Obrigatório há 5 anos, teste da linguinha é alvo de disputa
Pediatras pedem fim da exigência legal e afirmam que teste é um processo burocrático "desnecessário com redundância absoluta do exame do recém-nascido"; fonoaudiólogos defendem capacitação com "objetivo de evitar o desmame precoce"
Um teste físico simples, teste da linguinha, que verifica se o bebê recém-nascido tem ou não anquiloglossia – popularmente chamada de língua presa – é alvo de disputa entre profissionais. De um lado, pediatras acreditam que o exame físico feito após o parto é suficiente para identificar a anquiloglossia e pedem a revogação da lei que tornou o teste obrigatório. Do outro, fonoaudiólogos defendem uma capacitação para que quem examine a criança esteja atento também a isto.
Pedido de revogação
Este ano, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) pediu ao Ministério da Saúde arevogação da lei. Para os pediatras, quando o bebê nasce já é feito um exame físico completo da criança e a língua presa é facilmente identificada nesse exame, não sendo necessário um protocolo específico para a execução do teste.
“O teste é um passo burocrático desnecessário com redundância absoluta do exame do recém-nascido, que já é feito pelo pediatra na sala de parto”, diz a presidente do Departamento Científico de Otorrinolaringologia da SBP, Tânia Sih.
De acordo com Tânia, a maior parte dos casos de língua presa não demanda cirurgia, são níveis menos graves cujos efeitos na fala e na mastigação podem ser anulados com exercícios. “É raríssimo ter a língua superpresa, que é quando a língua adquire um formato de coração. Esses casos impactam no aleitamento materno e na fala. Para que ter fonoaudiólogo para constatar o que o médico já viu? Temos outros gastos mais urgentes para ser feitos com saúde”, defende.
Já Mércia defende que é necessário haver uma capacitação. Segundo ela, o exame não precisa ser feito necessariamente por um fonoaudiólogo, mas por um profissional que esteja atento a isso na hora de examinar a criança.
Diagnóstico importante
O gerente de operações Alexandre Mitchell, que viveu a situação, defende que os hospitais estejam atentos à identificação da língua presa e mais do que isso, que ofereçam solução.
O filho mais velho de Mitchell, Theo, que hoje tem dois anos, nasceu com a língua presa. O caso de Theo atrapalhava a amamentação e, consequentemente, o desenvolvimento da criança. “Ele não mamava direito porque a criança precisa da língua para fazer a sucção. Como a língua não ia até o final, não sugava leite suficiente. Causou muito estresse para nós porque ele não ganhava peso, achávamos que o problema era no leite”, disse.
A solução foi uma pequena cirurgia sem necessidade de anestesia ou de pontos. Ela foi feita quando Theo tinha 15 dias, mas chegar a essa conclusão não foi tão simples. “Foram idas e vindas, até resolvermos”, disse Mitchell. A anquiloglossia foi facilmente identificada, mas o pediatra do hospital particular de Brasília onde Theo nasceu achou que não seria necessário o procedimento. O fonoaudiólogo, achava que sim.
A família deixou o hospital e logo apareceram as complicações na hora da amamentação. Eles tiveram que buscar uma dentista, para realizar o procedimento. “É um procedimento que salva a vida dos pais, só de não ficar na agonia do filho não estar amamentando, de achar que é algum outro problema. Falta nos hospitais uma atenção maior em relação a isso. Não apenas dar o diagnóstico, mas resolver”, disse.
Ministério da Saúde
Em nota, o Ministério da Saúde não comentou o pedido da SBP. A pasta diz que tomou medidas para cumprir a lei vigente, como publicar, em 2016, nota técnica com orientações a profissionais e a estabelecimentos de saúde sobre a avaliação clínica dos bebês e a realização do teste da linguinha.
Além da identificação precoce da anquiloglossia, o protocolo busca estabelecer o fluxo de acompanhamento dos lactentes diagnosticados com anquiloglossia pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Toda criança é ou deveria passar por avaliação clínica completa como parte da rotina das equipes assistenciais, verificando assim, possíveis sinais e sintomas de doenças ou malformações”, diz a nota.
De acordo com o ministério, o exame físico de recém-nascidos é realizado de forma rotineira nas maternidades e nas primeiras consultas de puericultura, sendo portanto a avaliação realizada pelos diferentes profissionais de saúde que acompanham o nascimento e o desenvolvimento dos bebês a partir da organização dos próprios serviços e da rede de atenção à saúde local.