ASSÉDIO

Mulheres que denunciaram Marcius Melhem escrevem carta em apoio a funcionárias da Caixa

Ao menos cinco funcionárias do banco acusaram o executivo de assédio, com relatos de toques íntimos e convites inadequados. MPF investiga o caso

Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa, acusado de assédio. Foto: Agência Brasil

Mulheres que denunciaram o ex-diretor do departamento de humor da Globo Marcius Melhem por assédio sexual​ elaboraram uma carta manifestando apoio às supostas vítimas de Pedro Guimarães, agora ex-presidente da Caixa Econômica Federal. O documento reúne dez signatárias.

Ao menos cinco funcionárias do banco acusaram o executivo de assédio, com relatos de toques íntimos e convites inadequados. O MPF (Ministério Público Federal) investiga o caso. Na quarta (29), Guimarães pediu demissão da instituição.

A carta elaborada pelas denunciantes de Melhem exalta a “coragem para romper o silêncio” e desafiar o poder por parte das funcionárias da Caixa. Diz, ainda, que elas devem estar preparadas para as próximas batalhas -que “serão tão ou mais duras”.

“O sentimento principal talvez seja o medo. Medo da retaliação do poderoso denunciado, medo pelo futuro de nossas carreiras, medo de que nossa reputação seja posta em jogo, simplesmente porque fizemos o que era correto. O único fio que temos para nos segurar é a certeza de que essa era nossa única opção”, diz a carta.

“Conhecemos os desafios que aparecem ao enfrentarmos um homem em posição de poder, que usa a sua força e o seu cargo para constranger e calar as pessoas”, segue.

A defesa de Melhem sempre negou as acusações de crimes sexuais.

As signatárias da carta se apresentam sob a alcunha “Somos Muit@s” e dizem que, por se verem na condição de vítimas de assédio sexual, agora têm um laço inquebrantável com as servidoras que denunciaram Pedro Guimarães.

“Nós não sabemos quem são vocês. Nunca nos falamos, nunca nos vimos e se nos cruzássemos na rua não teríamos como saber que passamos uma pela outra. Mesmo assim temos agora um laço inquebrantável. É por causa de mulheres como vocês que nós seguimos lutando. Daremos forças umas para as outras e não pararemos até que todas as histórias sejam contadas”, afirmam.

Elas ainda destacam que o assédio é, por definição, um exercício de poder, mesmo que muitas vezes venha disfarçado como piadas, falsa amizade ou por posturas invasivas por parte de um chefe. “O ato de denunciar, seja quando acontecer, é um ato de extrema coragem. Vocês foram bravas”, dizem.

As acusações de assédio sexual contra Guimarães foram reveladas na terça-feira (28) pelo portal Metrópoles. No relato das funcionárias da Caixa também surgiram acusações de que outros membros da diretoria e do gabinete do ex-presidente acobertaram a situação.

Uma funcionária da Caixa disse em depoimento ao jornal Folha de S.Paulo que também foi assediada pelo executivo. Ela afirmou ter sido puxada pelo pescoço e ter ficado em choque após o episódio.

Nesta quinta-feira (30), o conselho de administração da Caixa Econômica Federal decidiu contratar uma auditoria externa para apurar as denúncias de assédio sexual contra Pedro Guimarães e rastrear outros membros da cúpula que acobertaram a situação.

Guimarães pediu demissão um dia após a divulgação das denúncias. Em uma carta aberta publicada em suas redes sociais, ele negou as acusações e disse ser alvo de “rancor político em um ano eleitoral”.