Nota do Mec, com erros gramaticais, é motivo de críticas
Falta de coesão, coerência e desvios gramaticais são apontados por especialista como falhas graves: um atentado à educação e uma ameaça à língua
Uma nota do Ministério da Educação (MEC), em resposta a um comentário do jornalista Ancelo Góis, d’O Globo, gerou repercussão e críticas negativas. O material tinha erros gramaticais, além de graves falhas em coesão e coerência. Internautas não perdoaram os deslizes, e especialista goiano acredita que há um ataque à educação, principalmente por quem deveria protegê-la.
O texto, escrito todo em letras maiúsculas, sem justificação, com separação silábica a esmo, através de hifenização, causou espanto aos leitores. O comunicado ainda foge o tema que critica — uma nota assinada por um jornalista — e apresenta erros de pontuação.
“Há um provérbio muito conhecido que diz ‘a palavra convence, mas o exemplo é que arrasta’. Em relação ao comunicado, não se pode perceber nenhum indício de convencimento, tampouco motivação. Pelo contrário, a nota divulgada — cheia de desvios gramaticais e de problemas coesivos e de coerência — coloca o MEC em uma situação, mais que vexatória, contraditória”, avalia o professor de Língua Portuguesa e Redação para concursos e vestibulares, Ricardo Pereira.
O ministério é responsável pela regulação, fiscalização e manutenção da educação em todo o País. É do ministério a responsabilidade de avaliar por meio do Enem — a maior prova do Brasil para ingresso em faculdades públicas ou privadas, através de bolsas, conforme as notas. Pereira, que também é escritor, questiona: “Como cobrar que os brasileiros escrevam bem e corretamente se nem o próprio Ministério da Educação o faz?”
O professor cita falhas: “No primeiro parágrafo, além do desvio em divisão silábica, notado na palavra ‘responsabilidades’, o verbo atribuir, transitivo direito e indireto, solicita dois complementos, logo ‘quem atribui deve atribuir alguma coisa a alguém.’” O uso de conjunção de forma equivocada é observado: “O uso de “entretanto” na introdução do segundo parágrafo, por não haver clara relação de adversidade com o parágrafo anterior. É possível constatar também, nesse trecho, o uso incorreto da vírgula relacionado ao uso do adjunto adverbial de tempo.”
“Por fim, o terceiro parágrafo da nota é o que mais nos causa espanto, já que a quantidade de desvios gramaticais em pontuação e a evidente falta de clareza, percebidas, sobretudo, entre a quinta e a décima segunda linha do escrito”, comenta Ricardo Pereira.
MOTIVO
Em janeiro, o colunista Ancelmo Gois, do jornal o Globo, publicou uma nota intitulada “Sob a aba de Vélez Rodríguez, Ines tira do ar vídeos sobre Marx, Engels e Nietzsche”. O jornalista denunciou que o Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), com vídeos em libras, teve “sumiço” de conteúdo da TV Ines. “Especificamente os que contavam a história de personagens como Karl Marx, Friedrich Engels, Marilena Chauí, Antonio Gramsci e Friedrich Nietzche”, escreveu.
A pedido do Mais Goiás, sem alterar o conteúdo, Ricardo Pereira corrigiu e reescreveu a nota, que segue na íntegra:
COMUNICADO DO MEC
O Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines) instaurou sindicância para obter todas as informações relacionadas à retirada, sem autorização, de alguns vídeos do seu site e atribuir as devidas responsabilidades a quem elas pertençam. A diretoria do Ines também tomou a decisão de reinserir no site os vídeos que foram apagados.A apuração preliminar já identificou que os vídeos foram retirados em abril e em novembro de 2018, o que demonstra que a nota publicada na coluna de Ancelmo Gois, no jornal “O Globo”, no dia 29 de janeiro de 2019, é tanto falsa quanto maldosa, ao atribuir a responsabilidade ao Ministro da Educação, professor Ricardo Vélez Rodríguez, que só assumiu o Ministério em janeiro deste ano.
Dessa forma, ao contrário do que quer fazer crer o colunista, ludibriando os leitores do jornal “O Globo”, o ministro da Educação, durante a sua vida como docente, sempre ensinou e defendeu a pluralidade e o debate de ideias, recusando-se a adotar métodos de manipulação da informação ou o ocultamento de pessoas e de objetos que eram próprios de organizações como a KGB, serviço secreto do governo comunista na antiga União Soviética, que, na década de 1960, ocasião da fuga de Ancelmo Gois para a Rússia, protegeu e forneceu identidade falsa ao colunista de “O Globo”. Na época, segundo ele próprio declarou em entrevista ao site da Associação Brasileira de Imprensa em 2009, Ancelmo Gois foi treinado em marxismo e leninismo na Escola de Formação de Jovens Quadros do Partido Comunista soviético.