Mulher acusada de furto tem os cabelos raspados e fica sem roupa em São Paulo
O caso aconteceu na última segunda-feira (6) e será encaminhado para o Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância
Uma mulher paraguaia de 47 anos foi agredida em uma galeria de lojas no bairro do Brás, na região central de São Paulo. Os agressores a acusam de ter furtado peças de roupas. A mulher teve a cabeça raspada enquanto foi agredida com tapas e socos no rosto dados por ao menos duas mulheres que escrevem a palavra “ladra” em seu rosto e ainda rasgam suas roupas. As cenas de agressão foram divulgadas nas redes sociais.
“Fiquei desorientada. Passei a noite na rua sentada em um canto da calçada”, relata a vítima, que pediu para não ter seu nome divulgado. Ela conta que uma moradora de rua a viu sem roupas e lhe deu uma blusa e um saco de pipoca.
Após as agressões, a mulher agredida deixou a galeria nua. O caso aconteceu na última segunda-feira (6) e será encaminhado para o Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).
O fato
A mulher conta que foi ao Brás comprar roupas para revender. Costuma passar alguns meses em São Paulo para trabalhar como sacoleira, juntar dinheiro e voltar para o Paraguai, onde vivem seu marido, os três filhos e dois netos.
“Estava comprando roupas de crianças para vender e para meus netos. Perguntei o preço de uma jaqueta que vi no manequim na calçada e fui embora”, diz.
Ela relata que, ao entrar em um táxi para ir embora, foi abordada pelo segurança da galeria onde perguntou o preço da jaqueta. “Ele estava armado e eu pensei que ele fosse me assaltar, mas me mandou sair do carro porque eu tinha roubado”, conta.
Ela, então, diz que foi levada para os fundos da galeria, onde teve os cabelos cortados. Depois, uma mulher apareceu com uma máquina e raspou sua cabeça. “Eu fui porque não tinha nada a esconder. Não tinha roubado nada.”
Os agressores perguntavam a ela o tempo todo sobre outras estrangeiras que “roubam no Brás”. “Liga e manda elas devolverem os produtos”, disseram os agressores, segundo a vítima. Ela telefonou para o marido, que mora no Paraguai. Só a liberaram após rasgarem suas roupas e a deixarem nua.
Enquanto era agredida, a vítima contou que ouvia frases do tipo “volta para seu país” e “você não tem nenhum direito aqui no Brasil”.
A dona de um estande, que não quis se identificar, afirmou ter tomado conhecimento das agressões e acusou a vítima de furto. Segundo ela, há imagens de câmeras de segurança que flagraram o suposto crime, mas a reportagem não teve acesso a elas.
O dono da galeria também foi procurado e disse não saber do caso de agressão. O comerciante não quis revelar o nome e informou apenas que cada loja tem autonomia para agir em casos de roubo ou furto.
A advogada da vítima, Juliana Valente, informou que a ocorrência será registrada como xenofobia, cárcere privado, tortura e lesão corporal grave. O caso será encaminhado para o Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância).
A Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP informou que irá mandar ofício para a prefeitura e para a Polícia Militar para pedir esclarecimentos sobre o episódio.
A mulher diz que está com medo de ficar sozinha e conta com a ajuda de conterrâneas para superar o trauma. “Tenho medo do meu filho ver o vídeo. Vai ser um trauma para ele. Como eu vou voltar para casa assim careca?”, afirma.