Economia

Petrobras perde R$ 34 bi em valor de mercado após demissão de presidente

Petrobras perdeu R$ 34 bilhões de valor de mercado desde abertura do pregão; dólar oscila

Petrobras: ações em baixa (Foto: Agência Brasil)

(Folhapress) A Bolsa brasileira operava em queda na tarde desta quarta-feira (15), puxada pelo tombo das ações da Petrobras após a troca de comando da estatal.

Às 14h51, o Ibovespa recuava 0,50%, a 127.872 pontos. Os investidores digerem a demissão de Jean Paul Prates do comando da Petrobras na noite de ontem, cujo posto será ocupado por Magda Chambriard, ex-presidente da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) no governo Dilma Rousseff (PT).

Os papéis preferenciais (PETR4) da companhia desabavam 6,14%, a R$ 38,36, enquanto os ordinários (PETR3) derretiam 7,24%, a R$ 39,82. A queda representa uma perda de mais de R$ 34,67 bilhões em valor de mercado desde a abertura do pregão.

Já o dólar, em sessão volátil, operava em alta de 0,17%, cotado a R$ 5,139 na venda, com a inflação ao consumidor dos Estados Unidos como pano de fundo.

A troca de comando foi vista com preocupação por economistas, que temem interferência política na estatal.

“O mercado nunca gosta de ingerência política sobre empresas com negócios em Bolsa. Não será diferente desta vez, até porque o Prates vinha se mostrando um conciliador entre mercado e política. O grande problema da empresa é refino: entra governo, sai governo, é sempre uma dor de cabeça”, avalia Alexandre Espirito Santo, economista da Way Investimentos.

Com Chambriard, a Petrobras terá o sexto presidente em três anos —um mau sinal para a petroleira. “Gera incerteza, e os investidores estrangeiros ficam ressabiados e vendem as ações.”

Ele pesa, ainda, a cena geopolítica no Oriente Médio, cujos conflitos têm afetado o preço do barril do petróleo. “Para piorar, teve o vai-não-vai dos dividendos. É preciso endereçar essas questões com rapidez, vamos ver como a nova presidente vai agir.”

Prates sofreu forte processo de fritura nos últimos meses, após críticas de Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, à sua abstenção em votação de proposta do governo para reter dividendos extraordinários referentes ao resultado de 2024, medida que havia sido negociada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Defendida por Silveira e Rui Costa, ministro da Casa Civil, a retenção foi aprovada no início de março e derrubou o valor de mercado da estatal. O governo acabou recuando semanas depois e aprovou a distribuição de 50% dos dividendos extraordinários em assembleia no fim de abril.

Na assembleia, o governo não só recuou como determinou estudos para que a Petrobras distribua os 50% restantes até o fim do ano, em movimento que tranquilizou o mercado e recuperou o valor das ações da empresa.

Prates ganhou sobrevida no cargo, mas a avaliação no Planalto era de que sua manutenção não duraria muito tempo.

Logo após a demissão, Prates mandou uma mensagem a assessores próximos. “Minha missão foi precocemente abreviada na presença regozijada de Alexandre Silveira e Rui Costa. Não creio que haja chance de reconsideração. Vão anunciar daqui a pouco”, escreveu.

Os dividendos são parte chave do imbróglio para o mercado, de acordo com Flávio Conde, head de renda variável na Levante Investimentos.

“[A demissão de Prates] é um sinal ruim. Significa que a ala política venceu o embate. As ações devem cair, porque boa parte dos investidores estão na Petrobras por conta dos dividendos, que estavam projetados em torno de 15% no ano. Com isso, a tese de investimento da Petrobras perde força e o risco de maior intervenção aumenta, não só pela troca de presidente, mas no plano de investimentos.”

Segundo a Genial Investimentos, Prates vai fazer falta. “Apesar de todas as desconfianças iniciais, sua gestão a frente da empresa pode ser considerada muito razoável. Em nossa opinião, o principal risco ao case diz respeito a expansão de investimentos em projetos pouco interessantes e suspensão do pagamento de dividendos”, escreveu Ygor Araujo, analista da corretora.

Para a EQI Investimentos, Magda Chambriard tem experiência comprovada no setor de energia, mas a análise é que a “capacidade de implementar mudanças radicais nos tópicos realmente importantes do caso de investimentos, especialmente no curto prazo, pode ser limitada, como a de qualquer outro CEO”.

Olhando para o mercado, a queda significativa nas ações da Petrobras pode ser uma oportunidade de compra, avalia a EQI.

“Lembramos que, independentemente do CEO, a empresa tem uma política de dividendos estabelecida e os pagamentos serão relevantes nos próximos trimestres. Este fator, acreditamos, é um robusto suporte para as ações. Estimamos que o dividend yield hoje está em 14%, sem levar em consideração potenciais pagamentos extraordinários. Uma queda mais acentuada das ações levaria tal retorno para a casa dos
20%. As ações sofrem com ruído político? Sim. Mas o acionista tende a ser muito bem recompensado.”

Os olhos também estão voltados à inflação ao consumidor dos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês).

O índice de preços subiu 0,3% no mês passado, depois de avançar 0,4% em março e fevereiro, informou o Departamento do Trabalho. Nos 12 meses até abril, o índice teve alta de 3,4%, de 3,5% em março.

Economistas consultados pela Bloomberg previam alta de 0,4% na base mensal e 3,4% na anual. O Fed trabalha com a meta de levar a inflação a 2% em 2024.

O resultado sugere que a inflação norte-americana retomou sua tendência de queda no início do segundo trimestre.

O dado é um importante indicador para calibrar as expectativas do mercado quanto à proximidade do primeiro corte na taxa de juros norte-americana, atualmente na faixa de 5,25% e 5,50%, pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).

“Todo o mercado vai precificar a possibilidade de corte de juros antes de setembro, que é o consenso neste momento, e talvez até uma chance de mais cortes de juros em 2024”, avalia Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

Outrora destaque do dia, a inflação dos EUA se tornou mais lateral no mercado doméstico conforme investidores se voltavam para o derretimento das ações da Petrobras.

“A notícia de uma inflação mais estável nos EUA não foi capaz de reverter o viés negativo da bolsa local com a notícia da troca na Petrobras”, avalia Bruno Mori, sócio-fundador da consultoria Sarfin.

Na cena corporativa, JBS disparava 7,04% e continha parte da pressão sobre o Ibovespa, após divulgação do balanço do último trimestre. A companhia registrou lucro líquido de R$ 1,65 bilhão, ante prejuízo de R$ 1,45 bilhão no mesmo período do ano passado. A maior empresa de proteínas animais do mundo superou as expectativas de analistas, que previam lucro de R$ 675,5 milhões.

A MRV também estava na coluna positiva, com avanços de 4,26%.

Na ponta negativa, CSN vinha abaixo dos papéis da Petrobras, com perdas de 3,73%. Vale recuava 0,77%, na esteira dos preços do minério de ferro na China.

Na terça-feira, o dólar encerrou a sessão em queda de 0,41%, cotado a R$ 5,130 na venda. Já o Ibovespa teve alta de 0,28%, a 128.515,50 pontos, com investidores digerindo a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) e o balanço da Petrobras no último trimestre.