto de enaltecer sua ‘bandeira'”, Karla induziu e incitou menosprezo pelas pessoas de cor preta e por aquelas integrantes da comunidade LGBTQIA+, praticando discriminação e preconceito contra aquelas e suas causas “ao enfatizar a ‘vergonha’ que tais ‘bandeiras’ importariam se fizessem parte das manifestações sociais dos seus ouvintes”.

“Karla agiu com menoscabo e preconceito contra lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queers, intersexuais, assexuais, não binários e pessoas com orientação sexual e identidade de gênero diversas, ao zombar da sigla representativa da comunidade que os agrega”, diz o documento.

A Promotoria de Justiça ressaltou, ainda, que “a prática criminosa se deu através de discurso endereçado a jovens, destilando intolerância a pautas sociais de inclusão e cidadania com alcance presencial e remoto, potencializando o alcance da mensagem e, assim, o desvalor do resultado e as consequências do delito”.

O diz a pregadora

Por meio de publicação nas redes sociais, Kakau Cordeiro pediu desculpas pelos “termos” que usou na palestra e disse que foi “infeliz nas palavras escolhidas”. “[…] quero afirmar que não possuo nenhum tipo de preconceitos contra pessoas de outras raças, inclusive o meu próprio pastor é negro, e nem contra pessoas com orientações sexuais diferentes da minha, pois sou próxima de várias pessoas que fazem parte do movimento LGBTQIA+.”

Além disso, a mulher disse que a intenção era “afirmar a necessidade de forcarmos em Jesus Cristo e reproduzimos seus ensinamentos, amando os necessitados e os carentes, principalmente , as pessoas que estão sofrendo tanto na pandemia.” A mulher termina dizendo que as palavras que ela disse não expressam as opiniões do pastor e nem da igreja.

Ao G1, a defesa de Karla disse que vai respondera denúncia assim que o juiz aceitá-la, e que não concorda com ela, já que foram entregues à polícia materiais com provas da inocência da pregadora.