Papa Francisco canoniza religioso italiano por milagre na Amazônia

O papa Francisco canonizou, neste domingo (20), 14 novos santos durante a celebração de uma missa na Praça de São Pedro, no Vaticano. Entre eles está José Allamano, fundador da congregação dos Missionários da Consolata, cuja canonização se deu por conta de um milagre ocorrido na floresta amazônica, em Roraima, no Brasil.

O milagre atribuído a Allamano aconteceu em 1996, quando Sorino, indígena da etnia Yanomami, foi atacado por uma onça enquanto caçava com seu grupo. A fera, acompanhada de seus filhotes, feriu gravemente o homem, atingindo sua cabeça e abrindo seu crânio. Após o ataque, missionárias da Consolata, presentes na região, prestaram os primeiros socorros e o transportaram ao hospital de Boa Vista, capital do estado.

A irmã Felicita Muthoni, originária do Quênia e uma das missionárias da Consolata, foi a primeira a socorrer Sorino. Segundo seu relato, o quadro do indígena era grave, e ela precisou improvisar com o que tinha em mãos para tentar salvar sua vida. Naquele momento, as missionárias pediram intercessão ao padre José Allamano para a recuperação do jovem.

Sorino foi operado pelo neurocirurgião colombiano Mario Santacruz, que ficou impressionado com a recuperação completa do paciente. “Os ferimentos eram severos, com perda de substância cerebral em várias regiões. Pela ciência, ele deveria ter ficado com sequelas graves, mas, para nossa surpresa, ele se recuperou completamente”, afirmou o médico. O caso, que não possui explicação científica, foi um dos principais motivos que levou à canonização de Allamano.

Nascido em 1851, no Piemonte, norte da Itália, Giuseppe Allamano dedicou sua vida a incentivar missões em regiões distantes, mesmo sem jamais ter saído de seu país. No Brasil, seu nome foi traduzido para José. Ele foi beatificado pelo papa João Paulo II em 1990.

Missão na Amazônia e defesa dos povos indígenas

A atuação dos missionários da Consolata na Terra Indígena Yanomami, especialmente na Missão Catrimani, remonta à década de 1960, quando o trabalho começou a focar no diálogo intercultural, valorizando e respeitando as tradições locais, sem proselitismo religioso. Segundo dom Evaristo Spengler, bispo de Roraima, a Igreja tem apoiado os Yanomami na defesa de seus direitos e na proteção do meio ambiente.

Líderes indígenas, como Júlio Ye’kwana, expressaram esperança com a canonização e pediram apoio internacional contra as invasões de garimpeiros e a destruição da floresta. O governo federal declarou emergência sanitária na região e busca mitigar os danos deixados pela contaminação dos rios e pelos surtos de doenças.

A canonização de José Allamano é vista como um símbolo de esperança e reforço do trabalho missionário na proteção e valorização dos povos indígenas da Amazônia, especialmente em tempos de desafios ambientais e humanitários.