SAÚDE

Pacientes com leucemia sofrem com falta de remédios por atraso do governo federal

Ministério da Saúde prometeu repasse de medicamentos até o final de setembro, mas produtos não chegaram a hospitais

Preço dos medicamentos deve subir 10,5% em abril (Foto: Christina Victoria Craft -Unsplash)

Remédio utilizado contra a leucemia, o dasatinibe está em falta em alguns estados brasileiros por atraso na distribuição pelo Ministério da Saúde. Para lidar com a situação, os pacientes precisam mudar a medicação, mas especialistas afirmam que a troca no meio do tratamento pode causar problemas.

O dasatinibe é utilizado para tratar a leucemia mieloide crônica, uma doença que causa o aumento de glóbulos brancos no sangue, explica Angelo Maiolino, médico hematologista e coordenador do Comitê de Acesso a Medicamentos da ABHH (Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular).

A distribuição pública do fármaco é centralizada pelo Ministério da Saúde, que o importa e repassa para as secretarias de Saúde dos estados. Depois disso, cabe a elas entregar o dasatinibe aos hospitais regionais, para que os usuários cadastrados possam realizar a quimioterapia oral.

Mas esse processo não tem ocorrido normalmente em 2021. Já no segundo trimestre do ano, não foi possível atender toda a demanda de dasatinibe 20 mg, como informou o Ministério da Saúde em uma nota técnica divulgada em 8 de setembro. No terceiro trimestre, a situação piorou: segundo a pasta, não houve distribuição da versão de 20 mg e a de 100 mg foi feita com pendências.

Nessa mesma nota, o ministério informa que iniciou “o processo de aquisição com a antecedência devida”, mas que “não foi possível concluir tempestivamente” por “situações alheias e supervenientes”.

Um contrato de aquisição foi assinado em 23 de agosto com a farmacêutica Bristol-Myers Squibb, que já é a fornecedora da droga para a rede pública no país. A previsão de entrega, segundo o ministério, seria para o final de setembro.

Procurada pela Folha, a farmacêutica informou, no entanto, que a importação do remédio, processo que precisa ser solicitado pelo ministério à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), só foi autorizada em 1º de outubro —o que levou a um atraso maior. A nova previsão de reposição do remédio na rede pública não foi informada pela pasta.

Ainda segundo a empresa, antes desse novo contrato, a última remessa enviada à gestão federal ocorreu em janeiro deste ano.