Eleições 2016

“O goianiense vai escolher focando em quem é o melhor para cuidar da cidade, independente de partido”, diz Adriana Accorsi

A situação já esteve mais fácil para candidatos do Partido dos Trabalhadores (PT). Hoje, com…

A situação já esteve mais fácil para candidatos do Partido dos Trabalhadores (PT). Hoje, com a imagem negativa da gestão Paulo Garcia perante uma parcela dos goianienses e os escândalos de corrupção do governo federal, os petistas que tentam se eleger neste ano devem encarar a rejeição de grande parte da população pela legenda, ainda que seus nomes nunca tenham se envolvido em celeumas de nenhum tipo.

Porém, como aponta Adriana Accorsi (PT), não é só o seu partido que teve sua reputação manchada nas crises recentes, mas é o sistema político atual como um todo que está em cheque perante a sociedade. Justamente por isso a pré-candidata à prefeitura da capital espera que o goianiense foque no histórico e nas propostas na hora de escolher seu voto.

Ela, que hoje atua como deputada estadual, tem uma longa carreira na vida pública. Filha do ex-prefeito Darci Accorsi, na juventude atuou na militância do partido no qual é filiada ainda hoje, já foi chefe da Polícia Civil, titular da então recém-criada Secretaria Municipal de Defesa Social e é delegada licenciada. Agora, pretende encarar sua segunda eleição e garante que vai apostar em uma campanha humilde, que se ancora mais na proxidade com as pessoas do que no uso do poder econômico.

Sem um projeto de governo fechado e com as possíveis coligações ainda em discussão, a pré-candidata ressalta que seus futuros projetos não serão formatados apenas por técnicos, mas também pela população. Apesar disso, ela tem ideias bastante concretas quando o assunto é a segurança pública, área na qual ela está envolvida há muitos anos. Assim, não é surpresa que a valorização da Guarda Civil Metropolitana e sua atuação junto à comunidade seja uma de suas prioridades, bem como a criação de condições para que crianças e adolescentes possam se envolver com o esporte e a cultura como forma de escaparem da criminalidade.

Entre outras de suas propostas estão a revisão dos contratos com as empresas de transporte coletivo, o investimento na saúde preventiva e da família, e a ampliação do sistema cicloviário, visto por ela como um dos principais fatores de solução para o problema do trânsito. “Acho que tem que ampliar muito esse sistema. A população aprovou, as pessoas gostam de andar de bicicleta desde que haja a condição e a segurança”, afirma. Confira os principais trechos da entrevista:

A senhora já atuou como delegada, já foi chefe da Polícia Civil, secretária de Defesa Social e, agora, pretende deixar um mandato incompleto como deputada estadual para assumir a prefeitura. Por que concorrer a essa eleição neste momento?

Eu continuo sendo delegada, mas estou licenciada. Tenho 16 anos e meio como servidora pública na Polícia Civil e estou no meu primeiro mandato como deputada estadual. Foi a primeira eleição que disputei. Realmente eu fui convidada a ser pré-candidata pelo meu partido e também por setores da sociedade que entendem que neste momento eu seria a pessoa mais preparada. Eu acredito que posso contribuir. Estamos aí no meio deste mandato e se for da vontade da população de Goiânia, quero fazer esse primeiro mandato completo como a primeira prefeita da cidade.

A senhora tem um desafio muito grande que é reverter a imagem negativa que população tem com relação à gestão do prefeito Paulo Garcia e também dos escândalos de corrupção do governo federal. Esses fatores, inclusive, impactam nos índices de rejeição que a senhora já tem. Como reverter esse quadro?

Eu acredito que a gente atravessa um momento político extremamente complicado, não só para o Partido dos Trabalhadores, mas para a política de uma forma geral. Vários partidos têm pessoas denunciadas, investigadas. A grande maioria dos partidos tem hoje pessoas envolvidas ou acusadas por corrupção e a gente espera que todos sejam investigados e punidos conforme a legislação prevê, independente de partido. Mas eu acredito que a eleição em Goiânia foca muito nas propostas. Acredito que o eleitor goianiense quer conhecer os pré-candidatos, as suas propostas, analisar a história dos pré-candidatos e vai escolher focando em qual é o melhor para cuidar da cidade, cuidar das pessoas, independente de partido, dessa questão nacional.

