ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

No 13 de maio, conheça cinco mulheres negras que lutaram pelo fim da escravidão no Brasil

Assinatura da Lei Áurea não foi ação benevolente da Princesa Isabel, mas resultado de muita mobilização social

No 13 de maio, conheça cinco mulheres negras que lutaram pelo fim da escravidão no Brasil

Em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel, filha do imperador do Brasil Dom Pedro II, assinava a Lei Áurea, que deu fim ao regime de escravidão no país. A abolição veio depois de mais de três séculos de escravidão e cerca de 4,9 milhões de pessoas africanas traficadas para o Brasil. A data é simbólica. Mas em vez de ser motivo de comemoração, ela serve como um momento de reflexão, uma vez que, até hoje, mais de 130 anos depois, a população negra brasileira ainda é a que mais sofre com a desigualdade, a violência e o apagamento de sua história.

A abolição não foi uma ação benevolente da monarquia brasileira, mas sim o resultado de diversos fatores, incluindo muita mobilização social ao longo do século 19. A princesa Isabel foi exaltada e estampou inúmeros retratos como heroína da abolição. No entanto, pouco se conhece ou se fala sobre as pessoas negras que já lutavam bravamente pelo fim da escravidão muitos anos antes. Homens negros como Luís Gama ou André Rebouças costumam ser mais lembrados, mas a trajetória de mulheres negras abolicionistas aparece pouco na história “oficial’ do Brasil.

Em CELINA, relembramos cinco destas mulheres negras que dedicaram à vida à luta pela libertação das pessoas negras escravizadas no Brasil.

Mãe do poeta e abolicionista Luís Gama – principal fonte dos registros históricos de sua existência – Luíza Mahin foi ex-escrava e teve papel fundamental nas revoltas dos negros que aconteceram na Bahia do século XIX, sendo a Revolta dos Malês, de 1835, a principal delas. Sua casa foi quartel-general de todos os levantes.

São poucos os registros históricos de suas origens e de sua atuação. Há controvérsias sobre seu local de nascimento, mas as principais evidências apontam que ela pertencia à nação nagô-jeje, da tribo Mahi, e que teria sido princesa na África. Escravizada no Brasil, tornou-se livre por volta de 1812.

Não se sabe ao certo o que aconteceu com ela após as perseguições que sofria por ser negra e abolicionista, mas em carta, Luís Gama conta que a mãe fugiu para o Rio de Janeiro, foi capturada e deportada de volta para a África.

Adelina, a charuteira

Nascida em São Luís do Maranhão, Adelina era filha bastarda e escrava do próprio pai. Suas datas de nascimento e morte são desconhecidas, assim como seu sobrenome. De acordo com sua biografia contada no “Dicionário Mulheres do Brasil”, ela sabia ler e escrever, mas aos 17 anos não viu cumprida a promessa de libertação feita pelo pai. Na adolescência, passou a vender os charutos produzidos pelo pai nas ruas e no comércio de São Luís.

Em sua peregrinação pela cidade, procurava parar no Largo do Carmo, onde os estudantes do Liceu se tornaram fregueses. Ali assistiu comícios abolicionistas e passou a frequentar as manifestações. Como conhecia a cidade como a palma da mão, Adelina facilitou a fuga de escravos ao antecipar ações da polícia para os ativistas que organizavam as ações, e ajudou diretamente alguns a escaparem.

Maria Firmina dos Reis

Primeira romancista do Brasil e, provavelmente, primeira mulher negra a publicar um romance na América Latina, Maria Firmina dos Reis nasceu em 1822, no Maranhão. Seu clássico romance “Úrsula” (1859) é reconhecido como uma das primeiras narrativas de temática feminista e antiescravista da literatura brasileira, escrita por uma mulher negra em pleno período da escravidão.

Firmina, que chegou a lecionar para meninas e meninos na mesma sala de aula, uma inovação no século XIX, dizia que a mente não podia ser escravizada. Não se casou nem teve filhos naturais — somente adotivos. Bastarda, escreveu sobre as mazelas do mundo — a mendicância, a dor, a proscrição, o patriarcado, sobre cismas e queixas.

Experimentou diversas formas de expressão, da poesia à música popular. Compôs letra e música à tradição do bumba-meu-boi e um hino à liberdade dos escravos, para comemorar o Maio de 1888. Mas ainda há muitas lacunas a serem preenchidas na vida da escritora. Não há, por exemplo, um único retrato de Firmina, embora ela tenha vivido quase 100 anos, todos eles no lugarejo maranhense de Vila de Guimarães, onde morreu cega e pobre, em 1917.

Mariana Crioula

Mariana Crioula foi uma mulher escravizada e quilombola. Não se sabe ao certo sua data de nascimento. Vivia em Pati do Alferes, distrito da vila de Vassouras, região do Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro. Era mucama e costureira de uma fazenda de café da região. Em novembro de 1938, Mariana participou da fuga liderada por Manuel Congo, considerada uma das maiores fugas de escravos da região fluminense.

Depois de tomarem o caminho da floresta nas montanhas da Mantiqueira, Mariana Crioula foi aclamada “rainha” do quilombo formado pelos fugitivos na serra. Foi presa no mesmo mês quando do ataque por tropas da Guarda Nacional, tendo, no entanto, resistido bravamente. Segundo os relatos registrados pelos oficiais da época, Mariana se colocou em frente dos revoltosos e bradou “Morrer, sim, se entregar, não!”

Dandara

Ao contrário da princesa Isabel, que teve sua história contada e seu rosto eternizado em pinturas que perpetuam a narrativa sobre seus feitos para o fim da escravidão, a trajetória de Dandara possui lacunas: seu rosto nunca foi registrado e não se sabe como eram as feições da mulher que lutou ao lado de Zumbi pela libertação dos negros.

Sem um título de nobreza ou um sobrenome para diferenciá-la dos demais, Dandara teve papel fundamental no funcionamento do Quilombo dos Palmares, onde participou de lutas de capoeira para defender o território das diversas tentativas de invasão. De acordo com os poucos registros históricos, ao lado do marido Zumbi, ela ajudou a constituir a organização social e econômica do quilombo.