Uma mulher morreu após passar um mês internada no hospital depois de ter 88% do corpo queimado na própria casa em Rochedo (MS). Pamela de Oliveira da Silva, 27, ficou em coma durante um pouco mais de duas semanas e, ao acordar, denunciou o marido como autor do crime. Damião Souza Rocha, 35, havia relatado à polícia que ela tinha tentado se matar. A jovem estava internada na Santa Casa de Campo Grande, mas não resistiu aos ferimentos e morreu na segunda-feira (22).
Segundo o pai de Pamela, Roberto Martins, o caso ocorreu no dia 22 de julho. Na ocasião, Pamela estava querendo se separar de Damião, com quem vivia um relacionamento há 11 anos e tinha dois filhos, uma menina de 10 e um menino de 6. “Ela me contou o que aconteceu quando acordou do coma, no Hospital”, disse o pai da vítima.
“Ela disse que estava indo embora, que já estava querendo se separar há um tempo. Que naquele dia tinha arrumado as coisas, estava praticamente na rua com as crianças, quando ele começou a gritar. Ele disse que ninguém iria querer ela, que ela não teria para onde ir. Minha filha disse que tentou conversar, mas ele ficou histérico”.
Damião teria falado para as crianças irem brincar na rua e, na sequência, entrou em luta corporal com a mulher. “Ele foi empurrando-a para o quarto, que já estava molhado de gasolina. Ele bateu nela e empurrou para cima da cama, onde acendeu o fogo e fechou a porta”.
Roberto diz que, depois, Damião tentou apagar o fogo do corpo de Pamela. “Ela disse que ele jogou uma coberta, mas o fogo não apagou. Depois arrastou ela pelos cabelos para fora, onde tinha uma caixa d’água cheia e virou isso em cima dela”.
Pamela foi levada às pressas para o hospital e a irmã dela relatou para Roberto que uma das crianças tinha denunciado para a tia que o pai havia ateado fogo na mãe. “Mas ela ficou pedindo para que a minha filha não contasse para ninguém, porque não queria que o pai fosse preso”.
Damião contou para a família que fez um boletim de ocorrência como tentativa de suicídio. No entanto, a versão dele foi contrariada após 16 dias da internação de Pamela, que foi extubada e relatou a própria versão para o pai. “Ele [Damião] ainda tinha dito para mim: ‘Se a Pamela acordar, vai ser a palavra dela contra a minha e vamos ver qual que vai falar mais alto’. Como ele é xodó da cidade, ele acreditava que ia valer a palavra dele”, explica Roberto.
Após a denúncia da filha, Roberto disse que foi até a DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) denunciar o caso e pedir uma medida protetiva contra Damião. “A minha preocupação era de a minha filha acordar e dar de cara com ele. Devido ao estado dela, eu não ia permitir que ele ficasse frente a frente com ela. Eu tive que correr contra o tempo, entrei em desespero. Fiz tudo o que estava ao meu alcance e que era direito dela”, relata o pai.
Esta não seria a primeira vez que Pamela teria reclamado do marido. Roberto diz que a filha já havia telefonado para ele algumas vezes para falar do comportamento do companheiro. “Ela pedia para eu ir buscá-la, mas como eu trabalho em uma indústria, não conseguia sair correndo. Depois ela voltava e dizia que já tinha resolvido”.
Segundo ele, Pamela era uma jovem tranquila e que não gostava de causar problemas. “Ela não era de se meter na vida de ninguém. Cuidava só da vida dela, não se envolvia com nada. Frequentava a igreja. Era uma mãe muito próxima e orgulhosa dos filhos. Ela sempre compartilhava as conquistas deles”.
O UOL entrou em contato com a Polícia Civil do Mato Grosso do Sul para saber se o suspeito foi localizado, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. A reportagem também tentou contato com a Defensoria Pública para saber se Damião está sendo representado pelo órgão. O espaço será atualizado assim que houver manifestação.