Acredito também que a administração municipal teve momentos de crise, de grandes dificuldades, mas nesse último ano tem se recuperado, tem entregue projetos importantes para a cidade e acredito que a população vai perceber, analisar nossa história, analisar nossas propostas. Estamos em um momento de pré-campanha, onde a gente dialoga muito com a sociedade dentro do que essa nova lei permite. Temos feito muito isso. Conversado com a população, percorrido a cidade, conversado com setores da sociedade, o que fará com que a gente seja mais conhecido, que mais pessoas saibam da nossa candidatura, o que fará aumentar também os nossos números nas pesquisas. Mas também eu não vejo que nossa rejeição seja tão grande. Estamos numa média de rejeição… acho que as pessoas estão desacreditadas da política de uma forma geral. A gente tem que trazer, sim, uma renovação na política, avançar no sentido de uma política mais transparente, mais próxima das pessoas, para que elas se sintam mais representadas. Tem que haver uma mudança na política mesmo.

Como estão as discussões com relação às coligações?

Estamos tendo muitas conversas, mas as coligações se resolvem nas convenções. O que há agora são manifestações de apoio e diálogo com forças políticas. Nós recebemos o apoio de vários partidos, entre eles o PCdoB, e a gente espera conversar e ter mais apoios até as convenções em agosto.

adriana

A senhora já sabe como deve ser sua estrutura de campanha?

A minha campanha para deputada – a única que eu participei – foi extremamente modesta e humilde e eu acredito que assim nós devemos caminhar para a política ser cada vez menos relacionada ao abuso do poder econômico. Acredito que essa nova legislação venha nesse sentido, para a gente ter uma política mais honesta, mais próxima das pessoas realmente, até porque a honestidade tem que estar em todos os momentos, seja na campanha, seja na gestão. O afastamento do poder econômico como critério das eleições é um fator preponderante para a gente ter uma política mais honesta, então eu vejo que a gente precisa trabalhar para ter uma política cada vez mais humilde, mais modesta, que não gaste tanto, e isso para mim é normal. Foi assim para deputada e será também para prefeita. Estamos fazendo uma pré-campanha de proximidade com as pessoas, indo até elas, conversando, sem praticamente nenhum gasto.

O atual prefeito focou em sua campanha a questão da sustentabilidade e fez grandes investimentos nas rotas cicláveis em Goiânia. A senhora pretende ir pelo mesmo caminho?

Acredito que em cada época existem as prioridades que a população coloca, as principais angústias e necessidades. Hoje existem outras prioridades para a população de Goiânia. Na minha opinião a questão da saúde é um dos graves problemas, embora a gestão Paulo Garcia tenha construído muitas unidades, tenha expandido a rede de saúde do município. Eu acredito em uma política de saúde preventiva, que fortaleça o sistema de saúde na família para a gente ter realmente uma proximidade com as famílias, com as pessoas que seja uma saúde que foque na prevenção e no primeiro atendimento. Acho que a gente tem que melhorar a qualidade dos locais onde as pessoas são atendidas, primeiramente. Humanizar esse atendimento – e nisso entra a questão de valorização dos servidores, que eu acredito que seja o primeiro passo para a gente ter um bom serviço prestado para a população.

Eu acredito que o município tem que contribuir na questão da segurança pública, que é também hoje a grande angústia das pessoas que vivem em Goiânia, e o município pode contribuir muito. Por um lado, a questão da prevenção às drogas, da prevenção do envolvimento das crianças e jovens com a criminalidade. Acredito que o prefei… ou melhor, a prefeita tem que liderar a cidade no esforço contra a questão do crack em Goiânia. Acredito que tenha a condição de fazer isso, de ser o catalisador da união da cidade: comunidade, igreja, conselhos comunitários de segurança, tutelares, para a gente realmente proteger as crianças e adolescentes. Existem pesquisas e a gente estudando os homicídios, os crimes violentos na cidade, vê que muitos têm relação com as drogas. Muitas pessoas estão encarceradas hoje, homens e mulheres, em sua grande maioria jovens, por relação com as drogas, de uma forma ou de outra. Tráfico, homicídio, roubo… Acredito que a questão das drogas é primordial e a gente tem que atacar com coragem e com foco na prevenção e no tratamento, que também é função do município.

