União cristã

Ortodoxos e católicos de SP já buscam união cristã

A busca da unidade plena vem se desenvolvendo desde o Concílio Vaticano II, quando o papa João XXIII admitiu representantes dos patriarcados ortodoxos na assembleia de bispos católicos.

Enquanto o papa Francisco e o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, reafirmavam em Istambul, no fim de novembro, o empenho de promover a unidade plena entre os cristãos, sobretudo católicos e ortodoxos, o cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, e o arcebispo da Igreja Ortodoxa Antioquina, d. Damaskinos Mansour, mostravam, na prática, que caminham nessa direção. Nos dois casos, os participantes rezaram juntos, como se não pertencessem a igrejas separadas desde o Grande Cisma, de 1054.

D. Damaskinos participou, ao lado do cardeal, da cerimônia do Natal Iluminado, em 29 de novembro na Catedral da Sé, região central de São Paulo, e d. Odilo fez a homilia na celebração ecumênica do Advento, em 1.º de dezembro, na Catedral Metropolitana Ortodoxa, na zona sul. “Esses gestos refletem a unidade plena que se busca alcançar, na profissão de uma mesma fé e na comunhão de orações comuns”, disse o padre José Bizon, coordenador do setor de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso, na Arquidiocese de São Paulo e no Regional Sul-1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

A busca da unidade plena vem se desenvolvendo desde o Concílio Vaticano II, quando o papa João XXIII admitiu representantes dos patriarcados ortodoxos na assembleia de bispos católicos. Seu sucessor, Paulo VI, encontrou-se com o patriarca ecumênico Atenágoras em Jerusalém e, em 1965, os dois anularam a excomunhão que pesava sobre as igrejas.

“Não se trata de uma reunificação, mas de uma unidade plena, em uma volta à pentarquia do Primeiro Milênio, quando os cristãos estavam organizados em cinco patriarcados – Roma, Constantinopla Alexandria, Antioquia e Jerusalém”, explica padre Bizon, lembrando o quadro que vigorou até 1054.

Proximidade

O representante do movimento ecumênico da Igreja Ortodoxa Antioquina, padre Gregório Teodoro, da Catedral Ortodoxa, também insiste que não se busca uma reunificação, mas uma maior proximidade, com valorização do que é comum nas duas igrejas, superando as diferenças. “O encontro do papa Francisco com o patriarca Bartolomeu I foi para mostrar maior abertura ao diálogo”, disse o padre. Há resistência, nos dois lados, a essa aproximação, um obstáculo que os teólogos e os promotores do diálogo tentam afastar.

Francisco e Bartolomeu I reconhecem que é necessário resolver questões difíceis e pedem orações dos fiéis para o trabalho dos teólogos. Os pontos mais espinhosos, segundo padre Gregório, são o papel do bispo na condução da igreja e a discussão sobre a procedência do Espírito Santo na Santíssima Trindade. Os ortodoxos afirmam que o Espírito Santo provém do Pai, enquanto os católicos ensinam que ele provém do Pai e do Filho.

Quanto ao papel do bispo, é preciso deixar claro que o papa tem uma primazia de honra, mas não jurisdição sobre os patriarcas orientais.

Casamento

Se a Igreja Católica não faz exigências, ela terá de discutir questões pastorais e teológicas. Por exemplo: a imaculada conceição de Maria, a infalibilidade e o primado do papa e o casamento de divorciados. Os ortodoxos acreditam que Maria não nasceu sem pecado, mas foi purificada.

“Quanto ao casamento de divorciados, os ortodoxos admitem a segunda união, embora não sejamos divorcistas”, observa padre Gregório. A experiência ortodoxa e as justificativas que dão para admitir casais separados poderão ser levadas em consideração no Sínodo sobre a Família, que se reunirá no Vaticano em outubro.

Paroquiano da Catedral Ortodoxa, o jornalista aposentado João Bussab aplaude o diálogo de Francisco com Bartolomeu I, mas acha que o papa terá de conversar com os outros patriarcas para a unidade. É esta também a opinião do médico Michel Saccab, de formação ortodoxa e católica. Filho de sírios, ele estudou no Colégio Santo Agostinho, vizinho da catedral. “O papa está tentando apaziguar as diversas facções das igrejas, o que inclui os muçulmanos.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo