Para historiadores, documentos da CIA provam que não houve ditadura ‘branda’
Memorando mostra que tortura e execuções de opositores eram práticas comuns a todos os presidentes da ditadura militar e que não existiu um general mais brando
A revelação dos documentos da CIA sobre a atuação de Ernesto Geisel mostra que tortura e execuções de opositores eram práticas comuns a todos os presidentes da ditadura militar e que não existiu um general mais brando, avaliam historiadores ouvidos pelo Globo.
O memorando da CIA, revelado nesta quinta-feira, sugere que o ex-presidente Geisel soube e autorizou a execução de opositores ao regime militar. Para estudiosos, o assunto já havia sido tratado em livros e na Comissão da Verdade, mas agora há uma confirmação de uma fonte exterior.
— Nunca houve uma “ditabranda” — afirma Dias.
Segundo o historiador, a revelação do memorando da CIA não surpreende quem, como ele, pesquisa o período. Dias ressalta ainda que documentos da Comissão da Verdade já davam indícios de que tortura e mortes não eram atos isolados.
— Talvez (os presidentes) não soubessem tantos detalhes, mas concordavam no sentido de que o processo de expurgo (de adversários de regime) deveria continuar — analisa o historiador.
Para o historiador da Universidade Federal Fluminense (UFF), Daniel Aarão Reis, o documento fortalece o que a o jornalista Elio Gaspari já havia escrito numa coleção de cinco livros sobre o golpe de 1964 e os desdobramentos do regime militar.
— O documento tem valor histórico porque corrobora um fato que já estava estabelecido. Eu vejo mais como uma confirmação do que o Gaspari já havia escrito ao contar que o Geisel não apenas sabia das execuções, mas também queria que passassem pelo Planalto. A irritação dele (Geisel) era mais nos casos em que se matou sem a autorização.
Reis também lembra que o assunto já havia sido levantado na Comissão da Verdade:
— A Comissão da Verdade, mesmo não tendo acesso a toda essa documentação, já havia estabelecido que a tortura e as execuções eram prática do regime.