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Na CPI da Covid, Queiroga distorce dados sobre vacinação e testagem; veja checagem

Ministro da Saúde desde 23 de março, Marcelo Queiroga presta depoimento na CPI da Covid…

Ministro da Saúde desde 23 de março, Marcelo Queiroga presta depoimento na CPI da Covid nesta quinta-feira (6). Ao responder perguntas dos senadores, evitou opinar sobre a eficácia da hidroxicloroquina contra a Covid-19, jogando a responsabilidade para uma comissão do Ministério da Saúde que debate um protocolo clínico de tratamento.

Também evitou falar de atitudes ou acontecimentos nas gestões de seus antecessores, como se houve ou não atraso na compra de vacinas.

Nelson Teich, que foi ministro da Saúde entre 17 de abril e 15 de maio de 2020 prestou depoimento nesta quarta-feira (5). Já Luiz Henrique Mandetta, que ocupou o cargo de 1º de janeiro de 2019 a 16 de abril de 2020, na terça-feira (4)..

O general Eduardo Pazuello, ministro entre a saída de Teich e o início da gestão de Queiroga, deve depor no dia 19.

A Lupa verificou algumas das declarações de Queiroga. A reportagem contatou o ministro a respeito das verificações, e irá atualizar essa reportagem assim que tiver respostas.

Confira a seguir a checagem.

O Brasil é um dos países que realizou testes de uma maneira forte

Marcelo Queiroga

Em depoimento à CPI

FALSO

Nos rankings mundiais, o Brasil não tem uma posição favorável na quantidade de testes contra a Covid-19 realizados. Dados do Worldometers mostram que o país está na 114º posição entre as nações que mais realizaram testes por milhão de habitantes. Há informações sobre testes para 210 países e territórios.

O Brasil realizou 218 mil testes por milhão de habitantes, ficando atrás de alguns países da América do Sul como Chile (55º), Uruguai (73º), Peru (90º), Colômbia (99º) e Argentina (106º).

Atualmente, os dados do Worldometers indicam que o Brasil é o 13º país com mais mortes por Covid por milhão de habitantes, 1.900 óbitos. Entre os 20 países com maior número de mortes, somente o México tem um desempenho pior em testagem.

Um estudo do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica, da Fiocruz, mostrou que a falta de planejamento para a compra de teste foi um dos motivos para a estratégia de testagem em massa falhar no Brasil. Além disso, a falta de indicadores confiáveis e a opção por testes rápidos em vez do RT-PCR também contribuíram para a disseminação não ter sido evitada.

No final de abril, Queiroga afirmou que a sua pasta vai criar um programa de testagem da população para Covid-19. O projeto deverá usar testes antígenos para detectar o novo coronavírus, e não o RT-PCR. Ainda não há data de lançamento.

No mês de abril, houve dias em que ultrapassamos a meta de 1,8 milhão [por dia] de indivíduos vacinados

Marcelo Queiroga

Em depoimento à CPI

EXAGERADO

Em nenhum dia do mês de abril o Brasil atingiu 1,8 milhão de indivíduos vacinados contra Covid-19, como afirma Queiroga. Segundo o site Localiza SUS, do Ministério da Saúde, o número máximo de doses aplicadas em um único dia, desde o início da vacinação, ocorreu em 20 de abril, 1.197.913. Ao longo do mês passado, a média foi de 625 mil aplicações.

Mais de 77 milhões de doses de vacinas já foram distribuídas para secretarias estaduais e municipais

Marcelo Queiroga

Em depoimento à CPI

EXAGERADO

O site Localiza SUS, do Ministério da Saúde, indica que o governo federal distribuiu 71 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 para as secretarias estaduais até esta quarta-feira (5), ou seja, menos de 77 milhões.

Desses 71 milhões de doses distribuídas, 45 milhões já foram aplicadas nos brasileiros, sendo que 14 milhões de pessoas já receberam as duas doses das vacinas. Atualmente, o Ministério da Saúde fornece três imunizantes: Coronavac, a vacina da AstraZeneca e a da Pfizer. As duas primeiras estão disponíveis desde janeiro, enquanto a última começou a ser distribuída no dia 3 de maio.

[Brasil] É o quinto país em distribuir doses de vacinas

Marcelo Queiroga

Em depoimento à CPI

VERDADEIRO, MAS

O Brasil é o quinto país do mundo em número de doses de vacina contra a Covid-19, em números absolutos, segundo a plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford. Em 5 de maio de 2021, o Brasil aparecia na lista com 45,6 milhões de doses aplicadas. A China, os Estados Unidos, a Índia e o Reino Unido ocupam os quatro primeiros lugares da lista.

