Paciente com suspeita de Covid espera mais de 24 h em telemedicina
Explosão de casos de ômicron leva a aumento de procura por atendimento virtual
Na última sexta-feira (7), às 8h, o publicitário Maurício Debon, 35, entrou na fila do serviço de telemedicina de seu plano de saúde. Outras 3.500 pessoas já estavam à espera de atendimento. Cerca de 24 horas depois, ele ainda aguardava sua vez, na 747ª posição.
Debon teve contato com uma pessoa com Covid-19 e apresentava sintomas gripais leves, como fadiga, tosse e dor de cabeça. A consulta serviria para relatar seus sintomas a um médico e ser encaminhado para realizar o exame que relevaria se havia sido infectado pelo vírus.
Porém, ele só conseguiu falar com um médico no domingo, mais de 48 horas depois de entrar na fila pela primeira vez. Agora, a nova saga de Debon é conseguir encontrar um horário disponível nos laboratórios para conseguir, enfim, realizar o exame. A data mais próxima que encontrou é nesta quarta-feira (12).
“Até lá, já devo estar bem”, diz. O caso do publicitário não é isolado, após o aumento de casos de Covid e gripe. Com os prontos-socorros lotados, muitos brasileiros recorreram à telemedicina. Mas, com a alta demanda, o sistema acabou sobrecarregado.
Segundo relatos de profissionais de setor de saúde, a procura pelo atendimento na primeira semana de janeiro foi superior à do mês de dezembro. Como mostrou o Painel S. A., no Portal Telemedicina, que conecta médicos a clínicas para oferecer consultas online, o tempo de espera dobrou em relação ao auge da pandemia, assim como o volume de demanda.
A reportagem entrou em contato com pacientes que buscaram o atendimento virtual depois de descobrirem que tiveram contato com pessoas cujo teste deu resultado positivo para a Covid-19.
A assistente administrativa Amanda Silva, 23, descobriu que teve contato com três colegas do trabalho cujo teste deu resultado positivo para coronavírus e entrou na fila da telemedicina do seu plano de saúde às 18h30 da última sexta-feira (7).
Ela notou que demoraria bastante para ser atendida, já que tinham mais de 4.600 pessoas na sua frente. No dia seguinte, às 12h, ela anda não tinha conseguido falar com um médico. Por isso, procurou uma clínica para realizar o exame.
“Eu não acho adequado ir a hospital”, afirmou ela, que estava com sintomas leves e queria também ser encaminhada para fazer o teste pelo plano. “Todos os hospitais e clínicas estão lotados no Rio de Janeiro. Eu não queria me expor e nem expor mais gente, mas tive que vir porque na telemedicina não consegui ser atendida.”
Também do Rio de Janeiro, Daniella Cardoso Linhares entrou na fila às 11h30 e só conseguiu ser atendida de madrugada. Mas, por uma falha técnica do sistema, a consulta foi encerrada. “Fiquei fula da vida. O que deveria ser um serviço emergencial se tornou um martírio”, relata ela.
Após a longa espera, ela decidiu ir ao Parque Olímpico, no Rio de Janeiro, onde foi instalado um ponto de testagem. Lá, ela conseguiu ser testada e o resultado deu negativo para o coronavírus. “Enfrentei uma fila que custou três horas e meia do meu dia, mesmo tendo convênio”, lamenta ela.
A Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde) informou, por meio de nota, que a telemedicina e consultas médicas fora do ambiente hospitalar, ainda que sobrecarregadas, dão vazão a boa parte da demanda ao ampliar o acesso e o suporte à saúde de milhares de pacientes.
“São, portanto, imprescindíveis para evitar uma maior lotação e os consequentes inconvenientes e riscos de contaminação em salas de espera de prontos-socorros igualmente acima da capacidade”, disse a entidade.