Na COP27, favoritos para o Meio Ambiente prometem ‘um novo tempo’ com volta de Lula
Marina Silva, Izabella Teixeira e Randolfe Rodrigues receberam recomendações da sociedade civil para o novo governo um dia antes da chegada do presidente eleito
Três dos nomes mais cotados para assumir o Ministério do Meio Ambiente durante o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva estiveram nesta segunda-feira na COP27, a conferência ambiental da ONU que neste ano acontece em Sharm el-Sheikh, no Egito. As ex-ocupantes da pasta Marina Silva e Izabella Teixeira participaram ao lado do senador Randolfe Rodrigues de um evento promovido por organizações da sociedade brasileira para debater as perspectivas para o novo governo, um dia antes da chegada de Lula ao evento.
Durante o evento, o trio ministeriável recebeu uma série de recomendações de representantes da sociedade civil sobre qual direção a política ambiental deve seguir a partir de 1º de janeiro — entre elas, medidas para os 100 primeiros dias de governo, uma abordagem transversal da questão climática e enfoque para os direitos dos povos indígenas e originários. Todos os três destacaram que a mudança de governo significará uma guinada na política brasileira após quatro anos de reveses.
— Neste momento de aprendizagem, devemos manter o espírito de frente ampla, de reconciliar o Brasil, porque em tempos assim é que aprendemos que vamos precisar de todo mundo — disse Marina para um auditório lotado. — Temos quatro anos para continuar este movimento em legítima defesa dos povos indígenas da Amazônia, de um modelo de desenvolvimento que seja próspero, justo, diverso, democrático e sustentável. Essa é a nossa estrela de Davi.
Segundo a deputada federal eleita (Rede-SP), vive-se o “anúncio de um velho novo tempo” em que a sociedade e o governo brasileiro eram uma só delegação, “sem essa apartação”. Ela referia-se aos três espaços ocupados pela sociedade brasileira na Zona Azul, o espaço diplomático da COP: há o pavilhão oficial do governo de Jair Bolsonaro, dos governadores amazônicos e, por último, da sociedade civil – o Brazil Climate Action Hub, onde ocorreu o evento desta segunda.
Izabella Teixeira também afirmou que a partir do ano que vem “o Brasil volta com um lugar só”. Segundo ela, é necessário “entender a complexidade” do país, defendendo que as políticas climáticas dialoguem diretamente com o combate ao racismo.
— Temos que falar de direitos humanos, de direitos civis. Vários brasileiros não têm acesso a nada. Temos que mudar a lei para que o Brasil seja mais inclusivo — disse Izabella Teixeira, que está no Egito também como copresidente do Painel Internacional de Recursos Naturais da ONU Meio Ambiente e conselheira da presidência da COP. — É nessa trajetória que o mundo espera um Brasil como uma voz de liderança pela paz.
Randolfe (Rede-AP), por sua vez, destacou o trabalho feito pela oposição e pela sociedade civil durante os quatro anos de governo Bolsonaro. Segundo ele, “contra o fascismo é assim, tem de se lutar em cada campo, em cada praça, em cada estado institucional”, ressaltando que a vitória de Lula dá início a uma “obra de reconstrução nacional”.
— Nós vivemos nestes últimos quatro anos o pior do pior que o nosso país poderia ter produzido. Mas ter vivido estes quatro anos é fundamental para termos dimensão do que representa a obra da reconstrução — afirmou ele. — Acho que Lula será o primeiro presidente da História a ter dois meses a mais de mandato sem saber. O descaso era tão grande, a ausência era tamanha, há uma expectativa e ansiedade de todos.
Possível anúncio
Além do trio, estiveram no painel os deputados federais Alessandro Molon (PSB-RJ), Rodrigo Agostinho (PSB-SP) e Joênia Wapixana (Rede-RR). O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), e a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) também compuseram a mesa, mediada pela diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade, Ana Toni, uma das organizações coordenadoras do espaço da sociedade civil.
Lula, que desembarca no Egito na terça, vai usar sua passagem pela COP27 para reposicionar o Brasil na diplomacia climática e no multilateralismo. Durante sua visita, o presidente eleito deve anunciar a candidatura brasileira para sediar a COP30, em 2025 — o país seria sede em 2019, mas Bolsonaro disse que não sediaria o evento pouco após sua posse naquele ano.
O presidente eleito também pode usar a oportunidade para dizer quem será seu ministro do Meio Ambiente — Marina o fez entre 2003 e 2008 e Izabella, entre 2010 e 2016, durante os governos de Lula e de Dilma Rousseff. Já Randolfe desistiu de ser candidato para o governo do Amapá nas últimas eleições para integrar a campanha de frente ampla que levou Lula novamente ao Palácio do Planalto.
Um dos pontos mais defendidos pela sociedade civil é que o novo governo cumpra sua promessa de criar uma Autoridade Nacional do Clima, ou seja, um órgão que coordenará a ação climática de forma transversal em todos os setores do governo. Outra demanda repetida foi o combate ao crime organizado na região amazônica.
Povos originários
Mais um pedido repetido pela sociedade civil foi a criação de um Ministério dos Povos Indígenas —compromisso assumido pelo petista durante a campanha eleitoral. Segundo informações apuradas pelo jornal O Globo, o nome da deputada eleita Sônia Guajajara (Psol-SP) foi consensual para a pasta dos Povos Originários.
Representando a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) durante o evento desta segunda, contudo, Guajajara criticou a ausência dos povos indígenas e originários no governo de transição:
— A criação do Ministério dos Povos Originários vem sendo amplamente anunciada, isso vem sendo repercutido a cada dia na mídia. Mas nós, os maiores interessados, ainda não fomos convidados para compor a equipe de transição — disse ela. — É muito importante que de fato haja esse movimento de consulta para que a gente possa construir o que de fato será esse ministério.
A demanda também foi levantada por Joênia Wapixana, a primeira deputada indígena eleita na História do Brasil. Ela, que não se reelegeu na última eleição, foi uma das mais aplaudidas pela audiência ao dizer que um dos motivos de ter perdido a disputa foi sua atuação contra o crime organizado e o garimpo ilegal.
— Eu não faria diferente. A chance de a gente se eleger era em uma possível aliança com partidos que defenderiam o Bolsonaro — afirmou. — Partidos que defendem o garimpo ilegal, o desmatamento, não merecem a minha consideração porque estão matando o meu povo.