Temos que focar também na segurança comunitária. A gente tem uma Guarda Civil Metropolitana [GCM] numerosa, capacitada e temos que investir mais na capacitação e trabalhar na proximidade com o cidadão para que seja uma parceria, um auxílio às demais forças de segurança. A gente tem que ter muito cuidado com as rivalidades entre as forças de segurança porque isso é muito prejudicial. Como chefe da Polícia Civil eu trabalhei muito nesse sentido. Acredito que um líder tem que dar exemplo e eu sempre procurei fazer isso. A GCM vem, com a nova legislação, de nº 13.022, como uma nova força de segurança, mas que deve focar no policiamento comunitário e na proximidade com o cidadão, contribuindo com as demais forças.

A questão do trânsito, do transporte público, também é uma angústia da população e tem também diretamente relação com a qualidade de vida. Então, primeiro: investir no trabalho de humanização do trânsito de Goiânia. É um trânsito em que perdemos muitas vidas. Famílias ficam incompletas pela violência no trânsito de Goiânia. Eu, pessoalmente, sempre tive uma preocupação muito grande com isso, sempre tive como policial, como chefe da polícia. Além de campanhas de conscientização, toda a população, inclusive as crianças, precisa fazer intervenções no trânsito que venham a contribuir por um trânsito mais humanizado, que não tenha tanta violência, onde não percamos tantas vidas. É, inclusive, uma das maiores causas de invalidez e morte de crianças na nossa cidade. Mas também temos que investir na qualidade do transporte público porque grande parte da população, as pessoas que vivem nas periferias, as pessoas mais pobres, elas trafegam no transporte público e além dos corredores, que eu acredito que seja uma tendência no mundo, é preciso fiscalizar os contratos do transporte público porque senão não adianta. Precisamos ter um número adequado de onibus para que a população possa trafegar de forma digna, precisamos de pontualidade, qualidade nesse ônibus, manutenção das vias, fiscalização para que as mulheres não sejam vítimas de agressões e abusos no transporte público. Essa fiscalização tem que acontecer na fila, no ônibus e a gente tem que imaginar que a nossa mãe, a nossa filha está andando no ônibus. Isso para mim é muito importante, um transporte público digno, em especial para as mulheres. Existem medidas que a gente pode tomar também para que todo mundo trafegue em Goiânia com um trânsito mais humano e tenha cada vez mais qualidade de vida, para que chegue em casa mais cedo e fique com a família.

Mas e com relação às ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas? A senhora pretende continuar investindo nisso caso seja eleita?

Eu apoio totalmente. Acredito que esse seja o caminho para a qualidade de vida e solução para o trânsito. Acredito que a gente tenha que investir muito mais, levar ciclovias, ciclorrotas, ciclofaixas para as regiões mais distantes do centro para que as pessoas que vivem na periferia também possam usufruir dessa forma de transporte, que não é nova. Os trabalhadores da perfiferia – eu cresci no Jardim Novo Mundo e me lembro disso – sempre usaram a bicicleta para ir ao trabalho. Temos que fazer com que andar de bicicleta seja seguro para todos, não só para quem anda no Setor Oeste, Setor Bueno, mas também para quem vem do Jardim Curitiba, da Vila Finsocial. Que a gente faça com que as pessoas vão até os terminais de bicicleta, deixe a bicicleta lá em segurança, vá até o trabalho, e também que possam circular na sua região de uma forma segura.

Acho que tem que ampliar muito esse sistema. A população aprovou, as pessoas gostam de andar de bicicleta desde que haja a condição e a segurança. A gente precisa investir muito nisso. Para mim é uma grande solução ao lado dos corredores de trânsito. E para mim, como jurista, trabalhadora do Direito e da segurança, tem a questão dos contratos. Não se trata de brigar com os empresários, mas os contratos precisam ser revistos, de ambas as partes. Inclusive a questão da segurança no Eixo está no contrato e precisa ser cobrada.

Principais propostas de Adriana Accorsi:

– Investimento na GCM como força que deve atuar na segurança comunitária, próxima aos cidadãos.

– Utilização dos parques e praças como pontos de esporte e cultura para afastar os jovens da criminalidade.

– Parcerias com o setor privado para implementar um programa de aprendizado de adolescentes, permitindo que sejam contratados ao completarem 18 anos.

– Combate ao preconceito e à discriminação contra mulheres, negros e a comunidade LGBT levando o debate até as escolas e aproximando o governo da militância. 

– Revisão dos contratos com as empresas de transporte coletivo.

– Humanização do trãnsito e pesquisa dos locais onde mais ocorrem acidentes para que sejam feitas intervenções.

– Ampliação do sistema cicloviário para as regiões afastadas do centro da cidade.

– Planos de cargos e salários unificado para os servidores do município