‘Nunca foi pela máscara. Foi racismo’, diz delegada que foi barrada na Zara em Fortaleza
Impedida de entrar na loja Zara de Fortaleza por estar com a máscara no queixo…
Impedida de entrar na loja Zara de Fortaleza por estar com a máscara no queixo (no momento em que tomava um sorvete) no mesmo dia em que pessoas brancas acessaram o estabelecimento sem a proteção no rosto, a delegada Ana Paula Barroso está convicta de que o episódio deve ser tipificado como crime de racismo.
“Nunca foi pela máscara. Foi racismo”, diz a delegada, que levou o episódio para âmbito de um inquérito na Polícia Civil do Estado. O sorvete que ela tomava no dia era o primeiro desde a sua cirurgia bariátrica.
Loja da Zara que barrou delegada desenvolveu “código” para alertar funcionários
A peça chave da instrução criminal é a descoberta de um dispositivo na loja que alertava os funcionários a respeito de pessoas negras ou malvestidas. “A cereja do bolo foi a descoberta do código “Zara, zerou” (sistema de alerta). Baseado em quê eles ativariam esse código para as pessoas? Só chego à conclusão de que fui expulsa por conta da minha cor e da minha aparência de quem não teria poder aquisitivo para comprar ali”, diz ela que se orgulha de ter agido como cidadã, com base em seus valores de vida, e não como autoridade. “Foi como se naquele momento eu tivesse esquecido que era policial”.
No dia em que foi convidada a deixar a loja, Ana custou a entender o que acontecia, mesmo tendo passado por situações constrangedoras muitas outras vezes. A investigação aponta que quem teria desenvolvido o código foi um português de 32 anos que trabalha como gerente na Zara.
O episódio aconteceu no dia 14 de setembro. A loja em que Ana Paula foi barrada fica em um shopping da capital do Ceará. Impedida de entrar na Zara, a delegada procurou a coordenação do shopping – ainda com o sorvete na mão. Ouviu que foi convidada a se retirar “por motivos de segurança” e não recebeu maiores explicações.
Mais tarde, a gerência alegou à polícia que a máscara, item obrigatório durante a pandemia, estava fora do lugar. Mas outros clientes nem usavam a proteção e circulavam pelas araras do estabelecimento. Por uma dessas coincidências da vida, Ana Paula é titular da Delegacia de Proteção a Grupos Vulneráveis do Ceará.
“Eu vou ser sempre abordada porque eu gosto de andar simples no shopping? Às vezes de havaianas, um pouco despenteada, é o meu jeito despojado de andar. Eu não preciso andar com uma placa de que sou autoridade policial para ser respeitada”, diz a delegada.