Papel das redes sociais na eleição de Bolsonaro é tema de debate nos EUA
Ataques à imprensa e aos jornalistas durante um período de forte polarização política foi tema de debate na Brazil Conference, em Boston
Ataques à imprensa e aos jornalistas durante um período de forte polarização política foi tema de debate na Brazil Conference, evento organizado por alunos das universidades Harvard e MIT (Massachusetts Institute of Technology), em Boston, nos EUA.
Nesta sexta-feira (5), as jornalistas Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S.Paulo, Vera Magalhães, do jornal O Estado de S. Paulo, e a pesquisadora Yasodara Córdova, de Harvard, discutiram a disseminação de fake news nas redes sociais e os efeitos dessa prática na disputa que elegeu Jair Bolsonaro (PSL) presidente no ano passado.
Durante o painel “Jornalismo: os desafios da mídia em tempos de polarização”, Patrícia disse que não é possível afirmar que Bolsonaro venceu a disputa contra Fernando Haddad (PT) no segundo turno apenas em razão das redes sociais, mas é preciso observar com atenção os desdobramentos desse processo.
Na avaliação da repórter especial da Folha de S.Paulo, ações em massa no Twitter, Facebook e WhatsApp podem ser espontâneas, mas também uma tentativa de manipular a opinião pública.
“A automatização, militantes ou bots [robôs] estão inflando alguns tipos de narrativa. Isso está sendo usado e a gente [jornalista/imprensa] é vítima. É preciso ver o quanto é voluntário e espontâneo e o quanto é tentativa de manipular a opinião pública”.
Patrícia foi alvo de ataques nas redes sociais após a publicação de uma reportagem, em outubro do ano passado, que revelou que empresários impulsionaram disparos em massa pelo WhatsApp contra o PT.
A prática é ilegal porque se trata de doação de campanha por empresas, o que é vedado pela lei eleitoral, e não declarada. Após a publicação da reportagem, os advogados de Bolsonaro protocolaram no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) uma ação contra Haddad, sua vice, Manuela D’Ávila (PCdoB), o presidente do Grupo Folha, Luiz Frias, a então diretora Editorial e de Redação da Folha, Maria Cristina Frias, e Patrícia Campos Mello.
Segundo Patrícia, os jornalistas estão sujeitos a questionamentos, desde que isso não seja escalado para ameaças. Vera Magalhães, por sua vez, disse que é redutor afirmar que Bolsonaro foi eleito pelas ações nas redes sociais. Para ela, houve uma “conjunção de fatores” que o levaram ao Planalto, como a Operação Lava Jato, o desgaste da imagem do PT -envolvido em diversas denúncias de corrupção-, a situação econômica do país e, por fim, o atentado a faca que Bolsonaro sofreu em setembro.
Ainda de acordo com a jornalista do Estado de S. Paulo, a imprensa errou ao não tratar Bolsonaro como uma hipótese real de vitória e, a partir de agora, precisa expor e informar os fatos de maneira responsável, em um caminho que, para ela, ainda é de aprendizado.
“Não podemos repetir os erros. Ele [Bolsonaro] ataca a imprensa e isso não vai mudar”, afirmou Vera. “Nosso papel é expor de maneira responsável, é um caminho de aprendizado que tem erros e acertos e é um dever de casa de todos nós”.