‘Pânico 6’ mantém a franquia relevante, mas não tem o charme de seus antecessores
A inovação prometida ficou para momentos isolados, mesmo o filme tendo ótimas cenas de mortes e perseguições
Na última quinta-feira (9) ‘Pânico 6’ chegou aos cinemas, poucos meses após a estreia de ‘Pânico 5’, lá em janeiro de 2022. É importante já destacar o curto intervalo entre os filmes, que é coisa rara de se ver, ainda mais se lembrarmos que espaço entre o quarto e o quinto longa do Ghostface foi de onze anos. Então o que restava para esse, feito tão apressadamente? Ser um caça-níquel na sombra do sucesso do anterior? Ou ‘Pânico 6’ é mais uma ótima sequência, comprovando assim o bom desempenho dos novos realizadores da franquia?
Antecipadamente: vários pontos contam a favor considerando o universo Scream. Cada continuação refaz a mesma fórmula de maneiras diferentes e sem pretensões de reinventar o slasher, como o primeiro ‘Pânico’ fez lá em 1996. Em cada filme a pessoa, ou pessoas, por trás da máscara é diferente, garantindo assim a surpresa. Isso prende a atenção num misto de nostalgia e novidade.
E claro, é difícil uma série de filmes chegar tão consolidada no sexto capítulo (alô Jogos Mortais, Hora do Pesadelo e Halloween).
Festival promessas
‘Pânico 5’ fez mais de US$ 140 milhões na bilheteria mundial, com um orçamento de apenas US$ 24 milhões [leia a crítica]. Então era questão de tempo para uma sequência.
A previsão é que a abertura do novo longa se torne a maior da franquia, com US$ 50 milhões logo nos primeiros dias de exibição. A publicidade pesada teve desde dezenas de cartazes oficiais a uma aparição do ghostface no trio elétrico da cantora Claudia Leitte durante o carnaval.
‘Pânico 6’ também prometeu ser o “mais sangrento” de todos, com o elenco falando isso várias vezes durante a promoção do filme. E, colocando as expectativas lá em cima, era dito que este seria o mais inovador, com uma pegada diferente dos outros cinco.
Assassino de casa nova
‘Pânico 6’ é sim sangrento e possui ótimas cenas de perseguição, um dos pontos altos aqui. A sequência de abertura, um dos momentos mais aguardados pelos fãs, é um dos méritos do filme – e a abertura mais diferente dos seis longas.
A matança mudou de CEP, saindo de Woodsboro e indo para Nova York. E pela primeira vez vemos o assassino mascarado usando uma arma de fogo, numa das mudanças mais comentadas pelos fãs.
Destaca-se ainda uma cena que explora o medo de altura e outra que se passa num metrô lotado em pleno halloween.
Somos apresentados até a um santuário que celebra a essência de ‘Scream‘, com vários itens de todas as histórias anteriores. Acertaram também ao inserir o “cancelamento” da protagonista Sam e a questão das fake news em torno de um crime.
É importante avisar que quem já tiver assistido a todos os outros Scream terá uma melhor experiência no cinema. E a Sidney Prescott? Mesmo sendo a final girl mais icônica do terror, sua ausência é pouco sentida.
Seguindo a cartilha
Não raciocine demais ao assistir os filmes da franquia, pois isso pode atrapalhar a experiência. E com o novo Pânico a regra continua. Tem sempre aquele personagem que vira peneira na mão do ghostface e no fim está lá, vivinho da silva mesmo após tantas facadas. Mas aqui, isso é levado ao extremo com um dos personagens.
A inovação prometida? fica para momentos isolados. Os primeiros minutos são empolgantes, com situações que não tinham sido levadas à tela até então. Contudo, logo depois o filme volta à zona de conforto.
A já citada ambientação em Nova York não agrega em nada. Sem referências aos pontos turísticos da cidade, a trama poderia ser ambientada em qualquer outro lugar que não faria diferença.
A sequência no metrô, por mais que seja legal, é totalmente inverossímil, lembrando a abertura de ‘Pânico 2’ num cinema lotado (lembra da dica para não raciocinar demais?).
Caem as máscaras
A tão aguarda revelação sobre quem é o assassino é bem morna aqui, talvez a pior de todas. O texto facilita a descoberta até para o espectador mais desatento. Dos mais recentes, a Jill de ‘Pânico 4’ e até a Amber de ‘Pânico 5’ dão um banho no novo ghostface.
Sendo assim, infelizmente a conclusão não atinge as expectativas criadas ao decorrer do longa. A sensação que fica é de que o carisma dos protagonistas, as boas cenas de perseguição e mortes, a presença de Gale e a infundada volta de Kirby como agente da FBI (por que a personagem não retornou no ano anterior?), serviram para disfarçar o roteiro feito às pressas.
Entre facas e segredos – e telefonemas
Respondendo à dúvida se ‘Pânico 6’ é um caça-níquel na sombra do anterior ou mais uma ótima sequência, digamos que um pouco dos dois. A franquia está num dos mais altos patamares de “clássicos do horror” e pode continuar se reinventando de forma divertida e autoconsciente.
Apesar de não ser um dos melhores, o novo filme continua de maneira competente o legado de Wes Craven, morto em 2015.
Mal estreou nos cinemas e sua sequência já está praticamente acertada, tendo em vista a boa recepção que o longa vem recebendo, além da já mencionada ótima previsão de bilheteria. Resta torcer para que ‘Pânico 7’ capriche mais na trama e na motivação do próximo assassino maluco.
Só Scream faz a gente rir com a cena de alguém levando uma facada no olho. É só aguardar que o telefone vai tocar de novo.
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