ELEIÇÕES 2020 | Autodeclaração

Pardos e pretos são maioria dos candidatos em Goiás

As disputas pelas prefeituras, no entanto, têm maioria de postulantes brancos; em Goiânia, somente uma negra concorre ao Paço. Professora explica que dados resultam de movimento de afirmação negra

Professora afirma que dados são parte de um avanço constante da afirmação negra no recenseamento geral da população (Foto: reprodução/Twitter)

No estado de Goiás, a maioria dos candidatos nas eleições municipais de 2020 se autodeclararam para a Justiça Eleitoral como pardos ou pretos. Ao todo, foram registrados junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 24.249 candidatos, dos quais 12.291 são pardos e 2.294 pretos. As candidaturas ainda passam por julgamento e os dados ainda estão em consolidação.

O número é superior aos candidatos que se declararam brancos (9.224). A maior parte é para vereadores. São 11.575 candidatos pardos e 2.207 pretos. Enquanto candidatos a vereador brancos são 8.310.

A proporção, no entanto, se inverte quando o cargo pleiteado é para prefeito. Dos 871 candidatos, 463 se considera branca, contra 357 pardos e 36 pretos. Em Goiânia, são 1.076 candidatos, dos quais 502 se autodeclararam pardos, 116 pretos e 426 brancos. Na capital, apenas Manu Jacob (Psol) se declara como negra à Justiça Eleitoral.

Neste ano, o TSE decidiu dividir recursos do fundo eleitoral de forma proporcional para candidatos negros e brancos. O IBGE usa preto como classificação de cor ou raça desde 1872. São considerado negros a soma de pardos e pretos.

Avanços

Segundo aponta a professora do Instituto Federal de Goiás, Janira Sodré, os dados são parte de um avanço constante no Brasil, desde a década de 1970, da afirmação negra no recenseamento geral da população. Ela diz que é resultante do trabalho político e educativo de descolonização mental, realizado pelos movimentos negros.

Da mesma forma, as ações afirmativas, afirma a professora, oportunizam o debate e acesso a vagas. O que também estimula a autodeclaração. No entanto, ela salienta que há muito o que fazer, sobretudo diante da baixa representatividade da população negra nos espaços de poder.

“A participação política ou a liberdade para fazer política no Brasil ainda é muito marcada pelo poder dos grupos historicamente privilegiados.  Daí a hiper presença branca e masculina. Precisamos avançar a patamares mais equitativos. Dentro da proporcionalidade étnicorracial da população goiana”, aponta.

Debate

Manu Jacob, candidata pelo Psol, avalia que o fato de ela ser a única negra em um universo de 15 candidatos é sintomático. Ela afirma que a baixa representatividade se deve a problemas históricos e cita os altos índices de feminicídio em Goiás, sobretudo de mulheres negras

Manu Jacob, candidata do PSol a prefeita de Goiânia
Manu Jacob, candidata do PSol a prefeita de Goiânia

“A maneira de fazer política em Goiás ainda é muito conservadora, ligada a grupos hegemônicos, com forte traço coronelístico. Por isso, é preciso fazer da campanha uma trincheira apontada para a periferia, para falar com mulheres que tem dificuldades de acesso a Cmeis e acessar os espaços da cidade”, diz.