Onda de queimadas já atinge 68 áreas protegidas somente nesta semana
Com 72.843 focos de incêndio do início de janeiro até segunda-feira (19), o Brasil já…
Com 72.843 focos de incêndio do início de janeiro até segunda-feira (19), o Brasil já registra um aumento de 83% em relação ao mesmo período do ano ano passado, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) a partir de imagens de satélite.
Descontrolado, o fogo também avança sobre áreas protegidas. Somente nesta semana, houve 68 ocorrências somente nesta semana dentro de terras indígenas e unidades de conservação estaduais e federal.
Entre as áreas protegidas mais afetadas neste ano está o Parque Nacional de Ilha Grande (PR). Somente até a última quinta-feira (19), o fogo destruiu 32,5 mil hectares, o equivalente a 206 Parques Ibirapuera, segundo nota do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Em Mato Grosso, o Parque Nacional Chapada dos Guimarães (MT), que perdeu 12% de sua vegetação, e a Terra Indígena Parque do Araguaia (TO), localizada na ilha do Bananal, com 1.127 focos registrados desde o ano passado.
Várias das áreas protegidas com incêndio nesta sofrem com invasões e arrendamentos ilegais. É o caso da Terra Indígena Kadiweu (MS) e da Reserva Extrativista (Resex) Jaci-Paraná (RO), com, respectivamente, 39 e 16 focos de calor somente desde a segunda-feira (19).
Muitas vezes, o foco de incêndio está associado ao desmatamento. Nota técnica do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia desta terça-feira (20) mostra que os dez municípios amazônicos que mais registraram focos de incêndios foram também os com maiores.
Somados, são responsáveis por 37% dos focos de calor em 2019 e por 43% do desmatamento registrado até o mês de julho. Os municípios mais problemáticos são Apuí (AM), Altamira (PA), Porto Velho (RO) e Caracaraí (RR).
Por outro lado, há casos em que fogo é usado de forma controlada para limpeza de roça, incluindo em áreas protegidas com presença humana, como terras indígenas e reservas extrativistas.
“Todo desmatamento gera uma queimada, mas nem toda queimada gera um desmatamento”, afirma Arnaldo Carneiro Filho, pesquisador do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), com sede em Manaus.
A reportagem enviou perguntas ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, questionando sobre as razões para o aumento das queimadas, mas não houve resposta até a conclusão deste texto.
A reportagem também solicitou informações ao ICMBio sobre a situação das queimadas em unidades de conservação federais, mas tampouco houve resposta.
Mato Grosso lidera
O mês de agosto, até o momento, também está batendo o recorde dos últimos sete anos, com 32.932 queimadas, um aumento de cerca de 264% em relação ao mesmo período de 2018. O valor também é cerca de 50% maior do que o registrado no mesmo mês de 2016, o agosto até então recordista de queimadas desde 2013.
O estado campeão de focos de incêndio é o Mato Grosso, com 13.682 ocorrências, praticamente um quinto dos registros do país, aumento de 87% em relação a 2018. O governador é Mauro Mendes (DEM), próximo do agronegócio.
Em segundo lugar, aparece o Pará, com 9.487 focos até agora neste ano, explosão de 199% em relação ao ano passado. O estado é governado por Helder Barbalho (MDB), que recentemente sancionou uma nova lei de terras acusada de incentivar a grilagem e o desmatamento.
Para Carneiro Filho, o aumento não é surpresa devido ao enfraquecimento da fiscalização ambiental promovido pelo governo Jair Bolsonaro (PSL), que acusa o Ibama e o ICMBio de atuarem de forma ideológica e tem criticado os dados do Inpe que mostram aumento no desmatamento.
“Nas campanhas corpo a corpo que ele fez em Rondônia, em Mato Grosso, onde ele teve votação expressiva no ruralismo de fronteira, ele sinalizou para a expansão sobre a Amazônia, sobre territórios indígenas, questionou as unidades de conservação. Ele criou nesse público associado ao desmatamento o sinal de ‘vamos em frente, é a oportunidade’.”