Pesquisadores descobrem anfíbio que fica ‘vermelho de raiva’
Na natureza não é incomum encontrar espécies da fauna que são capazes de apresentar mudanças…
Na natureza não é incomum encontrar espécies da fauna que são capazes de apresentar mudanças de coloração no tom de pele, o chamado polifenismo.
Essas variações são sutis e ocorrem, na maioria das vezes, entre cores semelhantes. Por isso o espanto de pesquisadores capixabas ao perceberem que juvenis da pererequinha-das-folhagens (Phasmahyla exilis) eram capazes de migrar de um tom de verde para a coloração vermelha em menos de dois minutos.
Tudo começou em janeiro de 2019 quando um grupo de biólogos e graduandos em biologia faziam uma visita à campo na Estação Biológica de Santa Lúcia, no Espírito Santo. A área preservada de Mata Atlântica é ideal para a observação de répteis e anfíbios, mas segundo a estudante Letícia Watanabe, de 23 anos, o encontro com a espécie foi algo especial.
“Ouvimos uma vocalização diferente e começamos a procurar por algum anfíbio. Todo mundo ficou super animado e encantado quando encontramos juvenis da pererequinha em cima das folhas. Essa é uma espécie bem rara de ser vista”.
Durante a observação dos jovens, que tinham apenas um centímetro e meio de comprimento, a mudança de cor logo foi notada. “Todas as vezes que manuseávamos os animais eles mudavam de cor de maneira muito rápida. Sabemos que a interação, por mais cuidadosa que seja, gera um estresse no bicho, então parecia que eles ficavam ‘vermelhos de raiva’ e resolvemos estudar mais a fundo o comportamento”, conta a estudante.
O herpetólogo Alexander Mônico, responsável pelo grupo, levou os anfíbios para o laboratório e seguiu acompanhando os anuros nos dias seguintes. Depois de muito estudo e análise, a pesquisa resultou em um artigo científico escrito a seis mãos recentemente publicado em uma revista internacional que descreve o comportamento da espécie como polifenismo aposemático.
“Chegamos à conclusão que esses animais mudam de cor para parecerem venenosos e se protegerem de possíveis predadores. Ou seja, é um comportamento antipredatório. É uma pesquisa e uma descrição inédita”, explica o pesquisador.
A equipe também observou que, quando um indivíduo ficava vermelho e era colocado junto ao resto do grupo, logo todos os outros também realizavam a mudança de cor. “Isso significa que possivelmente essa alteração também sirva como um mecanismo de comunicação entre eles”, explica Mônico.
O futuro agora requer novos estudos para novas descobertas. Segundo o pesquisador, é possível que este comportamento também aconteça nas outras espécies do mesmo gênero e quem sabe até em outras espécies da mesma família.
Para Letícia, pesquisas como esta ajudam não só o meio acadêmico, mas também agregam conhecimento para a sociedade. “Foi muito desafiador e gratificante poder passar por tudo isso como aluna. Acredito que nosso trabalho vai ajudar futuros estudos e ainda promover a necessidade da conservação das espécies. É aquele famoso ditado: precisamos conhecer para proteger”, finaliza.
*Com informações do G1