Operação Lava Jato

NYT: “Problemas na Petrobras trazem maior incerteza para investidores”

Segundo o jornal americano, quando a companhia mais endividada do mundo adia um comunicado aos acionistas graças a um enorme escândalo de corrupção, uma oscilação nos mercados pode ser esperada


//

O New York Times publicou no último sábado (15/11) um artigo no qual faz um alerta em meio à crise política enfrentada pela Petrobras. “Quando a companhia mais endividada do mundo adia o anúncio de seu balanço devido a um escândalo de corrupção cada vez maior, é esperada uma oscilação no mercado”, diz o artigo de Landon Thomas Jr.

O jornalista continua: “Esse foi o caso ocorrido na sexta-feira, com a gigante brasileira do petróleo Petrobras, que viu suas ações caírem 8% (antes de uma leve recuperação) e os rendimentos em seus títulos subirem repentinamente com as notícias de que executivos da empresa no Brasil foram detidos como parte de uma ampla investigação sobre corrupção.

Porém, a presidente Dilma Rousseff, que presidiu o conselho de administração da Petrobras antes de tornar-se Presidente da República em 2010, não é a única pessoa que sentirá a dor causada pelos crescentes problemas da empresa.

Poucas empresas de mercados emergentes atraíram tantos investidores estrangeiros como a Petrobras, vista há muito tempo como uma referência por investidores que estavam em busca de exposição a países emergentes com crescimento rápido”.

A matéria lembra que a Petrobras é um investimento central em mercados emergentes. “Segundo dados da Bloomberg, a Pimco é a maior detentora de papéis da dívida, com 4,3%. A Fidelity vem em segundo, com 2,5%. A Oppenheimer e seus US$ 42 bilhões no emergente mercado de fundos, é a quarta maior detentora.

De fato, mais do que qualquer outra empresa de mercado emergente, a Petrobras tirou proveito da tendência na qual companhias de gestão de ativos — a maioria sediadas nos EUA — substituíam os bancos como principal fonte de financiamento.

Economistas estimam que donos de títulos estrangeiros financiaram cerca da metade do amplo programa de investimento da companhia. E como a empresa afirmou que espera investir cerca de US$ 200 bilhões nos próximos anos para explorar novos campos de petróleo, investidores da Pimco, BlackRock e Fidelity serão chamados a intensificar seus empréstimos se a empresa alcançar seus objetivos”.

O dinheiro tem vindo, atraído por rendimentos robustos num ambiente de baixas taxas de juros. A Petrobras, nos últimos cinco anos, vendeu US$ 51 bilhões em bonus no exterior, cerca de um quarto de todas as emissões de dívidas corporativas do Brasil, a maior entre todas as empresas de mercados emergentes, segundo dados reunidos por Thomson Reuters.

Mas economistas como Hyun Song Shin do Bank do International Settlements (Banco de Compensações Internacionais), organização responsável pela supervisão bancária, têm alertado há algum tempo sobre os riscos envolvidos em ter empresas de mercados emergentes tão dependentes em investidores instáveis de varejo nos Estados Unidos.

E a partir de uma perspectiva de estabilidade financeira, reguladores do Federal Reserve alertaram sobre grandes sociedades de gestão de ativos que estão altamente posicionadas em dívidas de alto risco de mercados emergentes.

O temor é que a venda de papeis em uma companhia ou país possa se espalhar rapidamente — já que esses países e empresas são tão dependentes do capital estrangeiro — levando a um contágio de investimentos mais amplo.

Por enquanto esse não parece ser o caso, já que a bolsa brasileira caiu apenas 1% na sexta-feira.

Mas com investidores amplamente desconfiados dos mercados emergentes, dadas as previsões de alta nas taxas de juros nos Estados Unidos e moedas locais mais fracas frente ao dólar forte, a previsão de que a Petrobras pode estar caminhando para uma maior conflagração no Brasil não pode ser totalmente descartada.

“Isso certamente levanta questões maiores. Muitos investidores serão forçados a vender e isso pode levar a maiores liquidações no Brasil e na América Latina”, disse Gary N. Kleiman, um consultor de investimentos em mercados emergentes, ao New York Times.