Para membro de comissão do Enem, universidades estão ‘contaminadas pelo esquerdismo’
Gilberto Callado é procurador de Justiça e representante da sociedade civil no grupo. Frequentador de eventos monarquistas, ele diz que STF é inimigo da família
Nesta quarta-feira, dia 20, conforme O GLOBO antecipou em fevereiro, o governo criou uma comissão para inspecionar os itens da prova. O grupo será responsável por analisar as perguntas e retirar questões que teriam um “viés ideológico”.
Além de Gilberto Callado de Oliveira, a comissão que fará esse pente-fino será composta por Marco Antônio Barroso Faria, secretário de Regulação e Supervisão do MEC; e Antônio Mauricio Castanheira, diretor de Estudos Educacionais do Inep.
Em 2016, durante a abertura da VI Semana da Família, na Câmara de Brusque, em Santa Catarina, Callado versou sobre a “degradação de família”, fez referência ao livro de Gênesis — da Bíblia — e mencionou que “professores corrompidos” destroem a formação de crianças. Segundo ele, no passado, a família e a escola cumpriam sua função, mas agora isso tem sido prejudicado.
“Era fácil fazerem isso, pois recebiam a criança com bases sólidas. Hoje, elas já chegam corrompidas e, muitos professores, também corrompidos, acabam por destruir o que restava das funções educativa e a emocional das crianças” afirmou Callado na ocasião.
No mesmo evento, o procurador classificou a “ideologia de gênero” como um dos três “golpes mortais” para a família, dizendo que o inimigo da instituição familiar é o Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda em sua fala, Callado chamou o filósofo Rousseau de canalha e também criticou Karl Marx e Friedrich Engels:
“Se pudessem, eles transformariam o homem em outra coisa que não sabemos o quê. Essa degradação está refletida no Plano Nacional de Direitos Humanos criado pelo governo Lula”.
Em uma entrevista ao site “Catolicismo” em 2007, Callado fez duras críticas às universidades que, segundo ele, têm promovido ideologias de esquerda, o que acaba aumentando o cenário de criminalidade do país. O procurador, que é crítico do garantismo penal, foi contundente sobre o tema:
“Destaco a contaminação ideológica nas universidades, que vêm formando juristas e políticos com mentalidade cada vez mais liberal e esquerdizante. Vejam-se os Constituintes de 1988. Estavam desiludidos com os instrumentos legais usados pelos governos militares contra os presos políticos, e por isso criaram extenso rol de franquias para os acusados, sem dar a devida atenção às vítimas e à própria sociedade” disse.
Participação em encontros pró-monarquia
Em seu currículo Lattes, o procurador informa ter participado de pelo menos quatro “Encontros Monárquicos”, atuando em um deles como organizador. A participação mais recente ocorreu no ano passado no “I Encontro Monárquico de São Paulo. O Tempo dos Princípios e os Novos Direitos”.
Entre os artigos publicados em jornais, Callado coloca em seu currículo o texto “Cem anos sem D. Pedro II”, publicado no Diário Catarinense em 1991. O procurador menciona ainda a apresentação do trabalho “Monarquia ou República: Você decide.”, em uma palestra em 2008.
Sobre os critérios de escolha dos membros do grupo de revisão, principalmente o integrante que representa a sociedade, o MEC afirmou que “os especialistas da comissão são nomes reconhecidos na área.”