‘Não digo nós matarmos’: pastor tenta explicar fala homofóbica, mas é alvo de denúncias de parlamentares
André Valadão sugeriu em referência à população LGBTQIA+, que Deus, se pudesse, 'matava tudo e começava de novo'
Após sugerir, durante um culto, em referência a pessoas LGBTQIA+, que Deus, se pudesse, “matava tudo e começava tudo de novo”, o pastor André Valadão publicou um segundo vídeo, nesta segunda-feira, em que alega que a fala anterior não era “sobre matar, segregar, mas será sim sobre resetar, levar de volta à essência, ao princípio”. A tentativa de retratação, porém, não impediu que o líder religioso fosse alvo de uma série de denúncias protocoladas por parlamentares, em diferentes instâncias: o senador Fabiano Contarato (PT-ES), a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) e o deputado distrital Fábio Félix (PSOL-DF) pediram que o Ministério Público Federal (MPF) e o equivalente estadual de Minas Gerais (MP-MG) investiguem o teor das declarações de Valadão por conta de conteúdo homofóbico e transfóbico.
O culto aconteceu nos Estados Unidos, mas foi transmitido pelas redes sociais. No documento encaminhado para a Procuradoria da República no Distrito Federal, o deputado distrital Fábio Félix cita diversos trechos do discurso do pastor na ocasião. A representação cita que “é nítida a intenção de caracterizar a população LGBTQIA+ como potenciais criminosos que se associam para promover a exploração sexual e abuso de crianças, com a finalidade de criar pânicos e mobilizar a população que se identifica com o segmento religioso de que o representado reivindica ser parte”.
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Já Contarato, ao acionar o MPF, pede a prisão preventiva de Valadão e o pagamento de reparação por danos morais coletivos em R$ 1 milhão, valor a ser destinado ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, como revelou a coluna do jornalista Lauro Jardim, no GLOBO. Para o senador, o pastor “praticou, de forma reiterada, crime de racismo”. Caso o MPF não entenda pela prisão, o parlamentar sugere que sejam fixadas medidas cautelares.
Por fim, a peça apresentada pela deputada Erika Hilton ao MP-MG relembra uma denúncia feita pela parlamentar em junho. No mês do orgulho LGBTQIA+, o pastor realizou um culto intitulado “Deus odeia o orgulho”. Na queixa atual, Hilton também cita a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que equiparou a homotransfobia ao crime de racismo previsto na Lei 7.716/1989.
A presidente do PT e deputada federal pelo Paraná, Gleisi Hoffmann, também defendeu a punição de André Valadão. “Pastor bolsonarista André Valadão tem que ser punido por incitar o ódio e ataques contra a comunidade LGBTQIA+. Não dá pra normalizar esse absurdo. Mentiu sobre Lula fechar igrejas nas eleições e continua praticando crimes. Não pode usar o nome de Deus para pregar a violência”, afirmou Gleisi em suas redes sociais.
O vídeo que gerou a reação dos parlamentares e circula nas redes sociais mostra Valadão pregando sobre “homens e mulheres nuas, com seus órgãos genitais completamente expostos, dançando na frente de crianças” como consequência do casamento homoafetivo. Em seguida, o pastor afirma que “agora é a hora de tomar as cordas de volta e dizer: Pode parar, reseta! Mas Deus fala que não pode mais. Ele diz, ‘já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, matava tudo e começava de novo. Mas prometi que não posso’, agora tá com vocês”.
Após a repercussão, o pastor se defendeu sobre as acusações de homofobia. “Nunca será sobre matar, segregar, mas será, sim, sobre resetar, levar de volta à essência, ao princípio… Sim, cabe ao que crê em Jesus levar a mensagem do recomeço, reset, reinício, nascer de novo e viver não mais para si, mas para deus e suas leis”, afirma a nova publicação.
— Eu uso o termo que está no livro de Genésis, quando Deus a partir do dilúvio destrói toda a humanidade por causa da promiscuidade sexual, a libertinagem (…) Minha palavra deixa claro que os dias seriam como os dias de Nóe. Mas a diferença é que Deus não tem como recomeçar a humanidade. Dentro disso, na minha pregação, deixo claro que cabe a nós puxarmos as cordas e a nós ‘resertamos’. Não digo nós matarmos, pelo amor de Deus, gente — prosseguiu Valadão.
Na sede da Igreja Lagoinha em Orlando, nos Estados Unidos, André Valadão tem feito uma série de cultos intitulados “Teoria da Conspiração”, em que o pastor argumenta haver uma conspiração por parte do governo e de grandes veículos de comunicação, com a finalidade de atacar a religião evangélica.
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