Padaria recebe ameaça após chamar bolo ‘nega maluca’ de ‘afrodescendente’
Clientes foram ao local reclamar de mudança do nome, e até o presidente da Fundação Palmares criticou o episódio nas redes sociais
Quando Mauro Sérgio Proença, 56, mudou o nome do bolo “nega maluca” para “bolo afrodescendente” na sua padaria, ele não imaginava que a decisão resultaria em ameaças de um grupo de cerca de 12 clientes.
Sócio-proprietário da padaria Aveiro, na região sul de São Paulo, ele conta que a mudança ocorreu após receber um ofício do Sampapão (Sindicato dos Industriais de Panificação e Confeitaria de São Paulo).
A entidade recomendava ao comércio a alteração nos rótulos de doces como nega maluca, língua de sogra e maria mole. A justificativa é que esses nomes tradicionais já não são mais aceitos nos dias de hoje.
“Como exemplo marcante dessas mudanças de comportamento social, nomes tradicionais […] que são comercializados há muitos anos em nossas padarias, e que eram vistos até com simpatia, hoje não são mais aceitos e podem levar a constrangimentos e acusações de crime racial, machismo, preconceito”, diz o comunicado.
Proença achou que o novo nome, afrodescendente, remeteria à origem do bolo e, por isso, “não iria causar constrangimento”.
Na tarde de terça-feira (15), porém, clientes foram ao estabelecimento reclamar da mudança após a foto viralizar nas redes sociais. Eles queriam que o nome antigo fosse recuperado.
O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, também compartilhou a imagem do novo nome do bolo, em tom de crítica.
O Sindicato das Padarias de São Paulo está perseguindo, implacavelmente, o bolo Nega Maluca. Também estão na mira da patrulha politicamente correta a Maria Mole, Teta de Nega e Língua de Sogra. Querem criminalizar bolos.🤦🏽
Isso precisa acabar! ⬇️ pic.twitter.com/GrcWAwgg9M— Sérgio Camargo (@CamargoDireita) March 16, 2022
Proença diz que os funcionários do local foram ameaçados e constrangidos. Na tentativa de amenizar os ânimos dos clientes, ele mudou o nome do doce novamente, desta vez para “bolo chocoball”.
“Eles [clientes] achavam que a gente queria polemizar. Não somos obrigados a seguir [a recomendação do sindicato], falei com donos de outras padarias que não mudaram o nome”, afirma Proença.
Nesta quarta (16), porém, ele recuperou o nome original da guloseima. Agora, o rótulo contém novamente o nome “bolo nega maluca”.
Proença diz que o estabelecimento está “desorientado” e que vai falar com o sindicato sobre o episódio. “A gente não sabe se vai para a direita, para a esquerda, se sobe ou se desce”, segue ele. Procurado, o Sampapão não respondeu.
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