‘Parece cena de pós-guerra’, diz voluntária sobre município destruído pelas chuvas na Bahia
Desabrigados convivem com a fome e com a sede, afirmam profissionais
Quando entrou no município de Dário Meira, a 323 km de Salvador, a advogada Laneyde Sampaio encontrou uma cidade destruída. Segundo ela, comércios, imóveis residenciais e edifícios públicos foram arrasados pelas chuvas, que já mataram 24 pessoas na Bahia e deixaram mais de 37 mil desabrigadas.
“Parecia cena de pós-guerra. A cidade foi devastada. Duas mil famílias estão desabrigadas. Não tem um comércio funcionando, não tem funerária, medicamento. Nós estamos tendo que distribuir água nas ruas”, diz Sampaio, que trabalha como voluntária em um grupo formado por vinte advogados. Juntos, eles distribuem quentinhas às vítimas dos temporais.
Segundo ela, um dos principais problemas que essas pessoas enfrentam é o desabastecimento de itens básicos. “Na segunda-feira, uma pessoa me pediu um copo d´água e um medicamento, porque estava sentindo dores”, conta a advogada. “A cidade não tem água para beber nem onde comprar. Foi tudo destruído.”
Com pouco mais de 10,3 mil habitantes, Dário Meira é um dos 132 municípios que declararam situação de emergência em razão dos temporais. Segundo o governo, mais de 630 mil pessoas foram afetadas pela tragédia. “É algo que a gente nunca imaginou ver. A gente assiste isso em filme, mas não perto da gente”, diz a advogada.
Para amenizar a vulnerabilidade social das pessoas, ela afirma que a solidariedade é fundamental. “A gente não pode paralisar e esperar só o governo. O momento agora é de todo mundo se unir e de a sociedade civil se movimentar.”
Foi isso o que decidiu fazer Alida Tiziane, que ajudou a criar a iniciativa SOS Sul da Bahia, que usa as redes sociais para jogar luz sobre a tragédia e colher donativos. “Eu tenho 36 anos e nunca vi nada igual. Quando você vê uma coisa dessas e vivencia esse tipo de experiência, a primeira coisa que pensa é em como ajudar”, diz ela, que mora do município de Ipiaú, um dos afetados pelas chuvas.
A advogada conta que o cenário que viu na segunda-feira (27) foi desolador e que muitas pessoas haviam perdido quase tudo. “Foi de cortar o coração. Muitos ribeirinhos não queriam sair de casa, mas ainda tinha o risco de o rio continuar subindo. É difícil ver essa situação e não se emocionar. É algo muito triste”, diz ela.
No município de Gongogi, o clima também é de tristeza. Segundo Laíra da Silva, que atua na Secretaria de Assistência Social da cidade, cerca de 128 famílias perderam tudo. Além disso, as estradas que dão acesso aos distritos da região foram destruídas, o que dificulta o resgate e assistência às vítimas.
“Ontem, de um distrito chegou uma senhora com muita fome. Quando a Defesa Civil finalmente conseguiu entrar com helicóptero, ela chegou aqui chorando de fome.” Outra questão, diz ela, está ligada à saúde mental dos desabrigados. “Fisicamente, as famílias estão bem, mas estão abaladas e preocupadas com o fato de estarem sem nada de uma hora para a outra. Então, estamos fazendo o possível para atender essas pessoas.”