Mulher que acusa Gabriel Monteiro de estupro conta que recebeu tapa no rosto ao se negar a ficar com segurança do ex-vereador
Vítima relata que ficou na mira de uma arma e que youtuber, apesar dos seus apelos, não usou preservativo
O ex-vereador Gabriel Monteiro (PL) foi preso ontem sob a acusação de estupro feita por uma jovem de 22 anos. Ela contou que ainda foi agredida com tapas no rosto, inclusive quando se negou a ficar com um segurança do youtuber, e que esteve sob a mira de uma arma na madrugada de 15 de julho, quando o político já respondia a um processo por quebra de decoro parlamentar que terminaria com a cassação de seu mandato pela Câmara do Rio. De acordo com a denúncia do Ministério Público enviada à Justiça, Monteiro conheceu a mulher na reinauguração de uma boate na Barra da Tijuca e a levou para a casa de um amigo no bairro do Joá, onde o crime teria acontecido.
Pelo processo, que corre em sigilo, o youtuber teria forçado a mulher a manter relações sexuais sem preservativo e teria lhe transmitido HPV. A vítima contou que conheceu o ex-PM na festa de reabertura da boate Vitrinni. O início do relacionamento foi consensual, mas terminou em violência. Após se beijarem e trocarem carícias na boate, os dois seguiram para a casa desse amigo do ex-vereador num carro com cinco seguranças e uma amiga da jovem. Ainda no veículo, ele sacou uma arma da cintura e entregou para a amiga da mulher, que, assustada, a devolveu.
A denúncia assinada pelo promotor Marcos Kac dá detalhes da madrugada de horror. Ao chegarem à residência do Joá, Monteiro a levou até um quarto no andar de cima, enquanto a amiga permaneceu na sala. Ao entrarem no quarto, ainda com a porta destrancada, o ex-vereador foi ao banheiro. Na volta, ao ver que a mulher tentava deixar o cômodo, trancou a porta e tirou a arma da cintura. “(…) o denunciado trancou a porta do quarto, retirou a arma da cintura, passou no rosto da vítima, constrangendo-a com o fim de ter conjunção carnal, e começou a rir. Em ato contínuo, pegou o telefone celular, para gravar os fatos que se sucederiam, contudo o aparelho estava sem bateria”, relata o documento.
Em seguida, o youtuber “foi para cima da vítima” para despi-la de forma violenta. Ela, então, teria dito que tiraria a própria roupa. Segundo o processo, com a mulher nua, Monteiro “a empurrou de forma violenta sobre a cama e começou a ter relação sexual de forma também violenta, sem usar preservativo, mesmo após os apelos da vítima para que ele não mantivesse relação sem camisinha”. Durante o estupro, com a mulher chorando muito e imobilizada por ele – que segurava os dois braços dela pelos pulsos -, o ex-parlamentar passou a fazer perguntas: “É minha?”, “Você está gostando?” e “Se eu pedir para você ficar com um dos meus seguranças na minha frente, você ficaria?”. Segundo a denúncia, a cada pergunta, respondendo ou não, ela recebia um forte tapa no rosto.
Ao dizer que não ficaria com o segurança, a vítima, após apanhar de Gabriel, foi questionada novamente, respondendo sim, por medo. Mesmo assim, “recebeu um tapa mais forte, tendo o denunciado dito na sequência: ‘Você não tem personalidade’.”
“Eu vou lhe espancar”
A jovem também contou que tentou, em vão, soltar as mãos para proteger sua região genital. Aos prantos e sendo xingada, de acordo com o seu relato, ela ainda ouviu do ex-vereador: “Se você continuar assim, vai ser pior, eu vou lhe espancar”. Quando parou de tentar se defender, relata ela, Monteiro começou a falar de assuntos desconexos, como da máfia de reboque e de outros temas sem muito sentido. A vítima esperou o vereador dormir para conseguir deixar o local, como descreve a denúncia do MP. Exames médicos mostraram que ela sofreu lesões e fissuras na região genital, tendo contraído HPV.
A prisão de Gabriel Monteiro ocorreu quase três meses após ele perder o mandato (no dia 18 de agosto) em decisão quase unânime (48 a 2) do plenário da Câmara. O juiz Rudi Baldi Loewenkron, da 34ª Vara Criminal , aceitou a denúncia do MP e expediu o mandado de prisão contra Gabriel. Na decisão, o magistrado também determinou que sejam aprendidos celulares e armas de fogo do acusado. No fim da tarde de ontem, ele se apresentou na 77ª (Icaraí).
— Essa decisão da Justiça reitera que a decisão da Câmara de cassá-lo foi correta. E mostra que solto, ele era um perigo para a sociedade — disse o vereador Chico Alencar (PSOL).
Gabriel comentou a prisão em suas redes sociais:
— Não fui sequer ouvido na delegacia Minha inocência será comprovada de forma incontestável. Por isso me apresentei — disse Gabriel.