Pai e dois filhos morrem de Covid-19 num espaço de 10 dias na Baixada
Idoso tinha bar em Nova Iguaçu que permaneceu aberto durante quarentena. "Nossa vida é única. Se protejam, não saiam de casa, tomem cuidado com essa doença", diz filho de José Gomes de Lima, 80 anos
Numa escalada de contágio que parece não ter fim, a Covid-19 destruiu mais uma família na Baixada Fluminense. Pai e filhos tiveram as vidas interrompidas pela doença. José Gomes de Lima, de 80 anos, perdeu a batalha contra o novo coronavírus no último dia 24, no Hospital Geral de Nova Iguaçu. Seus filhos, Liliane Souza de Lima, de 51, e Leonardo Ferreira de Lima, de 44, morreram, respectivamente, no Hospital Municipal de Belford Roxo e na UPA de Mesquita, nesta segunda-feira.
Filho caçula de Seu José, o agente de saúde Leandro Ferreira de Lima, de 33 anos, tenta tirar forças da dor para amparar sua mãe e resolver a questão burocrática do sepultamento dos irmãos. O pai tinha um bar e mercearia no bairro Jardim da Viga, onde morava, e abriu o estabelecimento até um dia antes de ter os primeiros sintomas. Seis dias depois, ele morreu.
— Meu pai tinha um pequeno comércio e estava abrindo, apesar da situação. Ele ia até o Centro de Nova Iguaçu para fazer compras. Apesar da idade, era ativo. Falava que não gostava de usar máscara porque sufocava ele. Ele começou com tosse, febre e foi piorando. A falta de ar aumentou e fomos para o hospital — lembra Leandro, que levou o pai ao Hospital Geral de Nova Iguaçu no dia 24 de abril, onde ele morreu horas depois.
Três dias depois, Liliane e Leonardo começaram com os sintomas. Na quarta-feira passada, com falta de ar e cansaço, eles procuraram o polo de atendimento exclusivo para Covid-19, em Mesquita. Foi a última vez que estiveram juntos. Leonardo foi levado para a UPA de Mesquita e morreu às 5h30 desta segunda-feira. Liliane foi transferida para o Hospital municipal de Belford Roxo, onde morreu às 14h30, no mesmo dia, após ser entubada.
Leandro conta que esperava que os irmãos votassem para casa, e que falava com eles pelo celular até um dia antes da morte:
— Até anteontem, eu falava com eles. Estavam com uma expectativa boa, conversando, mas o médico disse que houve uma piora. Eu acreditava que eles voltariam para casa, mas essa doença é assim. Hoje você está bem, mas amanhã pode estar muito mal.
Leandro revelou ainda que o velório do pai, apesar de ter durado pouco tempo, foi com caixão aberto, pois a causa da morte no atestado de óbito foi síndrome respiratória aguda grave. Ele e a mãe estão com sintomas leves da doença. No hospital, enquanto liberava o corpo da irmã, Leandro fez um apelo:
— Apesar de toda a crise econômica, não há bem maior do que a vida. Nossa vida é única. Se protejam, não saiam de casa, tomem cuidado com essa doença.