Nova perícia identifica dois pesticidas em estômago de enteado; madrasta está presa por envenenamento
O laudo de exame complementar de pesquisa indeterminada de substância tóxica em amostra biológica apresentou…
O laudo de exame complementar de pesquisa indeterminada de substância tóxica em amostra biológica apresentou evidências da presença dos compostos carbofurano e terbufós no material gástrico de Bruno Carvalho Cabral, de 16 anos. A madrasta do rapaz, Cíntia Mariano Dias Cabral, suspeita de envenená-lo com feijão, está presa temporariamente por tentativa de homicídio contra ele.
O documento, produzido com base em análise realizada no Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (LADETEC) da Universidade Federal do Rio (UFRJ), atesta que os pesticidas estavam em quatro grânulos esféricos diminutos, de colocação azul escura, no organismo do estudante.
De acordo com o documento, a partir do laudo produzido pelo Laboratório de Toxicologia do Instituto Médico-Legal Afrânio Peixoto (IMLAP), da Polícia Civil, foi utilizado no LADETEC um método com maior sensibilidade e resolução. “O material analisado apresenta evidências da presença dos compostos carbofurano e terbufós, assim como seus compostos de degradação. Ambos compostos relatados acima são pesticidas, sendo o carbofurano do grupo dos carbamatos e o terbufós da classe dos organofosforados”, escreve a perita Aline Machado Pereira.
O laudo aponta que a análise complementar foi feita sob os termos do Acordo de Colaboração entre a Diretoria de Polícia Técnico-Científica (DGPTC) da Polícia Civil e o Instituto de Química da UFRJ (IQ-UFRJ). O laudo complementar de exame de corpo de delito de lesão corporal feito a partir da análise do material gástrico de Bruno já mostrava que o estudante havia sido vítima de uma “ação química, envenenamento por carbamatos” — compostos orgânicos utilizados como inseticida.
Nesse documento, o perito Gustavo Figueira Rodrigues havia explicado que o exame laboratorial revelou a presença dos grânulos no organismo de Bruno — “forma de apresentação de raticida ampla e clandestinamente comercializado e conhecido como chumbinho”. A análise química do material em questão, entretanto, não revelou a presença de substâncias tóxicas: “Os carbamatos possuem meia vida curta, e considera-se que, em 24 horas, 90% da dose ingerida é eliminada pela urina”, escreveu.
O perito também havia ressaltado: “Os sintomas geralmente iniciam-se logo após a exposição, sendo necessária a intervenção imediata e urgência, tratamento adequado devido ao alto risco. O uso de carvão ativado promove a adsorção do produto tóxico no estômago e ao longo do tubo digestivo, diminuindo não somente a absorção da substância tóxica, como também a probabilidade de detecção de exame laboratorial, sanguíneo e do material coletado”.
“O quadro clínico e a apresentação dos grânulos revela quadro clássico de intoxicação por raticidas, carbamatos, aldicarb. Caso a vítima não tivesse sido submetida a tratamento imediato, como ocorreu, teria provavelmente evoluído para óbito”, assegurou o laudo do IML.
De acordo com o inquérito, Bruno teria começando a passar mal minutos após ter saído da casa onde Cíntia morava com seu pai, Adeilson Cabral, no dia 15 de maio. Na residência, durante o almoço, foram servidos feijão, arroz, bife e batata frita. O rapaz teria reclamado que o feijão estava com gosto amargo e o colocou no canto do prato. A madrasta então levou o prato de volta a cozinha e colocou mais comida.
Após a refeição, o estudante foi deixado na casa da mãe, Jane Carvalho Cabral, que ligou então para o ex-marido contando dos sintomas apresentados pelo filho. Levado ao Hospital Municipal Albert Schweitzer, o jovem foi submetido a uma lavagem gástrica e teve a intoxicação exógena diagnosticada pela equipe médica.
À mãe, ele relatou ter passado mal após ingerir “umas pedrinhas azuis que estavam no feijão” e contou que, ao servir seu prato, a madrasta teria apagado a luz da cozinha “como se estivesse escondendo algo”. Aos policiais, Cíntia disse que as tais “pedrinhas” eram um tempero de bacon que não havia dissolvido na comida.
Por meio de seus advogados, Cíntia nega que tenha cometido o crime. Segundo as investigações, os envenenamentos teriam acontecido por ciúmes que a madrasta nútria da relação do companheiro com seus filhos biológicos. A madrasta ainda é suspeita da morte da irmã de Bruno, Fernanda Carvalho Cabral, de 22 anos, em 15 de março; de um ex-namorado, o dentista Pedro José Bello Gomes, em 2018; e de um vizinho, o representante farmacêutico Francisco das Chagas Fontenele, em 2020.