O Brasil tem modelo único no mundo de organizações sociais: estas organizações atuam de baixo para cima, sem intervenções de fora, motivadas por pessoas que nasceram, cresceram e continuam morando em favelas.
Essa é a conclusão de estudo elaborado pela London School of Economics and Political Science (LSE) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil.
O estudo foi elaborado pela professora de psicologia social e diretora do mestrado em psicologia social e cultural da LSE, Sandra Jovchelovitch. O levantamento tem a coautoria da pesquisadora Jaqueline Priego Hernandez, também da instituição londrina. A pesquisa, que durou três anos, abrangeu 204 entrevistas na Cidade de Deus, na zona oeste do Rio, em Cantagalo, na zona sul, e em Vigário Geral e Madureira, na zona norte da cidade.
Foram ouvidos pela pesquisa líderes, especialistas e parceiros de 130 organizações de desenvolvimento social. As organizações AfroReggae e Central Única das Favelas (Cufa) estão entre os projetos analisados.
Intervenções
“[Líderes] organizam a partir do nada os modelos de desenvolvimento social. Pelo mundo, os modelos são muito centrados em intervenções que vêm de fora. É por isso que muitas vezes essas intervenções fracassam, porque elas não são ligadas ao lugar”, disse Sandra.
Para a professora, as organizações que atuam no exterior muitas vezes não têm a conexão com a identidade e a sabedoria do lugar onde atuam. “Aqui no Rio de Janeiro estes movimentos são muito orgânicos, muito vinculados”, disse.
Segundo a diretora da LSE, o que mais chamou atenção no estudo foi a preocupação dos moradores das favelas em trabalhar positivamente a imagem da comunidade. “Eles têm um projeto muito positivo de transformar a forma como são vistos. Para isso, atuam junto com a mídia, com o setor privado, com o governo, com estatais”, acrescentou.