CPI DA COVID

Pazuello culpa governo estadual por crise de oxigênio no Amazonas

O ex-ministro também disse que respondeu a Pfizer e que não formalizou compra da Coronavac porque não havia Medida Provisória que autorizasse

Eduardo Pazuello entra no segundo dia de depoimento na CPI que investiga possível omissão do governo federal (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Depois de passar mal e ter o depoimento suspenso na CPI da Covid-19, o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, voltou à oitiva no Senado Federal, nesta quinta-feira (20). Em seu retorno, teceu explicações acerca do aplicativo TratCov, cloroquina, vacinação, bem como sobre a crise de oxigênio em Manaus (AM). Na ocasião, ele culpou o Governo Estadual e a empresa distribuidora White Martins pela falta de oxigênio hospitalar e disse que a decisão de intervir na capital amazonense não era dele.

Segundo o ex-ministro, à época da crise, a empresa já fazia uso das reservas e não tinha deixado claro ao Ministério da Saúde sobre essa utilização.

“Somos abastecidos pelas informações das secretarias estaduais. Fica claro para mim que a preocupação com o acompanhamento do oxigênio não era foco da secretaria de Saúde do AM. No próprio plano de contingência não apresentava nenhuma medida quanto a oxigênio. A empresa White Martins já vinha consumindo a sua reserva estratégica e não fez sua posição de uma forma clara desde o início. Se a Secretaria de Saúde tivesse acompanhado de perto, teria descoberto que estava sendo consumido uma reserva estratégica”, afirmou.

A capital amazonense foi uma das cidades que mais sofreram na pandemia. No início da segunda onda da doença, a cidade entrou em colapso, registrou falta de oxigênio e alta demanda nas UTIs. O Ministério Público de Contas aponta pelo menos 31 mortes pela ausência de oxigênio hospitalar. Como alternativa, o governo estadual decidiu transferir pacientes para outros estados. Goiânia, inclusive, foi o a capital que mais recebeu amazonense, sendo 48 pacientes transferidos para cá.

Fechamento do hospital de campanha

Sobre o fechamento do Hospital de Campanha, Pazuello disse que a decisão foi do governo do estado. O Senador Eduardo Braga questionou o por quê de o Governo Federal não intervir diante da gravidade na cidade. Como resposta, o ex-ministro informou que a decisão não cabia a ele. “Isso foi levado à reunião de ministros. O governador estava presente e foi decidido pela não intervenção.”

Durante a sessão, o senador Omar Aziz reforçou que a população de Manaus foi feito de cobaia. O filho do presidente Bolsonaro, senador Flávio Bolsonaro (Republicanos -RJ), interrompeu a fala e disse que isso não existiu. O presidente da Comissão retrucou e afirmou que não há outro nome que possa definir o que foi feito na gestão federal.

Vacinas

Randolfe Rodrigues (Rede-AP) questionou Pazuello sobre a demora nas compras das vacinas da Pfizer e da CoronaVac. O ex-gestor, então, diz que respondeu oficialmente a Pfizer em 26 de agosto e que a farmacêutica trazia cinco cláusulas. Sobre a Coronavac, Pazuello disse que não havia Medida Provisória que permitisse a compra.

Nesse momento, Randolfe mostrou três cartas do Instituto Butantan sobre a compra. Pazuello insistiu na ausência da MP e nega que o episódio “Um manda e o outro obedece”, feito ao lado de Bolsonaro, foi uma coisa de internet.

Alfinetadas

O senador Otto Alencar (PSD-BA), durante seu tempo de fala, fez diversas perguntas sobre a doença. O ex-ministro não soube responder algumas delas. O político, então, retrucou: “O senhor não sabe nada da doença. Não poderia ser ministro da Saúde. No seu lugar, eu não aceitaria”.

Aplicativo TratCov

Além de falar sobre a situação de Manaus e aquisição de vacinas, o ex-ministrou também foi questionado sobre o aplicativo TratCov. Na ocasião, ele afirmou que a plataforma não era uma forma de propagar a utilização da cloroquina, mas sim uma “calculadora que facilitasse o diagnóstico.”

Pazuello comentou que a ideia da elaboração da plataforma partiu da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, a “capitã cloroquina”. Em janeiro deste ano, a secretária e o ex-ministro participaram do lançamento da plataforma na capital amazonense. Na época, a própria pasta notificou que, após a pontuação dos sintomas, o TratCOV sugere a prescrição de hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina. A sugestão do medicamento muda conforme os dados apresentados pelo paciente.

Porém, segundo Pazuello, a plataforma foi hackeada e tirada de contexto do seu propósito. Devido a isso, ele determinou que o aplicativo fosse retirada do ar. “O diagnostico clínico era muito necessário em Manaus. A ideia do projeto é uma calculadora que facilite o diagnóstico”, explicou.

Sem máscara

Eduardo Pazuello admite que errou ao entrar sem máscara em um shopping de Manaus, no dia 25 de abril. Ele disse que andou sem proteção apenas oito metros dentro do shopping e que fez isso após a máscara que tinha dentro do carro ficar inutizável. “O que acredito que causou isso tudo é a compreensão de que sou uma pessoa pública, e,  mesmo naqueles oito metros de entrada, fui mal interpretado. Peço desculpas por isso”.

O ex-ministro foi questionado se concorda com as medidas de prevenção contra a Covid. De forma mais objetiva, ele mostrou sinal positivo e falou que foi uma das pessoas que mais a propagou essas recomendações.