No entanto, isso não quer dizer que o Brasil tenha a quinta melhor cobertura vacinal do mundo, já que é um país muito populoso. Levando-se em consideração o número de doses aplicadas de forma proporcional à população, e não apenas o número de doses, o Brasil cai dezenas de posições no ranking de imunização.

Dos mais de 191 países cujas informações foram coletadas pelo Our World in Data, o Brasil ocupava a 72ª posição em relação às doses para cada cem habitantes até 5 de maio. Isso significa que foram aplicadas 21,4 doses a cada cem pessoas até o momento.

Até o momento, 14,5% da população recebeu ao menos uma dose da vacina contra a Covid-19, e 6,9% da população recebeu as duas doses. Os dados são do Ministério da Saúde.

Nunca, em tão pouco tempo, tivemos vacinas eficazes para combater uma doença viral como a Covid

Marcelo Queiroga

Em depoimento à CPI

VERDADEIRO

Antes da Covid-19, nunca uma vacina foi desenvolvida em menos de um ano. O período médio para se desenvolver uma vacina é, em geral, de 10 a 12 anos. Especialistas apontam alguns fatores para o desenvolvimento recorde no caso do novo coronavírus: investimento governamental em pesquisas em vários países, o sequenciamento do genoma do vírus cerca de um mês depois dos primeiros relatos da doença, experiência acumulada de tecnologias para produção de vacinas e, por fim, conhecimento de epidemias causadas por outros coronavírus, como o SARS-CoV(2003) e o MERS-CoV (2012).

De acordo com Luiz Carlos Dias, professor do Instituto de Química da Unicamp, e membro da Força-Tarefa Unicamp contra a Covid-19, a CoronaVac é um exemplo de vacina baseada em uma tecnologia que já existe desde os anos 1950 e que usa um vírus inativado.

No caso da vacina da Universidade de Oxford, o procedimento adotado foi o de usar um adenovírus, um tipo comum de vírus que causa resfriados e problemas intestinais, como carregador da sequência genética do Sars-CoV-2.

Em entrevista à Lupa em dezembro de 2020, a microbiologista Natália Pasternak, pesquisadora do ICB (Instituto de Ciências Biomédicas) da USP, explicou que essa tecnologia é rápida, barata e muito versátil. “É possível ter uma plataforma pronta com o seu adenovírus e facilmente trocar de sequência genética quando quiser trocar de doença”, disse.

O sequenciamento genético do novo coronavírus, feito logo no começo da pandemia, foi fundamental para esse processo. Em março de 2020, por exemplo, as cientistas brasileiras Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical da USP, e Jaqueline Goes de Jesus, pós-doutoranda na USP, sequenciaram, em 48 horas, o genoma do primeiro caso de infecção pelo vírus confirmado no Brasil. “Para o desenvolvimento de vacinas e drogas para tratamento é fundamental saber qual é a real diversidade do patógeno”, disseram, à época, pesquisadoras que participaram do estudo. Na China, o código genético do vírus foi sequenciado em janeiro de 2020.

Nós já temos uma redução de óbitos em pacientes com uma faixa etária maior

Marcelo Queiroga

Em depoimento à CPI

VERDADEIRO

Dados do Ministério da Saúde tabulados pela Folha mostram que no ano passado inteiro os idosos acima de 70 anos responderam por 51% dos óbitos após internações por síndrome respiratória, percentual que caiu para 44% nos quatro primeiros meses deste ano. Houve redução em todas as faixas etárias a partir de 70 anos. Idosos com 91 anos ou mais representavam 6% dos óbitos após internação em 2020, índice que caiu para 4% de 1º de janeiro a 3 de abril deste ano. De 81 a 90 anos, o percentual passou de 20% para 15%; de 71 a 89 anos, de 25% para 24%.

No estado de São Paulo, onde a aplicação da vacina começou de forma acelerada, houve queda nas internações na faixa etária mais elevada. De acordo com o secretário de Saúde do estado, Jean Gorinchteyn, pacientes principalmente com idades superiores a 90 anos tiveram uma queda nas internações de 46%, na faixa de 85 a 89 anos, 36%, e na faixa de 80 a 84 anos, uma redução de 22% de internação nas UTIs.

A tendência de redução das mortes a partir do início da vacinação também foi percebida em vários outros países, como Chile, Alemanha, Canadá, Estados Unidos e Israel.