AUXÍLIO BRASIL

PEC dos Precatórios pode dar a Bolsonaro até R$ 35,5 bi para elevar gasto em ano eleitoral

A PEC dos Precatórios pode dar ao presidente Jair Bolsonaro (PL) um espaço extra de até…

PEC dos Precatórios pode dar ao presidente Jair Bolsonaro (PL) um espaço extra de até R$ 35,5 bilhões para gastar em ano eleitoral, estima a IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado Federal. A proposta, cuja parte final será promulgada nesta quinta-feira (16) pelo Congresso Nacional, deve abrir uma folga total de R$ 117,9 bilhões, nas contas do órgão.

Boa parte desse valor será destinada à ampliação do programa social, agora chamado de Auxílio Brasil, e à correção de benefícios previdenciários e assistenciais devido à inflação mais elevada. O valor restante, calculado em R$ 35,5 bilhões, poderá ser direcionado a outras despesas primárias do governo federal, segundo a IFI.

O Congresso carimbou a folga extra para uso em gastos obrigatórios ou vinculados à área social e à prorrogação da desoneração da folha de pagamento das empresas.

A divulgação do número, porém, pode colocar ainda mais pressão sobre o governo, que já tem precisado administrar diversos pedidos por aumento de gastos em ano eleitoral. Bolsonaro, por exemplo, tem prometido reajuste salarial aos policiais federais. O Ministério da Justiça calcula o impacto da medida em R$ 2,8 bilhões, mas o Ministério da Economia trabalha para limitar esse valor.

A projeção da IFI para o espaço total aberto no teto de gastos -regra que limita o avanço das despesas à variação da inflação- é maior do que os R$ 106,1 bilhões estimados pelo governo federal. A expansão mais significativa se deve à aceleração da inflação. Enquanto o governo prevê que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) fechará o ano em 9,7%, a IFI estima variação de 10,4%.

A PEC dos Precatórios promove duas mudanças que abrem espaço no Orçamento. A primeira delas, já promulgada, é a mudança na regra de cálculo do teto de gastos, que passa a ser corrigido pela inflação verificada em 12 meses até dezembro do ano anterior —antes, era usado o dado de 12 meses até junho.

Nas contas do governo, essa alteração liberaria R$ 62,2 bilhões, mas a IFI projeta um valor maior, de R$ 73,2 bilhões. A outra modificação é o teto para pagamento de precatórios, dívidas judiciais da União contra as quais já não cabe recurso. O limite vai permitir ao governo adiar a quitação desses débitos —por isso, a proposta ficou conhecida como PEC do Calote.

Segundo o órgão do Senado, o limite dos precatórios vai abrir outros R$ 44,7 bilhões. O governo estimava um espaço de R$ 43,8 bilhões. Um terceiro fator também contribui para a folga extra para Bolsonaro gastar em 2022. Nas contas da IFI, as estimativas do governo para as despesas obrigatórias no ano que vem estão infladas.

A despesa adicional com reajuste de aposentadorias, por exemplo, é avaliada em R$ 29,2 bilhões pelo governo. A instituição, por sua vez, espera acréscimo de R$ 17,5 bilhões. As diferenças se estendem às projeções de gastos assistenciais, com seguro-desemprego e com mínimos de saúde e educação.

A ampliação de R$ 54,6 bilhões no orçamento do Auxílio Brasil, proposta pela equipe de Guedes ao relator do Orçamento de 2022, deputado Hugo Leal (PSD-RJ), também seria menor. Na avaliação da IFI, o gasto adicional ficaria em R$ 50 bilhões.

O cenário de mais gastos também deve levar a dívida bruta do governo a retomar a trajetória de crescimento no ano que vem. O órgão espera que o indicador encerre 2021 em 82,1% do PIB (Produto Interno Bruto), subindo a 84,8% em 2022.

“A IFI destaca a perda de credibilidade associada às mudanças do teto de gastos e do regime de precatórios como ponto central a explicar a deterioração do quadro prospectivo. Não se trata de um cenário de insolvência, mas de fragilidade das regras fiscais”, disse o órgão.

A instituição também revisou sua projeção para o crescimento, na mesma direção de outros economistas e analistas do mercado financeiro. Nas contas da IFI, o PIB deve avançar 0,5% em 2022, após crescimento de 4,6% neste ano. Antes, a projeção do órgão era que a economia brasileira avançaria 4,9% em 2021 e 1,7% no ano que vem.