PM que se recusou a ajudar jovem é alvo de ataques e misoginia em grupos de policiais, diz Ouvidoria
Nas imagens ela alega estar "de folga" para negar socorro e em certo momento chega a chutar o jovem, suspeito de ter um cometido um furto.
PAULO EDUARDO DIAS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Ouvidoria da Polícia de São Paulo demonstrou preocupação com a saúde mental da soldado Tamires Borges Coutinho Siqueira, flagrada em vídeo recusando ajuda a um jovem sob a mira de uma arma na zona norte de São Paulo, no último domingo (12). Nas imagens ela alega estar “de folga” para negar socorro e em certo momento chega a chutar o jovem, suspeito de ter um cometido um furto.
O órgão afirma que a soldado tem sido alvo de ataques em grupos de policiais em aplicativos como o WhatsApp, onde uma série de memes sobre o episódio tem ganhado ampla circulação, causando sofrimento psíquico à policial.
Diante disso, a Ouvidoria afirma que enviou um ofício à Polícia Militar sugerindo que seja produzida uma normativa, no âmbito do comando-geral, proibindo a disseminação de conteúdos depreciativos, jocosos ou que firam o moral de indivíduos, sejam policiais ou civis, em grupos dos quais façam parte PMs.
A ação ocorreu após a Ouvidoria ter sido procurada nesta sexta (18) pela Fenepe (Federação Nacional de Entidades de Praças Militares Estaduais do Brasil), que relatou a situação.
Em nota, a Ouvidoria afirma repudiar qualquer forma de violência, incluindo as de ordem psíquica e emocional. O órgão acrescentou que “tem como um de seus eixos de trabalho a saúde mental das forças policiais e não pode compactuar com procedimentos eivados de preconceitos e misoginia que, bem sabemos, tendem a crescer e causar prejuízos irreparáveis, sobretudo às mulheres”.
“A nossa busca é pelo respeito aos direitos humanos. Embora essa senhora tenha praticado um erro, quem a está agredindo com memes e ataques está cometendo crimes que precisam ser cessados”, disse à Folha o ouvidor da polícia, Claudio Silva.
De acordo com a SSP (Secretaria da Segurança Pública), a soldado Tamires Borges está afastada dos serviços operacionais até a conclusão do Inquérito Policial Militar instaurado para apurar os fatos.
A pasta chefiada por Guilherme Derrite afirma que a atitude da policial é considerada grave, uma vez que não condiz com os procedimentos operacionais e preceitos fundamentais da corporação. “Todo policial militar deve agir prontamente sempre que presenciar um crime, estando ou não em serviço.”
POLICIAL PREMIADA
Em março de 2021, Matheus de Quadros, 18, foi vítima de um golpe. Viajou 20 horas de ônibus de Gravataí (RS) a São Paulo para descobrir que seu grande amor virtual não existia. Ficou três dias dormindo no terminal rodoviário Tietê e só conseguiu voltar para casa com ajuda de policiais militares, como mostrou reportagem publicada pela Folha à época.
Entre os PMs que ajudaram o rapaz estava a soldado Tamires Borges, que participou de uma vaquinha de R$ 500 para a compra da passagem de ônibus e de alimentos para Quadros voltar à terra natal.
A soldado então ganhou da PM a Medalha do Mérito Comunitário por apoiar uma pessoa que precisava de ajuda.
“São atitudes como essa que enobrecem o bom nome da nossa gloriosa Polícia Militar do Estado de São Paulo”, diz trecho de mensagem publicada pela PM nas redes sociais, na ocasião.