Tragédia

Petrópolis tem um quinto da cidade em alto risco e revive tragédias de 1988 e 2011

Petrópolis revive agora uma tragédia que já viveu de maneiras parecidas ao menos duas vezes,…

Petrópolis revive agora uma tragédia que já viveu de maneiras parecidas ao menos duas vezes, em 1988 e em 2011. A cidade tem um quinto de seu território sob alto risco e fica na serra do Rio de Janeiro, que sofre anualmente com tempestades de verão e deslizamentos.

Há 11 anos, o município foi um dos mais atingidos pelo temporal que foi considerado um dos maiores desastres socioambientais do país. Mais de um terço da chuva daquele ano caiu em apenas 24 horas, matando ao menos 918 pessoas em toda a região.

As vizinhas Nova Friburgo e Teresópolis foram as mais prejudicadas. Assim como agora, ruas e córregos deram lugar a enxurradas de lama, e rochas e casas desceram pelas encostas. Bairros e famílias inteiras foram destruídos, somando mais de 21 mil pessoas desalojadas ou desabrigadas.

Os 94 óbitos da terça (15) confirmados até o início da noite já são superiores aos registrados pela prefeitura no último desastre (74 mortos e 30 desaparecidos). Até esta quarta-feira (16), porém, não há um número consolidado de pessoas não encontradas.

O Ministério Público estima 99 em toda a região e admite não ser possível cravar, enquanto as três prefeituras calculam 307. Outra cicatriz que segue aberta são os milhares de casas em áreas de risco que foram interditadas, porém nunca demolidas.

Tomam conta das ruínas o mato e o mofo, mas não só. Parte dos imóveis condenados voltou a ser ocupada por quem não conseguiu moradia ou discordou das opções dadas pelo poder público. Reclamação frequente também é a invasão por traficantes e usuários de drogas.

Petrópolis tem 234 locais considerados de risco alto ou muito alto para deslizamentos, enchentes e inundações, o que equivale a 18% do território e a aproximadamente 12 mil moradias, segundo o Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR) de 2018.

“Onde moro [Conjunto Habitacional da Posse] alagou tudo nas últimas chuvas. É o mesmo descaso todo ano. Não tem dragagem de rio e contenção de encosta suficiente”, disse Cláudia Renata Ramos, presidente da Comissão das Vítimas das Tragédias da Região Serrana, quando a catástrofe completou dez anos.

Já no desastre de 1988, foram contados 134 mortos em Petrópolis, também em deslizamentos de terra, desabamentos ou levadas por enxurradas. Daquela vez, um temporal causou enchentes pela manhã e foi agravado pela chuva que voltou a cair à tarde.

Nas duas tragédias, o que se viu nos dias seguintes foram cenas de destruição, com carros empilhados, asfalto arrancado, famílias sem casas e socorristas procurando vítimas soterradas.

Ambas as tempestades também atingiram hotéis e casas de luxo da região, que é turística. No desastre de 34 anos atrás, por exemplo, um dos imóveis soterrados foi a casa de veraneio do ministro da Agricultura à época, Pratini de Morais.

Diferentemente de desabamentos de casas, deslizamentos costumam ter menos chance de sobreviventes porque a lama não dá espaço para que a vítima respire até a chegada do resgate. Nesse tipo de desastre também é comum que as vítimas fiquem cobertas de terra, o que dificulta o socorro e a identificação dos mortos.

De acordo com dados do Portal Transparência do governo estadual, a gestão Cláudio Castro (PL) gastou apenas metade do previsto em orçamento no programa de prevenção e resposta a desastres no ano passado. Apenas 47% do valor foi de fato empenhado (R$ 193 milhões de um total de R$ 408 milhões).

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), afirmou nesta quarta (16) que há um “déficit histórico” na prevenção de desastres no estado e que “não se resolvem 20, 30, 40 anos em um ano” durante entrevista coletiva em Petrópolis.